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Recuperação de pasto avança, mas abaixo da meta em MT



Bruno Cirillo

Pesquisadores descobrem que território total ocupado pela população bovina é menor do que se pensava, o que reflete uma eficiência maior da pecuária de corte no estado

Uma pesquisa inédita revela que o Mato Grosso, principal fornecedor de carne bovina do país, recuperou 1,5 milhão de hectares de pastagens degradadas pela criação de bois em 2022, algo entre um Líbano e Israel, ou o equivalente à área do Timor-Leste em território de pecuária extensiva. A degradação de novas áreas, no entanto, foi de 1,8 milhão de hectares no período, deixando um saldo negativo de 320 mil hectares para as metas de recuperação do solo no estado.

A coordenadora de campo do estudo, Nathalia Monteiro Teles, explica a importância dos números. “A maior oportunidade para o Brasil mitigar a emissão de gases do efeito estufa está na recuperação de pastagens”, disse ela no início de setembro, quando o relatório foi divulgado em reunião fechada do comitê de estratégias Produzir, Conservar e Incluir (PCI), criado após o Acordo de Paris em 2015 e que envolve governo, entidades e grandes empresas do agronegócio, como a Marfrig e a Amaggi.

Entre outras metas para a agricultura no estado, a entidade visa a recuperar 2,5 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030. No acumulado de 2016 até o último ano, os pecuaristas mato-grossenses investiram na revigoração, melhoria e conversão em área agricultável de 4,5 milhões de hectares, o que por si só já teria ultrapassado a meta estabelecida em função da COP-15, porém ao mesmo tempo a degradação atingiu 6 milhões de hectares, resultando num déficit de 1,6 milhão.

"A degradação de pastagens está acontecendo num ritmo mais rápido do que a recuperação nos últimos sete anos", constata o gerente de projetos do PCI, Ricardo Woldmar. A boa notícia, segundo ele, é que o estudo do Lapig permitiu acesso a dados mais confiáveis sobre as áreas de pastagens no Mato Grosso.

“Com esse mapeamento, descobrimos que existem 17,7 milhões de hectares de pastagens no Mato Grosso, em vez dos 20,1 milhões apontados pelo Mapbiomas. Consequentemente, concluímos que a pecuária do estado é mais produtiva do que imaginávamos (a mesma produção é realizada numa área menor)”, afirma Woldmar.

Com esse mapeamento do Lapig, descobrimos que existem 17,7 milhões de hectares de pastagens no Mato Grosso, em vez dos 20,1 milhões apontados pelo Mapbiomas. Consequentemente, concluímos que a pecuária do estado é mais produtiva do que imaginávamos (a mesma produção é realizada numa área menor) - Ricardo Woldmar (gerente de projetos do PCI)

É essa área, do tamanho do Uruguai, que compreende o maior rebanho bovino do Brasil,  com 34,4 milhões de animais (cerca de 15% das reses no país) – este número, por sua vez, equivalente à população humana da Arábia Saudita. O estado produz cerca de um milhão de toneladas de carne (17% do total), segundo os últimos dados do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea-MT). As exportações chegam a 605,4 mil toneladas em equivalente de carcaça em 2022, com alta de 36,6% na produção e faturamento de US$ 2,75 bilhões – o PIB do Timor-Leste.     

Presente na reunião do último dia 5, o engenheiro agrônomo Fábio Braga Peixoto utilizou as informações do Lapig para fazer uma primeira estimativa do potencial de expansão da agricultura sobre as áreas de pastagem degradada. O Mato Grosso tem 12,6 milhões de hectares de pastagem com algum nível de degradação, 26,5 milhões de hectares de terras com boa aptidão para lavora mecanizada, dos quais 6,8 milhões de hectares são pastagens degradadas (25,5% dessa segunda área), de acordo com o assessor especial do governo. “Ou seja, os números indicam que é possível expandir a área de agricultura em áreas de pastagens degradadas e assim cumprir as metas da PCI até 2030”, endossa Woldmar.

Realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Inovação e Gestão (Lapig-UFG), a pesquisa custou cerca de R$ 120 mil e foi financiado pelo Instituto PCI via recursos do Programa REM (governos da Alemanha e Reino Unido). O trabalho também contou com cofinanciamento do Instituto Mato Grossense da Carne (IMAC). O relatório final será disponibilizado no site do PCI até o final do mês (www.pcimt.org) – a apresentação do início de setembro está neste link.

Capim alto em Rondonópolis

A propriedade do pecuarista Ricardo Lima Carvalho, de Rondonópolis (MT), é um exemplo de pastagem altamente produtiva. Nos últimos dois anos, o produtor investiu na recuperação de 350 dos seus 800 hectares, onde pastam 1,7 mil bois gordos. “As terras minhas são muito férteis. Então a porcentagem de área degradada é praticamente zero. Foi feita análise de solo, em cima dela pediu somente adubação com ureia”, conta o produtor, que pretende aplicar cem quilos do nitrogenado em 100% da pastagem esse ano, uma vez que o insumo está mais barato e, portanto, a rentabilidade será maior.

Carvalho observa que existe um potencial altíssimo para aumentar a produtividade dos pastos no Mato Grosso. Porém, esse acaba sendo justamente um dos problemas que o produtor vem enfrentando hoje. “A eficiência do pecuarista tem ofertado muito boi para frigorífico. Todos investimos em adubação, rotação de pastagem, cerca elétrica e isso vem trazendo para o próprio preço do boi um problema, pois acontece que a arroba do boi só faz baixar”, explica.

Na avaliação de especialistas, além disso, ainda falta conhecimento e assistência técnica para que o investimento na correção de pastagens seja mais duradouro. “É como se fosse uma sanfona: ele corrige, mas depois degrada de novo, num período curto. As pastagens no Mato Grosso e Brasil de modo geral acabam vivendo esse efeito”, observa um porta-voz da Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato-MT).

Empecilho, no entanto, não há. “Basta a pessoa querer fazer, devagarzinho ela vai aumentando as áreas que tem mais potencial na fazenda, explora mais, rotacionando com adubação. Começa com 10%, passa para 20% no outro ano, 30%, 35%, depois com um planejamento bem-feito ele está com toda a área com maior pastejo, melhor qualidade de pastagem, maior ganho de peso. O empecilho hoje pode ser financeiro. Com essa queda do boi, o empecilho talvez seja o preço do boi para dar esse retorno”, conclui o produtor de Rondonópolis, município que lidera as exportações do estado.

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