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A armadilha do endividamento público (I)


José Osvaldo Bozzo
O endividamento do G7, em 2001, era de 75,8% do PIB. Em 2014 o mesmo chegou a 118,4%. O Japão atinge a 226%; a Grécia 177,2%, a Itália 132,1%, o Portugal 130,2%, os EUA 110%, a Espanha 97,7%, a França 95,1%, o Reino Unido 89,5% e a Alemanha 74,7%. A dívida das famílias e das empresas chega a 270% do PIB na Irlanda e 222% na Dinamarca. No Brasil, a mesma se aproxima de 70% do PIB e, segundo o FMI, em continuando o atual descontrole, poderá rapidamente bater em 90%. Somando a dívida pública com a privada, o fardo dos países desenvolvidos atinge a 270% do PIB. Conclusão: o mundo está mais endividado do que antes de 2007/08, quando estourou a atual crise mundial, e nenhuma medida tomada desde então resolveu o problema. Ou seja, a crise está muito longe de ser resolvida (cf. Le Monde Hebdo, 26/09/2015, p.6). Para o mundo desenvolvido, o triângulo explosivo do endividamento se encontra na associação de dívida elevada, fraco crescimento e inflação praticamente ausente. Assim, em caso de nova recessão mundial, os Estados estão sem munição para enfrentá-la. Além disso, a crise da dívida pode atingir a qualquer país, não sendo mais uma característica apenas dos subdesenvolvidos, como o foi nos anos de 1970 e 1980. Mas existe a boa e a má dívida. A boa é a que financia investimentos que venham a aumentar o crescimento futuro. A má é a que financia o rombo do Estado, da previdência e outros, sem jamais o eliminar. Claro que um Estado não é uma residência familiar. Sua dívida sempre será rolada, fato que lhe permite jamais pagar sua dívida integralmente. Em seus empréstimos se mantendo estáveis, a principal despesa será o juro destes empréstimos. Todavia, isso não significa que um país possa se endividar de forma ilimitada ou realizar qualquer tipo de despesa. O Estado deve cuidar para que a diferença entre receitas e despesas não seja muito grande. Quando esta diferença cresce muito, o endividamento público incha. Para fechar o buraco sobra ao Estado aumentar seus empréstimos no mercado. Nesse contexto, quando os juros da dívida se tornam muito importantes, os investidores passam a desconfiar de que o governo não poderá mais reembolsá-los. Assim, passam a exigir juros mais elevados (amparados pelas avaliações das agências de risco). Rapidamente os governos terão mais dificuldades em pagá-los, o que faz aumentar ainda mais as taxas. Esse efeito “bola de neve” pode levar ao calote de pagamento. Por sua vez, taxas de juros elevadas é dinheiro que deixará de ser investido em outra coisa. Mas, em que momento uma dívida e seus juros tornam-se muito elevados? Por muito tempo um estudo de dois economistas de Harvard (Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff) indicou que acima de 90% do PIB o efeito “bola de neve” corria o risco de se iniciar. Ora, inúmeros países, incluindo os mais ricos, como vimos, estão acima desse nível, sem preocupar os mercados. Em 2013 os dois economistas informaram que se enganaram em seus cálculos. Na verdade, três grandes critérios são determinantes para estabelecer se uma dívida é sustentável. (segue)

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