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Produtividade de Forragem de Pastagens Nativas da Amazônia


Newton de Lucena Costa

A expressão máxima do potencial produtivo de uma gramínea forrageira nativa está diretamente relacionada com sua capacidade de adaptação às condições edafoclimátic as predominantes no local de sua ocorrência, bem como às práticas de manejo adotadas. Na seleção de uma gramínea forrageira, a distribuição estacional de sua produção é um parâmetro de grande relevância, já que a baixa disponibilidade e qualidade da forragem, principalmente no período seco, é um dos fatores que mais limita a produtividade dos rebanhos. Em pastagens nativas dos cerrados do Amapá, independentemente da freqüência da queima (anual, bienal ou trienal), Trachypogon plumosus foi a gramínea mais produtiva (1,42 t de MS/ha), comparativamente a Axonopus pulcher (0,42 t de MS/ha) e Paspalum carinatum (0,39 t de MS/ha). No entanto a melhor distribuição estacional da produção de forragem foi registrada em Mesosetum spp., que apresentou, durante o período seco, cerca de 40% de sua produção total verificada durante o ano (0,79 t de MS/ha). Contudo, quando as pastagens foram manejadas através de roçagens (anual, bienal e trienal), apesar de T. plumosus ainda ser a gramínea mais produtiva (0,76 t de MS/ha), Elyonurus sp. apresentou a melhor distribiução da forragem produzida (0,38 e 0,29 t de MS/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco). Em pastagens nativas dos cerrados do Distrito Federal, Echynolaena inflexa foi selecionada como a gramínea mais produtiva e com melhor distribuição estacional, a qual manteve a proporção entre tecido vivo e senescente, independentemente da época do ano (chuvosa ou seca), quase constante.

O estádio de crescimento em que a planta é colhida afeta diretamente o seu rendimento, composiç ão químic a, capacidade de rebrota e persistência. Em geral, cortes ou pastejos menos freqüentes fornecem maiores produções de forragem, porém, concomitantemente, ocorrem decréscimos acentuados em sua composiç ão química. Logo, deve-se procurar o ponto de equilíbrio entre produção e qualidade da forragem, visando a assegurar os requerimentos nutricionais dos animais e garantindo, simultaneamente, a persistência e a produtividade das pastagens. O crescimento de uma gramínea forrageira é representado por uma curva sigmóide, caracterizada por pequeno acúmulo de forragem nos primeiros dias após o corte ou pastejo, seguindo-se um período em que ocorre rápido crescimento, descrito linearmente - fase logarítimic a ou exponencial - e, finalmente, decréscimo no acúmulo de MS ou na altura das plantas. Em condições de casa-de-vegetação, os rendimentos de MS de Paspalum atratum foram diretamente proporcionais à idade das plantas, sendo os maiores valores obtidos com cortes aos 98 ou 112 dias de rebrota. Contudo, a partir dos 70 dias de idade, foram observados decréscimos significativos nos teores de PB, P, Ca e K. Sob condições de campo, a máxima produção de MS da gramínea foi obtida com cortes entre 56 (5,7 t/ha) e 70 dias de idade (6,4 t/ha); no entanto, os maiores valores para vigor de rebrota (produção de forragem da gramínea 21 dias após o corte) foram registrados com cortes entre 42 e 56 dias, denotando que este seria o período mais adequado para o manejo de pastagens da gramínea nas condições edafoclimátic as de Rondônia. Avaliando o desempenho agronômic o de gramíneas nativas das savanas da Venezuela, verificou-se que o aumento da idade das plantas resultou em maiores rendimentos de forragem e índices de área foliar, contudo, implic ou em decréscimos significativos das taxas absoluta e relativa de crescimento e taxas de expansão foliar. A eliminaç ão de meristemas apicais foi diretamente proporcional à idade das plantas, ocorrendo o inverso quanto ao vigor de rebrota. Independentemente das idades de corte, T. plumosus, comparativamente a Andropogon semiberbis, apresentou maiores rendimentos de MS, vigor de rebrota, taxas de expansão foliar, taxas absoluta de crescimento e índice de área foliar. Considerando-se os parâmetros avaliados, o intervalo entre cortes e/ou pastejo mais adequado, visando a conciliar produção de forragem e vigor de rebrota, situa-se entre 42 e 56 dias para a T. plumosus e A. semiberbis, respectivamente.

