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O Brasil e o multilateralismo


Argemiro Luís Brum

O governo Lula vem retomando de forma consistente as relações multilaterais do país com o resto do mundo. Entre discurso na ONU, reunião do G20, reunião do G77 e reunião dos BRICS, os primeiros nove meses de 2023 foram intensos. De fato, precisamos reposicionar o país no contexto mundial depois de nos autodenominarmos “párias” internacionais no governo anterior.

Os efeitos de tais reuniões levam tempo para surgirem, porém, os encaminhamentos feitos na última reunião dos BRICS merecem algumas reflexões, muitas já destacadas no cenário nacional, mas que precisam ser aqui lembradas: 1) seis novos países entraram no Grupo a partir da reunião realizada na terceira semana de agosto de 2023: Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia; 2) a entrada oficial, cumpridas certas exigências, será a partir de 1º de janeiro de 2024; 3) com isso, não se pode mais chamar o Grupo de “Países Emergentes”, pois alguns deles estão longe de apresentarem economias emergentes. Trata-se de uma ação de interesses específicos de alguns países membros e entra no contexto da ideia do SUL GLOBAL; 4) a China forçou a entrada da maioria dos países indicados. O Brasil, como consolação, colocou a Argentina, e a África do Sul precisando colocar um país africano, acabou indicando a Etiópia; 5) o Brasil foi reticente, mas vencido.

Deverá perder poder político interno no Grupo; 6)    Brasil, Índia e África do Sul, para aceitarem a ampliação, pediram uma declaração clara, da China, em favor de suas entradas no Conselho de Segurança da ONU. A declaração veio ampla, e longe de ser clara; 7) China e Rússia saem ganhando com esta ampliação. A primeira por questões econômicas, a segunda por questões geopolíticas após seu isolamento devido a guerra contra a Ucrânia; 8) pode ser um enfrentamento ao G7, como afirmam alguns, porém, ainda está indefinido. O Brasil nega que essa seja a intenção; 9) o mundo não é mais unipolar, bipolar e mesmo tripolar (trilateral). Está cada vez mais multipolar; 10) G7, G20 e a ordem liberal dos EUA estariam sendo postos em xeque? 11) estamos diante de um Grupo formado por uma maioria de países ditatoriais, portanto longe de ser democrático; 12) a possibilidade de uma moeda única, para transações internas (remimbi, rublo????), pode ser uma vitória para a Rússia, diante das represálias financeiras devido a guerra que provocou; 13) lembrando que os membros do Conselho de Segurança da ONU não têm nenhum interesse em ampliar o Conselho; 14)    a entrada de países ricos em petróleo fortalece o Novo Banco De Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS (os Emirados Árabes Unidos já são sócios do banco); 15) a falência da Argentina pode ter substancial contraponto a partir da ajuda deste Banco; 16) agora o Grupo passa a ser chamado de BRICS+; 17) que vantagens as populações destes países tiram com o Grupo? É preciso esperar para ver se há vantagens de fato. Por enquanto, o movimento está mais para um jogo de poder entre os governos; 18) EUA e União Europeia se preocupam com o movimento, pois o Grupo estaria se tornando uma agremiação que comunga, na maioria, de ideais antiamericanos e/ou antiocidentais; 19) a participação de alguns países, dentre eles Brasil, Argentina, África do Sul e Índia, depende dos governos eleitos. Ou seja, dependendo do que a Argentina escolher em outubro/novembro, pode não aceitar participar; 20) enfim, a diplomacia brasileira se sente incomodada com este encaminhamento, pois o interesse da China, segundo nossos diplomatas, é a formação de um bloco cada vez mais antagônico ao Ocidente e ao G7.    

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