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O comportamento materno em bovinos



Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Azevedo – Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

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Parnaíba, 11 de abril de 2008. Em bovinocultura de corte, em que o bezerro permanece com a mãe até a desmama aos seis a oito meses, é claro intuir-se a maior importância das relações materno-filiais logo após o nascimento e, também, toda a habilidade materna da fêmea. No entanto, em bovinocultura de leite pouco tem sido estudado sobre este assunto, uma vez que o filhote é separado da mãe logo após o parto.

Reunindo-se dados em literatura especializada, percebe-se que em bovinocultura leiteira os estudos restringem-se quase que totalmente às relações materno-filiais logo após o nascimento ou apenas nas primeiras 24 horas, considerando-se primordial somente a mamada do colostro até seis horas após o parto, para que o nível adequado de imunoglobulinas no sangue seja atingido. Neste sentido, alguns trabalhos demonstram que as concentrações séricas de imunoglobulinas são superiores naqueles bezerros que ingerem o colostro de suas próprias mães, ao invés de consumi-lo em baldes.

Em relação ao padrão de comportamento normal de parição, a literatura parece concordar que as alterações de comportamento não devem ser utilizadas para prever com precisão o momento do parto, visto quem podem iniciar-se desde dias até poucas horas antes do nascimento. No entanto, percebe-se com clareza que as vacas tornam-se irrequietas, aumentando suas atividades de locomoção. É comum a fêmea afastar-se do restante do rebanho. Bem próximo ao parto, as vacas ficam ainda mais inquietas, andando e até mesmo trotando, deitando-se e levantando-se, além de interromperem suas atividades rotineiras, como a alimentação e a ingestão de água.

Ao ocorrer a primeira descarga de líquido amniótico, as vacas tornam-se mais calmas e lambem este líquido até o momento do parto realmente. As vacas podem parir em pé ou deitadas, sendo o primeiro caso o mais comum. Em ambos os casos, a fêmea leva algum tempo para iniciar os cuidados com seu filhote. Esse tempo é menor nas vacas mais experientes, que pariram anteriormente, podendo variar de poucos minutos nestas a até meia hora a quarenta minutos em novilhas.

Do nascimento até aproximadamente três ou quatro horas após o parto, as vacas ocupam-se de várias atividades. A primeira delas é cheirar e tocar o bezerro, o que provavelmente está relacionado ao reconhecimento da cria pela mãe e o estabelecimento do vínculo entre ambos. Uma segunda atividade é lamber o bezerro. Este comportamento tem sido associado à estimulação da circulação dos recém nascidos e à facilitação da termogênese (produção de calor), além de fortalecer o vínculo entre a mãe e a cria, iniciado com as “cheiradas”. Fêmeas de primeira cria (novilhas) demoram mais também para lamber seus bezerros e aceitam bem o auxílio de fêmeas mais velhas e experientes nessa atividade, sem demonstrar rejeição pelo filhote.

Os bezerros recém-nascidos têm sua sobrevivência e aptidão diretamente relacionada com sua capacidade de se levantar mais rápido, localizar as tetas de suas mães e mamar mais rapidamente. Os sons emitidos pelas mães parecem estimular os bezerros a se levantar, além de funcionar como um “imprinting” ou estampagem, visto que os mesmos são capazes de reconhecer o chamado de suas mães, como freqüentemente observado em propriedades leiteiras com retirada de leite com bezerro ao pé da vaca.

É importante notar que, mesmo que ao tratador seja recomendado apenas observar e não intervir nos cuidados da vaca para com sua cria, sob pena da mesma rejeitar seu filhote, em dois casos particulares, uma ajuda pode ser bem-vinda. No caso de fêmeas mais velhas, que têm em geral o úbere em formato pendular, o filhote pode ter dificuldade de abocanhar a teta da mãe, demorando mais tempo para ingerir o colostro. Da mesma forma, as novilhas, pela própria falta de experiência anterior, têm uma maior tendência em afastar suas crias de suas tetas, dificultando a amamentação. Nos dois casos, a ajuda do tratador pode ser bem-vinda, desde que restrita a estes momentos.

Apesar de termos ressaltado que novilhas podem aceitar que outras fêmeas tenham comportamentos carinhosos com suas crias (cheiradas, toques, lambidas), o mais comum é que a vaca restrinja o contato de outras fêmeas com seu filhote e, também, que evite a proximidade de outros bezerros, em possíveis tentativas para roubar leite. É importante também frisar que se um recém-nascido consegue mamar em outra vaca que não sua mãe, a sua ingestão de colostro pode estar comprometida e, portanto, a sua taxa de sobrevivência e seu desenvolvimento adequado.

Desta forma, podemos destacar que o comportamento de vacas e seus filhotes durante e logo após o parto influenciam tanto o desenvolvimento da cria quanto o desempenho da fêmea em seus futuros partos. Assim, o manejo “do parto e do cuidado com as crias” a ser adotado na propriedade é importante também para a redução nos custos, visto que o manejo está intimamente relacionado com a mão-de-obra necessária no futuro, utilizada, por exemplo, para cuidar das crias rejeitadas na tentativa de reduzir a taxa de mortalidade de bezerros.

Bibliografia

CAMPOS, O.F., LIZIERE, R.S. Criação de bezerras em rebanhos leiteiros. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 142p.

OLIVEIRA, M.S. Cria e recria de bovinos leiteiros. Jaboticabal: Funep, 2001. 180p.

PARANHOS DA COSTA, M.J.R., CROMBERA, V.U. Comportamento materno em mamíferos: bases teóricas e aplicações aos ruminantes domésticos. ETCO/SBTe: Jaboticabal, 1998. 272p.

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