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Paradigmas da irrigação no Brasil


Marcelo Rezende de Souza Bastos
Muito tem se falado sobre o uso da água através da mídia, onde se coloca a irrigação como o grande vilão do uso do recurso no país e no mundo. 
Dos usos consuntivos no mundo o setor doméstico contribui com 8%, o industrial com 23% e a irrigação agrícola com 69%, no Brasil o valor correspondente a irrigação agrícola está em 46%. Vemos claramente a preocupação coletiva devido a eventos graves de seca que nunca antes haviam ocorrido, como aumento de períodos de estiagem, redução de níveis de rios, entre outros.
De toda a água disponível do globo, pouco mais de 1% está disponível atualmente ao ser humano, ficando indisponíveis as fontes gelo polar e oceanos. Pensando em Brasil, 75% dessa água doce está na bacia amazônica e pouco mais do que 10% está na região sul/sudeste/nordeste., porém os dados de demanda da água se invertem entre essas duas regiões, onde a região sul/sudeste/nordeste requer 89% da água utilizada.
O ciclo da água mostra que, da sua fonte maior - o oceano, a água evapora, vai aos continentes, cai sobre forma de chuva, onde parte evapora novamente, parte vai aos rios que volta aos mares e oceanos e parte alimenta os lençóis subterrâneos, fechado o ciclo.
Estando a água disponível nos continentes, usa-se a irrigação, desde épocas remotas para produzir alimentos em locais e épocas não aptas ao cultivo e mais ao final do último século, para incrementar produções em áreas aptas ao cultivo.
Indo um pouco mais a fundo, verifica-se que cultivos irrigados são mais eficientes quando se fala em uso da água, usando-se o exemplo do feijão (fonte: Seminário Nacional de Agricultura Irrigada e Desenvolvimento Sustentável – maio 2009) em um ano úmido usa-se 3750 m³ de água para 1 tonelada de grãos comparado com 1250 m³ em sistema irrigado, isso baseia-se no fato que a distribuição correta do recurso água durante o ciclo da cultura, como fator principal mas não único, permite produções de 62% a mais de 400% maiores (Fonte: Ministério da Agricultura 2009).
A agricultura irrigada com apenas 18% da área de produção agrícola, contribui com 44% do total colhido na agricultura; daí vem o dilema, como produzir mais alimentos num cenário de escassez de água?
Estima-se que a relação de aumento de consumo de água pela irrigação até 2025 será de 1,2 vezes, comparado com 1,5 vezes da indústria e 1,8 vezes da cidade para um crescimento não proporcional a essa taxa da produção de alimentos. (Fonte: Shiklomanov 1999).
Fazendo uma comparação simples a uma empresa de bebidas que recebe seu principal componente, a água, via caminhão pipa, tira-se que quem consome á água é a empresa e não o caminhão, este é apenas um método de transporte e distribuição e não o consumidor em si. A irrigação deve ser considerada dessa mesma forma.
Ao usar a irrigação a água entra no ciclo novamente, pois parte volta ao lençol freático e parte é evapotranspirada pela planta, assim, o único consumo que há é o volume de água que ficou na produção agrícola, - ex: para o milho são os grãos- todo o restante, é somente nova ciclagem.
Em terceiro, com nossos rios contaminados pelos esgotos da cidade, a irrigação distribui essa água contaminada no melhor filtro que existe, o solo, devolvendo água limpa ao lençol freático e consumindo a parte orgânica (excluímos dessa análise os metais pesados).
Conclui-se que a irrigação apenas é um método de aproveitamento da água e não a responsável pelo consumo, que a pressão pelo seu uso em algumas áreas leva ao aumento da eficiência dos métodos e sua migração para fronteiras agrícolas, que a irrigação aumenta a eficiência do uso do recurso água e por fim que práticas conservacionistas do meio ambiente e do solo, redução do desperdício nas cidades, tratamento de resíduos industriais e municipais, garantirão que a água chegue aos seus cursos naturais na quantidade e qualidade adequados a sustentabilidade da vida no planeta.

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