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Sobre a produção e comercialização de produtos oriundos da engenharia genética.


Reginaldo Minaré

No Brasil as áreas de bicombustíveis, produção de alimentos e madeira, produção de adjuvantes como enzimas e aminoácidos e indústria farmacêutica, no universo da biotecnologia, são as que mais concentram investimentos e apresentam resultados e sinalizam como promessas futuras. Nesse universo a biotecnologia moderna ou engenharia genética tem destaque na área de produção de grãos e madeira, adjuvantes, vacinas e insulina.

Freqüentam a pauta da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio para liberação comercial, diversos produtos geneticamente modificados: feijoeiro resistente ao vírus do mosaico dourado, soja e milho resistentes a herbicidas e insetos e vacinas contra doenças aviárias (bouba, laringotraqueíte e encefalomielite). Também na pauta da CTNBio encontramos vários pedidos para realização de pesquisa de campo com eucalipto com genes para a redução de lignina, soja tolerante ao estresse hídrico, soja tolerante aos herbicidas glifosato e dicamba, arroz modificado para aumentar a produtividade, cana-de-açúcar resistente a insetos e herbicidas e cana-de-açúcar modificada visando o aumento no teor de açúcar.

A comercialização e o sucesso de produtos geneticamente modificados já desenvolvidos e em desenvolvimento seguramente dependerão de fatores determinantes diretos e indiretos, tais como: vantagem na planilha de custo dos agricultores, facilitação do processo industrial da matéria prima produzida pela agricultura e exigência do cliente por produtos oriundos de processos produtivos que incorporem práticas ambientalmente positivas. Cabe observar que a situação mundial neste século XXI é absolutamente favorável à comercialização de alimentos. Quem produzir bem certamente terá mercado, visto que o mudo conta com uma população ao redor de 7 bilhões com expectativa para 9 bilhões até 2050. Com esta perspectiva futura o mundo precisará de uma produção alimentar sem falhas e crescente, para evitar uma tragédia ímpar. Os avanços obtidos nos sistemas de produção em estufas, como fertirrigação e climatização, praticamente garantem a produção de frutas, verduras e legumes. O desafio maior, portanto, está na produção de grãos e carnes.

Neste cenário, especificamente com relação ao consumidor final, atual e futuro, um dos maiores benefícios, será a obtenção da garantia de que o avanço científico e tecnológico dará o suporte necessário ao aumento de produtividade capaz de alimentar a população nos próximos 40 anos. Efetivamente seria interessante que essa garantia ocorresse com ganhos de qualidade para os alimentos e para o consumidor final. Entretanto, será necessária uma mudança de comportamento dos consumidores e empreendedorismo para a indústria de biotecnologia criar um novo mercado. Nos supermercados e feiras os consumidores pagam mais caro por produtos orgânicos, que não contemplam os transgênicos, por acreditarem que são mais saudáveis e sustentáveis. E aí ficam as perguntas: seria possível criar um mercado diferenciado para os transgênicos? O consumidor estaria disposto a pagar mais pelo milho, arroz, feijão, trigo, aveia ou legumes com maior teor nutricional, mesmo sendo transgênicos? A indústria alimentícia conseguirá pagar mais ao agricultor que produzir esses produtos diferenciados e repassar esse custo aos consumidores? Decididamente são perguntas para as quais só teremos respostas confiáveis quando alguém propuser criar esse mercado.

Atualmente um dos principais desafios da indústria que produz transgênicos para uso na agricultura é reafirmar sua segurança e benefícios ambientais com explicações objetivas e demonstração dos resultados já obtidos. A campanha mundial contra o uso de produtos transgênicos, que foi levada a cabo na última década do século passado e na primeira década deste século, utilizou muitos argumentos falaciosos que não se confirmaram, mas foi devastadora para a imagem dos transgênicos, que precisará ser reconstruída. Outro ponto sensível diz respeito à construção de normas internacionais destinadas a regulamentar o comércio de alimentos geneticamente modificados. O Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da Convenção sobre Diversidade Biológica teve sua construção iniciada em 1995, período com ambiente totalmente negativo aos transgênicos, e a indústria que produz transgênicos para uso na agricultura e os países produtores de grãos precisam questionar a necessidade desse Protocolo e de seu Protocolo Suplementar, que poderá ampliar a criação de mecanismos burocráticos e dispendiosos que não são devidamente justificáveis pela existência de necessidade.

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