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Inflação perigosa (I)


Argemiro Luís Brum
Contrariamente ao que uma determinada corrente de pensadores defende, a inflação brasileira, no atual estágio (6,41% em 2014 e 7,14% nos últimos 12 meses – fevereiro/14 a janeiro/15), é muito elevada. Isso porque, no contexto da estabilidade econômica que se conseguiu a partir de 1994 (e hoje ameaçada), os preços não podem fugir ao controle, comprometendo a estratégia da meta inflacionária, instrumento reconhecido mundialmente pela sua eficácia. Além disso, deixamos longe o tempo da hiperinflação destrutiva e ninguém mais o deseja de retorno. Assim, os governos trabalham para manter o aumento dos preços em torno de uma meta central (no Brasil, 4,5% ao ano pelo IPCA), sendo que as margens superiores e inferiores (dois pontos percentuais para cima ou para baixo no caso brasileiro) devem ser exceções e não a regra. Além disso, o setor produtivo e o governo devem trabalhar (preços de mercado e administrados) para que seus produtos oscilem naturalmente, sem artifícios especulativos ou eleitoreiros. Ora, aqui no Brasil, nos últimos anos notamos que tais artifícios têm sido muito usados, gerando uma inflação inercial que penaliza toda a sociedade e particularmente os mais pobres. Nesse início de 2015 é o que assistimos de forma mais aguda, apesar de o processo vir se acumulando ao longo dos anos recentes. Estudo do IBGE nos mostra que de 2005 a 2014 a inflação oficial ficou em 69,34% enquanto os preços dos alimentos (o que conta de fato para o cidadão) subiram 99,73%. Em Porto Alegre, uma cesta básica criada pela PUC indica que, nos últimos cinco anos, seu custo subiu 61%, contra uma inflação oficial de 37,6% no período. Na região de Ijuí, somente em janeiro/15, a cesta básica calculada pela Unijuí subiu 5,85% em relação a dezembro. Ou seja, o governo está perdendo o controle da inflação, provocando um aumento muito superior nos preços diários do cidadão do que a média oficial. Em grande parte, esse problema brasileiro se encontra no erro sistemático do governo em frear artificialmente os chamados preços administrados, particularmente os combustíveis e a energia elétrica. Tal estratégia foi usada para estimular o consumo, no contexto da grande crise econômico-financeira de 2007/08, porém, sem que tivéssemos infraestrutura suficiente para respondermos a esse aumento de demanda. Com isso, o governo gerou um déficit enorme junto à Petrobrás e ao setor elétrico, sustentado por subsídios (dinheiro do contribuinte) até o final de 2014. Isso piorou sensivelmente as contas públicas não havendo mais espaço para tal aventura. Resultado: tais preços administrados estão sendo agora atualizados, porém, em uma velocidade muito grande, causando um enorme choque no custo de vida do brasileiro. (segue)
 
 

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