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A culpa é do produtor brasileiro?


Adelson Gasparin

A propósito das ordens de desintrusão e das demarcações de terras indígenas que vêm sendo empurradas goela abaixo pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) sobre áreas agricultáveis brasileiras desde dezembro de 2012 - na época o município inteiro de Alto da Boa Vista/MT, com mais de 7 mil famílias e aproximadamente 165 mil hectares foi desocupado para a alocação de cerca de 700 índios xavantes e a criação da reserva Marãiwatséde - há quem diga que a culpa é do produtor.

Alicerçada por ONGs como a nacional CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e a internacional Survival e baseada em laudos antropológicos duvidosos, a FUNAI se tornou um movimento indigenista que saiu demarcando terras nos principais estados produtores de grãos, inclusive em nosso Estado. Este problema está muito próximo de nós. O município vizinho Mato Castelhano, possui 3.500 hectares de terras já em processo de demarcação. Todas estas áreas são registradas e legalizadas, algumas com certidão de mais de 90 anos. E mais uma vez na visão deste movimento, a culpa é do produtor por ter "invadido" estas terras.

Sabemos que não há invasão alguma sobre estas terras. Tal fato fere a constituição brasileira, e do contrário todos seríamos invasores, pois fomos todos colonizadores deste país. Entretanto, no Rio Grande do Sul, os produtores rurais têm se mobilizado, e nesta semana, graças à união de forças em diversos protestos realizados, o governo federal confirmou a suspensão das demarcações de terras no Estado. Esta medida deverá logo mais se estender para os demais estados celeiros do Brasil.

Outro ponto a destacar. Com a produção de uma safra histórica, na casa de 184 milhões de toneladas, o país sofreu também um histórico apagão de armazenamento e logística. Isso porque o Brasil possui um déficit de armazenagem gigantesco e vergonhoso se comparado ao poder de armazenagem da Argentina e dos EUA.

Apenas para visualizarmos a nossa tamanha ineficiência em armazenagem: a) conforme a Conab, atualmente, somos capazes de armazenar apenas 143 milhões de toneladas; b) segundo a FAO é ideal que um país possa armazenar 120% da sua produção anual; c) para ser considerada eficiente a nossa armazenagem, nossa produção deveria ser de não mais que 115 milhões de toneladas de grãos anualmente.

Este fato nos leva a três conclusões: a primeira é de que, sem dúvidas, o país estagnou seus investimentos em armazenagem, logística e portos a mais de 10 anos, desde a safra 2001/2002, quando o Brasil produzia sua primeira grande safra da época - 123 milhões de toneladas; a segunda conclusão é de que nossa capacidade em armazenar está engessada a apenas 50% do ideal necessário. É como fila do SUS quando metade dos médicos está em férias; ironicamente, a terceira hipótese é de que a culpa é do produtor por ter sido eficiente em fazer a produção brasileira de grãos duplicar em 12 anos, por ter gerado superávit na balança comercial todos os anos, por manter a inflação e até baratear os preços dos alimentos e por ajudar a pagar a conta bilionária dos investimentos da Copa de 2014.

Como será daqui a 10 anos quando heroicamente o nosso produtor duplicar a produção brasileira novamente? O governo vai continuar a botar a culpa nele?

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