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Javier Milei e a realidade


Argemiro Luís Brum

A posse de Javier Milei na presidência da Argentina, no dia 10/12, trouxe importantes aspectos. Tornou-se evidente que a emoção da campanha eleitoral ficou para trás. A racionalidade esteve mais presente. Confirmou-se que a Argentina está quebrada: “no hay plata”. Somente os ingênuos acreditavam no contrário. As primeiras medidas anunciadas demonstram que o remédio será muito amargo e ministrado por longo tempo. Milei informa que a sociedade argentina deve esperar os primeiros resultados positivos de suas medidas apenas daqui a dois anos. Resultados estes que estão no campo das incertezas. E somente virão se a sociedade e o Congresso locais (sendo que neste último ele possui uma minoria acachapante), aceitarem e/ou aguentarem esperar por 24 meses para ver algo melhor na economia do país. Afinal, como ele bem disse, em situações extremas deste tipo “o quadro ainda irá piorar mais para depois melhorar”. Além disso, será preciso cuidar para que a dosagem do remédio seja adequada, suficiente para dar conta da “grave doença”, sem matar o paciente. Dentro da racionalidade que a realidade exige, pouco ou nada se falou de fechar o Banco Central ou dolarizar a economia. Mas sim, foi dito que o Banco Central estará proibido de emitir moeda por tempo indeterminado. Afinal, é a emissão de moeda que ajuda a alimentar a inflação, em um país em que a produção está em recessão. A medida pode ser correta, porém, de onde a Argentina tirará recursos para girar, se não tem reservas e não emitirá moeda? Além de algum apoio externo, via empréstimo, provavelmente a esperança é aumentar as exportações e frear as importações, gerando um superávit comercial que alimente esta economia. Mas isto tende a ser insuficiente, além do fato de que limitando as importações há forte tendência de aumentar a inflação interna, algo que se quer combater. E nesse meio tempo o peso pode sofrer, ainda, novas pressões no sentido de desvalorização, o que alimenta ainda mais o custo das importações. Enfim, o remédio indicado, de forte controle e redução do gasto público, é correto. A questão está nos efeitos socioeconômicos de sua aplicação. Passada a festa populista, o povo argentino cai na dura realidade que o cerca: será dificílimo consertar o estrago de décadas e não há nenhuma certeza de que o novo governo conseguirá aplicar o remédio adequadamente.

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