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Desfibriladores e Cardioversores não são extintores de incêndio!


Eduardo Raia

A passagem de corrente elétrica através do coração pode provocar efeitos importantes no seu funcionamento. Se o coração estiver em funcionamento normal, a corrente pode provocar alterações nos batimentos, as chamadas arritmias, que podem ser apenas passageiras (batimentos a mais, chamados de extra-sístoles) ou potencialmente fatais (batimentos muito acelerados, situação chamada de taquicardia, ou funcionamento totalmente desordenado, chamado de fibrilação).

 

O efeito inverso também pode ocorrer. Um coração totalmente parado ou que demora muito para bater pode ter um batimento provocado por um pequeno pulso elétrico. Este é o princípio de funcionamento do marcapasso, um pequeno aparelho implantado sob a pele, com um eletrodo que vai até o coração, e que fornece pulsos elétricos quando necessário para regularizar o ritmo dos batimentos.

 

Um coração no estado de fibrilação pode voltar a seu funcionamento normal através da aplicação de um pulso bastante forte de corrente elétrica. Este é o princípio de funcionamento dos desfibriladores.

 

Desfibriladores, aparelhos destinados a fornecer fortes pulsos elétricos para interromper fibrilações, existem desde os anos 50, mas foi em 1961 que ficou bem determinado qual a intensidade e formato ideais do pulso elétrico. Estes parâmetros ficaram muito bem estabelecidos e são hoje objetos de normas técnicas internacionais.

 

Os primeiros desfibriladores pesavam muitas dezenas de quilogramas e seu uso se limitava a hospitais, onde eram montados sobre rodas. Quando associados a outros instrumentos que permitiam a monitorização do funcionamento do coração eles passaram a ser chamados de cardioversores.

 

Com o passar do tempo e o desenvolvimento da eletrônica, os cardioversores foram diminuindo de tamanho e peso viabilizando unidades portáteis, do tamanho de pequenas maletas, alimentados por baterias próprias, adequados ao atendimento de emergência, dentro e fora dos hospitais. Este tipo de aparelho é bastante difundido no mundo todo e também Brasil e é utilizado extensivamente em hospitais, ambulâncias e serviços de atendimento de emergência e resgate. Grande parte das unidades instaladas no Brasil é de fabricação nacional.

 

Nos anos 90 surgiram os cardioversores implantáveis. Este aparelhos, obras primas de miniaturização, são implantados em pacientes sujeitos a episódios de fibrilação. Na ocorrência da arritmia o aparelho fornece o pulso automaticamente restabelecendo o ritmo normal. Para se ter uma idéia da importância dramática deste recurso basta saber que, na linguagem corrente, desfibriladores implantáveis são utilizados em pacientes sujeitos “à morte súbita”.

 

Aspectos importantes da tecnologia usada para viabilizar os cardioversores implantáveis foram utilizados nos cardioversores convencionais, permitindo mais redução de peso e tamanho e o surgimento de unidades automáticas cuja principal finalidade seria o atendimento de emergência em locais públicos, onde poderiam ser manipulados por pessoas comuns. Estes aparelhos são designados pela sigla AED, do inglês Automated External Defibrillator.

 

Há aspectos discutíveis a respeito do uso destas unidades.

 

De um lado a idéia parece muito boa, pois a chance de sucesso da recuperação de uma pessoa em fibrilação depende do atendimento imediato. Grandes fabricantes multinacionais, que trataram de patentear alguns detalhes tecnológicos de seus produtos, fazem o maior esforço comercial para que estas unidades sejam instaladas em grande escala em aeroportos, aviões, estádios, estações de metro, etc. Os grandes valores envolvidos justificam estes esforços.

 

Por outro lado, apesar dos grandes avanços tecnológicos, não é possível supor que estes aparelhos possam ser usados de forma segura por pessoas leigas. No Brasil há ainda um aspecto adverso grave, pois a lei determina que apenas médicos possam administrar os choques de um desfibrilador. 

Na melhor das hipóteses, além da mudança da lei seria necessária uma vasta mobilização educativa. Supondo os aparelhos instalados, também uma imensa estrutura de manutenção precisaria ser montada, pois, como qualquer equipamento de segurança, eles precisam ser verificado periodicamente. Os eletrodos utilizados por estas unidades são descartáveis, caros, e, mesmo não usados, possuem prazo de validade. A estrutura de manutenção precisaria cuidar disto também.

 

Um equipamento destes não é um extintor de incêndios ou uma luz de emergência. É um aparelho sofisticado, caro, e seu uso só é absolutamente seguro quando prescrito por um médico, que saiba discernir se o paciente está fibrilando, ou está com um outra patologia que gera sintomas e reações parecidas com as provocadas por aquela arritmia.

É bastante possível que, nas condições atuais, seja muito mais eficiente aumentar o número de equipes de emergência, com pessoal treinado e cardioversores manuais do que a disseminação indiscriminada de dispendiosas unidades automáticas importadas.

 

Esta é a opinião do engenheiro Percival Gomes, Diretor Técnico da TEB, um dos maiores fabricantes de cardioversores e desfibriladores do Brasil.

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