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Anjos, Demônios e Bode Expiatório


Roberto Paschoali

A disputa entre a ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, e a da Casa Civil, Dilma Rousseff, dá uma idéia muito clara da pouca eficácia do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva no que concerne aos planos de desenvolvimento econômico do Brasil. É inadmissível atribuir a culpa ao ministério do Meio Ambiente pelos entraves que tem levado a economia brasileira quase à estrangulação pela falta de investimentos nos setores de infra-estrutura.

 

O meio ambiente sofre do mesmo mal que sofreu a religião na primeira metade do século passado; muita gente acreditava que a religião poderia ser descartada sem qualquer conseqüência para a vida das pessoas. Mesmo Freud dizia que a religião era uma neurose e tornava o ser humano infantilizado. Hoje em dia, uma grande parte das pessoas acredita que não há relação plausível entre humanidade e o meio ambiente, porém, este é fundamental para a preservação física e moral dos seres humanos e a religião pela edificação de suas almas.

 

René Girard acredita piamente que existe um ponto em comum entre as religiões arcaicas que poderia ser identificada, em termos modernos, como o ritual do sacrifício ou a violência.

 

As pessoas discordam dessa teoria porque nem todos os rituais apresentam violência. Mas a violência está presente na mitologia, na bíblia, na empresa, no governo e na forma como tratamos o meio ambiente. Jesus Cristo e Dionísio têm a mesma história, o mesmo martírio, a mesma morte violenta. A diferença é a interpretação que se dá para cada caso.

 

No caso de Dionísio, a interpretação é que as vítimas são culpadas. No caso da Bíblia, as vítimas são inocentes reconhecidamente. Na cultura ocidental nós fomos educados a sempre buscar um bode expiatório para nossos fracassos. Nas culturas arcaicas esses fracassos eram solucionados oferecendo esse bode expiatório em sacrifício para se reconciliar com os deuses e com seus vizinhos.

 

Pilatos gostaria de ter salvado Jesus Cristo da crucificação, não porque ele era consciencioso ou por motivos espirituais, mas apenas para manter as aparências com as autoridades romanas. Ele não queria dar a idéia de que estava havendo um motim na sua administração. Contudo, ele sabia que multidões podem trocar de vítimas facilmente e por isso ele oferece Barrabas em troca de Jesus.

 

Quando fracassa sua tentativa, Pilatos lava suas mãos e entrega Jesus à multidão que passa a insultar e humilhar o seu bode expiatório. A Paixão de Cristo ilustra o fenômeno que Girard chama de desejo mimético. O fenômeno que contagia as pessoas que passam a influenciar umas as outras.

 

O bode expiatório do malfadado e pífio crescimento econômico do Brasil já foi escolhido: a ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva que estaria impedindo o desenvolvimento ao defender o meio ambiente. A partir de agora, ela passará a ser imolada pela multidão de incapazes que habita o Palácio do Planalto, a Esplanada dos Ministérios e a cúpula do Partido dos Trabalhadores. Felizmente, existem anjos dentro e fora do Brasil que estão dispostos a defender com unhas e dentes o meio ambiente, mas existem muitos demônios que buscam o lucro fácil e vão pressionar o governo a entregar a natureza em uma bandeja. Vamos esperar que o “Pilatos” da ministra Marina da Silva seja mais consciencioso do que foi o de Jesus e que perceba que o verdadeiro algoz do povo brasileiro tem sido a incompetência dos homens das áreas econômica, planejamento e Banco Central e não da mulher do Meio Ambiente e defensora da natureza.

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