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A sustentabilidade na produção integrada de alimentos


Opinião Livre
Por Janaina Mitsue Kimpara  e  Luiz Carlos Guilherme
O Sistema Integrado Alternativo para Produção de Alimentos é dimensionado para a segurança e soberania alimentar. O elemento central é um tanque de criação de peixes, construído artesanalmente e com reflexo de cada comunidade que o implanta: por exemplo, pode ser feito de papelão na cidade, esteiras de palha ou barro em aldeias indígenas no Maranhão e em assentamentos rurais no Piauí. O tanque alimenta uma família com uma porção do pescado produzido semanalmente além de proporcionar a produção de uma ampla variedade de vegetais que são irrigados com seus efluentes e resíduos sólidos gerados. Esses e outros resíduos orgânicos também são destinados à criação de minhocas, onde ocorre a transformação do material em húmus, que retorna ao cultivo dos vegetais.

Essa transformação de materiais, ou reciclagem de nutrientes, é chave para a sustentabilidade. Além disso, a ampla variedade de culturas que existe no Sistema Integrado Alternativo para Produção de Alimentos garante sua resiliência, ou seja, sua maior probabilidade de continuar existindo frente a uma perturbação externa, como, por exemplo, o aparecimento de uma doença: hoje, a tecnologia conta com os seguintes produtos: peixes, ovos de galinha, ovos de codorna, porquinhos da Índia, minhocas, húmus, larvas de moscas, milho, abóbora, chuchu, couve, pimenta, mamão, maracujá, melão, melancia, mandioca, rúcula, tomate, alface, batata, inhame, gengibre, chás (hortelã, capim limão, erva cidreira etc), moringa etc. Portanto, é muito provável que, se houver algum fator negativo, como por exemplo, a falta de energia elétrica por vários dias, impedindo o cultivo dos peixes no sistema de recirculação, a família ainda possuirá uma ampla gama de alimentos à disposição.
Outro aspecto importante presente no Sistema Integrado Alternativo para Produção de Alimentos é sua característica multiespacial: conduzir mais de uma atividade em um mesmo local otimiza o uso do espaço porque aumenta a produtividade,  reduzindo a necessidade de ampliação de áreas para o cultivo. Um exemplo disso é o consórcio de rúcula com tomate cereja em baldes, irrigado com efluentes de piscicultura. A prática pode ser aplicada inclusive em áreas urbanas, como apartamentos e/ou em locais com restrições hídricas. O uso do efluente na irrigação permite o uso racional dos nutrientes, já que o resíduo de uma cultura é insumo de outra. Em sistemas não integrados, há perda de nutrientes de elevada qualidade e a possibilidade de ocorrer poluição de corpos d´água. Além disso, o uso de efluentes na irrigação de culturas reduz ou elimina a necessidade de fertilização com insumos tradicionalmente usados.  

Portanto, o Sistema Integrado Alternativo para Produção de Alimentos pode ser considerado um modelo agrícola sustentável, já que seu princípio está na reciclagem de materiais e nutrientes, desde a construção do tanque até o reaproveitamento dos nutrientes que entraram no sistema; respeita as culturas das comunidades que o empregam, já que reflete sua identidade na construção do sistema; é dependente majoritariamente de recursos naturais renováveis e não de recursos da economia, que têm caráter finito; trabalha a inclusão social, já que emprega toda a família, inclui a mulher e grupos étnicos minoritários no processo produtivo; a remuneração resultante do trabalho é justa e equitativa e seu fruto é a garantia de segurança e soberania alimentar.  
*Pesquisadores  da  Embrapa Meio Norte
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