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Contradições e cuidados


Argemiro Luís Brum

As últimas estatísticas brasileiras apresentam contradições. Pelo lado positivo, a inflação, no acumulado de 12 meses, apresenta sensível declínio; com isso, o juro básico (Selic) tende a ser reduzido; na esteira disso, começa a ser projetado um PIB melhor para o final do corrente ano, agora entre 1% e 1,5%. Pelo lado negativo, a realidade do emprego, da inadimplência e do crédito, não acompanha esse movimento, exigindo cuidados. O desemprego vem aumentando, já descontada a sazonalidade do final de ano (no último trimestre, passou de 7,9% para 8,8% no país); a inadimplência bate recordes (em abril, 71,4 milhões de brasileiros segundo a Serasa); e a insegurança econômica geral não cede. A possibilidade da aprovação do “arcabouço fiscal”, ainda em junho, ajuda no otimismo, porém, isso precisa ser interpretado como o início de um movimento, que passa pela reforma tributária, terminando na execução responsável do ajuste fiscal. Um ponto importante: o arcabouço não se concentra no corte de gastos e sim no aumento das receitas públicas, que deve vir com mais tributação. Ora, mais tributação, acompanhada de novas isenções fiscais (setor automobilístico, por exemplo), causa preocupação. Tanto é verdade que, após os primeiros dois meses do ano, o governo já aumentou a previsão de déficit primário para 2023, em 27,1%, para R$ 136 bilhões (já está em 1,5% do PIB, enquanto a nova regra fiscal prevê 0,5% para este ano e 0% para 2024). Hoje, algo difícil de alcançar. Quanto ao juro básico, se houver redução, a mesma deve ser pequena neste ano. O mercado aponta uma Selic em 10% daqui a três anos e meio (final do atual governo). Isso porque, em termos de inflação, falta muita coisa para ela baixar. Considerando a média do IPCA, nos primeiros quatro meses do ano, a tendência é fechar 2023 com uma inflação entre 5,5% e 6,7%, contra o centro da meta de 3,75%. Isso, esperando que o câmbio se mantenha comportado ao redor de R$ 5,00 por dólar. Enfim, o PIB nacional deverá ficar entre 1% e 2% nos anos futuros. Insuficiente para gerar empregos remuneradores, que ativem o consumo, reduzam a inadimplência e revertam o quadro ruim que temos. Assim, surgem indicativos positivos, todavia é preciso moderar o entusiasmo, pois há um longo caminho a trilhar até que a economia melhore estruturalmente.

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