CI

ALCA MADE IN MIAMI, PORÉM POSITIVA E POSSÍVEL.


Eduardo Raia

ALCA MADE IN MIAMI, PORÉM POSITIVA E POSSÍVEL.

Confesso que segui para Miami com muitas dúvidas, e somente depois de uma conversa com a competente Lucia Maduro, uma das coordenadoras da Coalizão Empresarial Brasileira, é que decidi ir ao VIII ABF – Américas Business Fórum.

Os encontros que antecederam a Reunião Ministerial de Miami, ou seja, a reunião da OMC em Cancún, o encontro de vice-ministros em El Salvador e em Trinidad Tobago, além das reações de nossos parceiros comerciais à proposta brasileira de negociação da Alca em “três trilhos” em contraposição à proposta norte americana; além das notícias que recebíamos com expressas recomendações no que tange ao local onde deveríamos nos hospedar, devido às manifestações de grupos contrários a globalização eram suficientes para tirar o ânimo de muitos.

Entretanto tenho que salientar valeu o esforço e, embora em parte aprisionado na ensolarada Miami, voltei acreditando que foi feito o possível, e que o catastrofismo de alguns, é politicamente compreensível.

O bom senso e o equilíbrio venceram e conseguimos com habilidade e com a determinação de quem sabe o que quer, fazer valer a posição brasileira, junto a grande potência do norte, que não mede conseqüências quando se trata de defender seus “legítimos” interesses.

A Oitava Reunião Ministerial da Alca terminou com uma Declaração Ministerial, que asseguro foi possivelmente o maior tento marcado pelo governo Lula, através de sua equipe de diplomatas, tendo a frente o Ministro Celso Amorim.

Por mais criticado que possa ser, o documento é flexível, não obrigando qualquer país a selar o seu futuro, sem avaliar com o cuidado necessário em que barco estará colocando o seu povo. Creio que efetivamente estamos celebrando a ALCA POSSÍVEL.

Durante a comentada viagem do Presidente Lula a alguns países da África, consta que o Chanceler Celso Amorim, deixou a comitiva presidencial em Moçambique, e desde ali seguiu para o Estado Americano da Virginia, afinal é bom recordamos que o Brasil junto com os Estados Unidos coopreside a ALCA nesta fase final, para encontrar-se com Mr. Zoelick, aquele que sugeriu que se não negociássemos à moda americana, que o fizéssemos com a Antártida.

Naquele final de semana foram escritos os capítulos basilares da Declaração Ministerial de Miami, documento que foi amplamente discutido pelo menos nos dez dias que antecederam a reunião de 20 de novembro pelos representantes do governo brasileiro, junto aos representantes dos demais 33 países, mas sob a recomendação de que tais capítulos não fossem alterados.

Foram os dias consagrados ao “stress”, a ênfase na assinatura de um documento que representasse uma ALCA equilibrada, e que não se tornasse uma “anexação” aos interesses externos; considerando-se nossas debilidades econômicas, e que tivesse em conta os legítimos interesses nacionais, nos fez ver diplomatas e outros altos funcionários do governo, de semblante carregado, cansados e preocupados, e que quando nos encontravam, por cortesia e educação trocavam algumas poucas palavras, e por vezes com um mero sinal de dedos nos davam um verdadeiro “briefing” dos acontecimentos.

Enquanto isso nós empresários brasileiros, discutíamos com nossos pares dos demais trinta e três países, além de outras organizações como a Transparência Internacional, recomendações a serem encaminhadas aos senhores Ministros.

Nosso exercício buscou todo o tempo destacar nossos pleitos e utilizar argumentação convincente, nunca arrogante, prepotente ou irreversível junto a nossos parceiros. Chegamos a apresentar a nossos colegas propostas conciliatórias, visando contornar dificuldades e barreiras impostas pela nossa própria constituição. É justo destacar que as assimetrias existentes nas diversas economias são de tal ordem entre os 34 países, que aqueles que acreditam fosse possível chegar-se a um texto de declaração diferente do ocorrido, estão longe da realidade ou talvez, tenham voltado a crer em Papai Noel.

Já na semana passada, participando da Missão Empresarial Brasileira no México, fomos em busca de uma maior aproximação visando o aprofundamento do tímido Acordo Comercial que mantemos com aquele país no âmbito ALADI. Importantes empresários mexicanos nos informaram que pediram ao Presidente Fox a interrupção da celebração de novos Acordos de Livre Comercio, até que os acordos até aqui celebrados, 32 ao todo, sejam devidamente "digeridos".

Portanto é importante acentuar que se por um lado estamos relativamente atrasados na celebração de acordos comerciais, o que é uma realidade, também é verdade que ainda nos resta a possibilidade de celebrar bons acordos, e nos prevenirmos a partir das experiências de terceiros países, para que não cometamos equívocos por imprudência, açodamento, terminando por pagar preço mais elevado que o necessário.

Não é por acaso que o Chile, o México e o Canadá colocaram-se contrários a Declaração Ministerial de Miami, afinal estes por já terem assinado Acordo de Livre Comercio com os americanos, conheceram e pagaram o preço por tais acordos, e portanto é inaceitável que conquistemos um acesso ao mercado americano menos oneroso.

Agora é tempo de trabalhar e tratar da geração de empregos, o que demanda crescimento interno sustentado e visão estratégica no comércio exterior, ambos capazes de baixar nossos inaceitáveis índices de desemprego.

Humberto Barbato é Humberto Barbato é , Administrador de Empresas, Presidente da CST Isoladores, Diretor de Relações Internacionais da ABINEE e membro da Coalizão Empresarial Brasileira.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.