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A surpresa do crescimento e os desafios


Argemiro Luís Brum

Espera-se encerrar 2023 com um PIB ao redor de 2,9%, apesar de seu menor ritmo neste segundo semestre, repetindo a performance de 2022. É uma grata surpresa, já que, em ambos os casos, se esperava um desempenho bem menor. Ainda está longe de ser suficiente, diante das necessidades do país, porém, confirma que abandonamos definitivamente o processo recessivo provocado pela pandemia. E isso, mesmo com uma forte elevação da taxa de juros, a qual ajudou a controlar a inflação. Muito desta performance, apesar do clima, vem do setor primário. Mas a principal explicação está no fato de que, em função das recentes crises, criou-se uma ociosidade produtiva razoável no país entre 2020 e 2022. A mesma começou a ser ocupada em 2022 e avançou em 2023. Isso permitiu crescer mais, reduzindo a taxa de desemprego oficial de 14,9% em março de 2021 para 7,7% no terceiro trimestre de 2023. E daqui em diante? Muito dependerá do cumprimento do arcabouço fiscal e da reordenação do déficit fiscal. Mas o quadro geral tende a ser menos favorável. Nos próximos anos “não há mais folga para acomodar mais crescimento”, sem pressões inflacionárias. Isso porque não se terá praticamente mais ociosidade do sistema produtivo, inclusive com o país se aproximando do chamado pleno emprego. Com isso, “nossa capacidade de oferta de bens e serviços passa a ser uma limitação para o crescimento, algo que não aconteceu nos últimos seis a sete anos”.  Diante disso, e “das incertezas que ainda existem no campo fiscal, pode-se considerar as projeções de mercado, de uma Selic na casa dos 9% ao ano, em 2024, excessivamente otimistas”.  Além disso, o país não pode ficar dependendo somente do setor primário para crescer. É preciso urgentemente recuperar a capacidade produtiva da indústria nacional. Ora, “no segundo trimestre deste ano, a nossa taxa de investimento caiu para 17,2% do PIB. No ano passado, enquanto nossa taxa fechou o ano em 18,1% do PIB, a do México foi de 21,6%, e a do Chile, 25,4% do PIB, segundo o FMI. “É algo grave, pois é um resultado que reflete importante queda de produtividade da indústria brasileira”. Portanto, os desafios futuros continuam enormes para a economia nacional melhorar estruturalmente. (cf. Conjuntura Econômica, FGV, outubro/2023, pp. 36-43)

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