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Etanol celulósico: Itália 1 X Brasil 0


Reginaldo Minaré
Empresa produzirá, a partir de 2012, 50 milhões de litros de etanol celulósico. Essa poderia ser uma manchete de um jornal brasileiro noticiando o inicio da produção comercial do etanol celulósico no Brasil. Entretanto, a manchete é de jornal italiano e a produção será na Itália, mais precisamente em Crescentino, noroeste da Itália.

A rota tecnológica que será utilizada na produção é a hidrólise enzimática e a matéria prima básica o Arundo donax (cana-do-reino ou giant reed), mas não está descartada a possibilidade do uso de talos de trigo e casca de arroz. A elevada produtividade, rápido crescimento em diferentes tipos de solo e condições climáticas, baixo custo para o cultivo e grande resistência, confere à cana-da-índia o status elevado entre as culturas energéticas. Cabe observar que o uso da Arundo donax tem história na Itália. Foi utilizada entre 1937 e 1962 em escala industrial com o objetivo de afastar a Itália da dependência de fontes externas de têxteis e fibras.

Diretiva da União Européia estabelece que em 2020 pelo menos 10% do combustível utilizado deverá ser proveniente de fontes renováveis, o que cria um mercado de fato. De acordo com a empresa que está construindo a planta industrial, bastaria o uso de 3% das terras abandonadas na Itália para produzir matéria prima suficiente para atender o mercado em criação. Ainda de acordo com a empresa empreendedora, com o preço do petróleo entre 60 e 70 dólares o barril o etanol celulósico será superior na competitividade dos preços.

O funcionamento dessa planta industrial em Crescentino terá significativo impacto positivo para a região, especialmente para a cadeia agroindustrial. Estima-se que a planta poderá aproveitar a biomassa lignocelulósica, não destinada à alimentação, produzida em um raio de 40 Km. Além disso, a lignina, material não utilizado, será aproveitada para a geração de eletricidade.

Essa boa notícia vinda da Itália é ao mesmo tempo animadora e um pouco frustrante. Animadora pelo fato de que afasta o argumento utilizado por alguns executivos de instituições representativas da indústria sucroalcooleira, de que a produção comercial do etanol celulósico seria promessa frágil para daqui a 5 ou 10 anos. Por outro lado a notícia é um pouco frustrante porque novamente o Brasil se mostra um bom competidor, mas não chega ao topo do pódio. Rico em bagaço e palha da cana-de-açúcar, em terras agrícolas subutilizadas e com frota invejável de carros flex, seria natural que o Brasil ocupasse a posição de vanguarda na produção de etanol celulósico.

Em que pese o fato de não ser vanguarda, essa iniciativa em solo italiano poderá servir de estimulo ao empresariado e ao governo brasileiro. No âmbito governamental, são louváveis as iniciativas do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, por meio do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – CTBE, e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, que tem projeto destinado à prospecção de variedades vegetais para uso na produção de etanol celulósico, para o desenvolvimento da tecnologia. Entretanto, as iniciativas são deveras tímidas. Atuam como se a tecnologia para a produção do etanol celulósico estivesse em fase experimental e não se preocupam com a realização de contrato de parceria com alguma usina de açúcar e álcool já instalada para a produção comercial de etanol celulósico. Um contrato com uma usina já instalada não seria tão dispendioso e serviria para o aperfeiçoamento da tecnologia já existente para a produção. Serviria também como fonte de estudo dos impactos na região de abrangência e referencia para futuros empreendimentos. Serviria ainda para avaliar o comportamento de uma usina com portfólio de produtos mais robusto com o etanol de primeira e segunda geração, o açúcar e a energia elétrica.

Cabe observar também que tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senado nº 219/2010, que dispõe sobre a Política Nacional para os Biocombustíveis, e a Medida Provisória nº 532/2011, que modifica a Lei nº 9.478/1997, que trata da política energética nacional. Efetivamente são boas oportunidades para estabelecer alguns incentivos à produção do etanol celulósico, visto que não se trata de uma tecnologia ainda em pesquisa.

Outro ponto sobre o qual vale à pena refletir é o fato da Petrobras pouco ou quase nada investir nesse segmento. Será que a poderosa Petrobras tem, de fato, interesse no desenvolvimento dessa tecnologia?

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