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Maré baixa


Opinião Livre
O já famoso adágio costumeiramente dito pelo bilionário norte-americano Warren Buffett ‘quando a maré baixa é que se vê quem estava nadando nu’ cabe perfeitamente como ilustração do que se vê na indústria brasileira e seu desempenho frente à concorrência internacional nesses dias de hoje. Enquanto uma grande parcela de economistas e políticos ditos de esquerda anuncia veementemente que a desvalorização do real frente ao dólar seria, como num passe de mágica, a solução de todos os problemas da manufatura brasileira, esquecemos daqueles que são os principais motivos de nosso atraso comercial e industrial.
Ao longo da última década, o Brasil e seus colegas emergentes surfaram em uma onda de otimismo exacerbado devido à impressionante demanda por nossascommodities (desde as agrícolas até as minerais) e ao interesse intenso por nossas taxas de juros tão atraentes em tempos de crise econômica e financeira nos países conhecidos como desenvolvidos. Agora que a “maré baixou”, o capital que aqui veio beneficiar-se durante as épocas difíceis começa a vazar no sentido contrário e, com a chegada de um período no qual a demanda global por commodities será menor, o Brasil volta a deparar-se com a necessidade de maior comércio com o resto do mundo. É lógico que com nossa moeda enfraquecida nossos preços ao comprador externo seriam menores e, portanto, seríamos mais competitivos. Entretanto, esta é uma opção suicida de competição que levará cada vez mais a produzirmos bens de baixa qualidade para mercados cada dia menores. Ocorre que nossa produtividade e competitividade real está há anos comprometida por uma carga tributária horrenda, burocracia fora do comum e condições de infraestrutura e logística quase medievais. Conforme dados divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan),  mais de 30% do custo da energia para o setor industrial é de impostos e encargos. Ao mesmo tempo, segundo o Banco Mundial, uma empresa de porte médio no Brasil gasta 2.600 horas por ano calculando, preenchendo formulários e pagando impostos, muito mais do que em outros importantes países emergentes. Soma-se a tudo isso a precariedade da infraestrutura logística do país que, segunda a revista Veja, na comparação direta com mercados como Rússia, China e Índia, o País tem a pior malha – seja em extensão, seja em qualidade – em quatro dos principais canais logísticos estabelecidos: rodoviário, ferroviário, hidroviário e de dutos.
Ora, se temos todos estes problemas a resolver, sem contar nossas deficiências em educação, alimentação, segurança pública e saúde, que diabos estivemos fazendo nestes últimos 10 anos? Investindo em estádios de futebol? Convenhamos, estivemos nadando pelados há muito tempo e ninguém percebia.
Mauricio Fontana
Economista e gestor de fundos de investimentos

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