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Etanol Celulósico


ANDRE MARQUES VALIO
A produção de etanol no mundo está rapidamente passando por uma revolução. O Brasil foi líder mundial até 2003, quando éramos o maior produtor e consumidor deste produto na forma de biocombustível veicular.
Nos anos 90, o governo dos Estados Unidos, percebendo os riscos de permanecer dependente de petróleo por conta das constantes instabilidades políticas no Oriente Médio e na Venezuela, e ao mesmo tempo sofrendo uma forte pressão dos produtores de grãos em coordenação com as indústrias processadoras nos Estados do Meio-Oeste Americano para uma política de preços mais favorável aos seus produtos, decidiu incentivar a produção de etanol em seu território. Como conseqüência, os EUA se transformaram no maior produtor de etanol do mundo a partir de 2004.

Sofrendo muitas críticas da sociedade civil e da comunidade internacional por transformar áreas agrícolas produtoras de alimentos em produtoras de combustível, com baixa agregação de valor energético, o governo estadunidense começa a partir de 2008 a fomentar o desenvolvimento do etanol celulósico e coloca em pauta um programa de redução e posterior extinção dos subsídios à produção do etanol de primeira geração que não se encaixar na categoria de "Biocombustível Avançado".
As expectativas iniciais era de que os EUA já teriam em escala de produção comercial as primeiras plantas de etanol 2G já no verão de 2012/13, enquanto no Brasil a discussão e os projetos ainda estavam apenas no papel e por isso nosso país está muito atrasado no Etanol 2G. O Plano de Apoio à Inovação no Setor Sucroenergético (PAISS), lançado em 2011 pela parceria Finep/BNDES foi a única iniciativa efetiva de busca por desenvolvimento e inovação neste conceito e mesmo assim, muitos dos projetos aprovados não demonstraram até agora a evolução esperada em seus Business Plans.
As exceções se fazem em três plantas que estão previstos para iniciarem a operação em 2014. Uma no Nordeste com capacidade de 82 milhões de litros/ano e outras 2 no Estado de São Paulo, sendo uma de 40 milhões de litros e outra, ainda em escala de demonstração, com apenas 3 milhões de litros. Se todas elas conseguirem realizar o que está planejado, teremos neste ano uma produção de 125 milhões de litros, contra uma produção acima de 25 bilhões de litros do etanol convencional.
Além disso, existem alguns obstáculos para o desenvolvimento dessa tecnologia em nosso território, com os quais estas 3 plantas terão que conviver:
1) Bagaço de cana no Brasil tem um valor fabuloso para a geração de energia térmica. Nesta paridade, não há preço de etanol que seja competitivo (os preços teriam que voltar aos patamares pré-2001 para se pensar economicamente como matéria-prima de biocombustível);

2) Os custos de produção das enzimas ainda é muito alto e o Brasil ainda não detém a tecnologia, dependendo de empresas européias e americanas como fornecedoras. Com o câmbio com viés de elevação, esta realidade ficaria cada vez mais longe;
3) O tempo de pré-tratamento do bagaço ou palha ainda é muito alto, fazendo que o tempo entre recebimento da MP e finalização do vinho nas dornas de fermentação ainda seja superior a 60 horas, o que obriga altíssimos custos fixos, dado ao tamanho e número de equipamentos para se produzir um pequeno volume de etanol;
4) O teor alcoólico do vinho produzido é muito baixo, dificilmente superando a 6oGL, gerando um volume de vinhaça muito superior ao produzido no processo de etanol 1G. Isto significa dificuldades ambientais severas e custos ainda maiores na destinação e tratamento de efluentes;
5) Para cada matéria-prima, há a necessidade de desenvolver um protocolo específico de pré-tratamento. Por exemplo, não é possível no mesmo protocolo processar palha e bagaço devido às características diferentes do parênquima encontrado nas folhas e no caule na própria cana.
6) A demanda de vapor numa planta de etanol 2G é maior (seja pelo pré-tratamento ou pela pior condição do vinho) e vapor é outro bem muito precioso nos dias atuais, já que é a principal matéria-prima para gerar energia elétrica.
De qualquer forma, é um primeiro passo na tentativa de recuperarmos o tempo perdido.

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