CI

O vendedor de agroquímico e o médico de família


Alexander Silva de Resende
Me lembro de uma palestra do professor Eurípedes Malavolta, grande especialista em nutrição mineral de plantas, falecido em 2008,  em que no afã de uma discussão ideológica, disse: "Eu nunca vi um médico chamar um antibiótico de homotóxico, então por que chamar agroquímicos, de agrotóxicos?" Dr Malavolta foi um dos grandes responsáveis por gerar informações sobre a curva de absorção de nutrientes de uma série de culturas, o que possibilitou utilizarmos, de forma mais adequada, fertilizantes sintéticos.
Mas o assunto que quero tratar é extensão rural. A extensão rural pública no Brasil já passou por momentos melhores. Atualmente o que se percebe é uma redução do quadro desses profissionais e pior, uma limitação das condições de trabalho na maioria dos estados brasileiros.
Por outro lado, boa parte da assistência técnica vem sendo substituída por profissionais ligados a venda de produtos agropecuários. É bem comum, ao irmos em lojas agropecuárias, vermos clientes perguntando aos vendedores: O que você me recomenda para combater tal praga? Você conhece essa doença? O que faço para acabar com ela? Sua experiência, fotos, partes vegetais e até a descrição detalhada do cliente, são algumas das informações que esses profissionais dispõem para fazer a recomendação. Produtores maiores, tem a sorte de serem visitados por esses profissionais, que sempre acabam fazendo recomendações e prescrevendo receitas para resolver o problema apresentado por seu cliente.
Essa situação me faz lembrar de um pediatra da minha família, já bem idoso, Dr João, que sempre falava para os pais de primeira viagem como reconhecer e separar o choro de fome, do choro de dor de um recém nascido. Dr João falava: Choro terminado em "a" e "e" é fome, choro terminado em "i" e "u" é dor.  Impressionante! Funciona!! Imagino quantas ligações de pais inseguros e desesperados ele evitou receber com essa simples dica!

Dr João não gostava de antibióticos... Só recomendava em casos extremos, pois dizia que poderia causar resistência e quando a situação fosse mais séria, o patógeno poderia acarretar em problemas maiores... Grande Dr João!

Por outro lado, o Brasil está entre os maiores consumidores de agroquímicos do mundo. Será que nossos técnicos extensionistas estão sabendo separar o "choro" da nossa agricultura?  Será que as recomendações de agroquímicos são feitas só quando de fato não temos outras alternativas?

Puxa Dr João, por que você não se especializou em agricultura...
 
Grande abraço e até a próxima! 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.