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SELIC mantida sem (?) surpresas


Argemiro Luís Brum

Sob fundo de nova alta no juro básico dos EUA (0,25 ponto percentual); nenhum encaminhamento concreto a respeito do chamado novo arcabouço fiscal nacional; elevação dos preços administrados a partir de abril (medicamentos, gasolina, diesel, gás etc...) e outros elementos importantes reunidos, o Banco Central brasileiro manteve a Selic em 13,75% ao ano. Nenhuma surpresa! E a medida está coerente com a sua postura no combate à inflação nacional, que não cede, mesmo a economia diminuindo de ritmo. Se houve alguma surpresa, ela veio do enunciado do Banco, após a reunião de março, que não deu nenhum indicativo de redução futura dos juros. Ao contrário, deixou, mais uma vez, a entender que, se as condições exigirem, não hesitará em aumentar a Selic. Tal postura deixa o Executivo Federal preocupado e os empresários pressionados, evitando realizarem investimentos. Muitos, inclusive, enfrentando situações de incapacidade para continuarem seus negócios. Mas a culpa não é do Banco Central. A culpa é, em grande parte, da sociedade brasileira e de boa parte dos ocupantes do Executivo, Legislativo e Judiciário nacionais, que se habituaram, em nossa história, à farra do dinheiro público fácil e barato, pouco se preocupando em verificar o resultado da razão receitas/despesas públicas. Os avisos têm sido constantes nos últimos anos, na esteira de outros países, inclusive os ricos. Ignorar esta realidade, apoiando governos populistas de todos os matizes ideológicos, em defesa do uso irresponsável do dinheiro público, tem sido lugar comum por aqui. Ora, não há país que se sustenta sem um controle fiscal rígido e eficiente. Assim, sem fazermos o dever de casa na área fiscal, com o governo apontando para uma trajetória sustentável da dívida pública, através de um plano fiscal crível e exequível, mudar o rumo do juro é perigoso. E usar a inflação passada como argumento, na medida em que o seu acumulado anual recua um pouco neste momento, é um grave erro. O que interessa é a inflação potencial que se desenha no horizonte, a qual não é pouca a julgar pelo que se pretende fazer em ajustes de preços e retomada de impostos. Baixar o juro básico em tal contexto é, logo adiante, piorar o quadro econômico. Neste momento, precisamos de um bem estruturado marco fiscal para dar início a uma reversão do quadro. O teremos?

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