A produção de forragem da pastagem, notadamente as de gramíneas nativas, é incrementada com a idade de suas plantas até um ponto máximo, a partir do qual ocorrem decréscimos devido ao sombreamento das folhas basais e dos perfilhos menores, os quais passam a apresentar baixa eficiência fotossintética, pouco contribuindo para a produção total de MS, além de, potencialmente, se constituírem em drenos energéticos. Os rendimentos de MS de Axonopus barbigerus, durante o período chuvoso, foram máximos aos 112 dias de rebrota, sendo registradas reduções de 26 e 42%, respectivamente, quando as plantas foram cortadas aos 140 e 154 dias de idade. Da mesma  forma, nas savanas da Venezuela, para T. plumosus, foram estimados em 31 e 24%, respectivamente, as reduções na produção de MS, para plantas cortadas aos 72 dias, comparativamente aos 56 e 63 dias de rebrota. Em pastagens nativas do pantanal, observou-se decréscimo de 32% na disponibilidade de forragem de Axonopus purpusii, aos 120 dias de rebrota, comparativamente aos 90 dias.

O pastejo e/ou corte provoca dois impac tos principais na gramínea forrageira, um negativo e outro positivo. De forma negativa, ele reduz a área foliar da planta pela remoç ão dos meristemas apicais, reduz a reserva de nutrientes da planta e promove mudanç a na alocação de energia e nutrientes da raiz para a parte aérea a fim de compensar as perdas de tecido fotossintético. Mas de forma positiva ele beneficia as plantas pelo aumento na penetração de luz no dossel, alterando a proporção de folhas novas, mais ativas fotossinteticamente, pela remoç ão de folhas velhas e ativação dos meristemas dormentes na base do caule e rizoma (Nascimento Júnior, 1998). A carga animal tem influência direta na utilização da forragem produzida, estabelecendo interação com a disponibilidade de forragem como resultado do crescimento das plantas, da defolhação e do consumo de forragem pelos animais. O sistema de pastejo está relacionado com os períodos de ocupação e descanso da pastagem e tem por finalidade básica manter alta produção de forragem, com bom valor nutritivo, durante a maior parte do ano, de modo a maximizar a produção por animal e/ou área. Deste modo, a produção de MS das plantas forrageiras está direta e positivamente correlacionada com a utilização de práticas de manejo adequadas. Em pastagem natural submetida a diferentes ofertas de forragem (OF) (4,0; 8,0; 12,0 e 16,0%) quantificaram-se, respectivamente, resíduos de 486, 847, 1421 e 1785 kg de MS/ha. As taxas de crescimento da pastagem foram crescentes com o aumento das OF até 12% PV, sendo de 15,3; 21,5; 24,4 e 21,3kg de MS/ha/dia. A qualidade da MS, medida pelo conteúdo de PB e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) diminuiu com o aumento do resíduo. Uma relação linear entre a porcentagem de PB foi observada, com valores de % de PB de 7,8; 6,7; 5,7 e 5,5, respectivamente, para as OF de 4,0; 8,0; 12,0 e 16,0%. Utilizando as mesmas ofertas de forragem, a redução na pressão de pastejo provocou aumento no resíduo de MS. Diferentes quantidades de forragem em oferta afetaram a resposta animal, sendo que a melhor taxa de acumulaç ão de massa seca da pastagem, o ganho médio diário e o ganho por hectare foram obtidos na faixa de 11,5 a 13,4% de oferta de forragem. A qualidade da forragem foi reduzida com o aumento da quantidade de forragem em oferta.

Neste contexto, considerando-se a importânc ia econômic a e social da pecuária de corte e a abundância de recursos naturais suficientes para o fornecimento do suporte alimentar para os rebanhos, a utilização de práticas de manejo mais adequadas, em consonância com as característcas florísticas e produtivas das pastagens nativas dos cerrados de Roraima, pode se constituir numa alternativa para a maximizaç ão de sua utilização, resultando em exploração com elevados índices de sustentabilidade econômic a (maior produtividade animal e redução dos custos de produção), social (geração de renda e emprego) e ambiental (incorporação de áreas subutilizadas ao processo produtivo e redução dos desmatamentos).

Newton de Lucena Costa, Amaury Burlamaqui Bendahan (Embrapa Roraima)

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