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Aplicação de inseticidas via irrigação (insetigação)

Entenda como funciona a aplicação de inseticidas através da irrigação, conhecida também como insetigação.


Foto: Pixabay

A insetigação é a aplicação de Inseticidas através da água de irrigação. Pode ser feita com todas as formas de irrigação: superfície, aspersão e localizada (gotejamento e microaspersão). As irrigações por superfície e por gotejamento permitem apenas aplicação de Inseticidas que visam o solo. Já no caso de irrigação por aspersão, podem ser utilizados produtos de solo ou de absorção foliar. Caso o objetivo seja a absorção foliar, é importante que a cultura tenha uma boa cobertura do solo, evitando que grande parte do produto atinja o solo, causando desperdício e contaminação ambiental. Esse método não se aplica para todas as condições, devendo o responsável técnico avaliar o cenário para entender se a aplicação terá sucesso no controle da praga.

O sucesso dessa forma de aplicação depende da uniformidade de aplicação do produto, ou seja, da uniformidade de distribuição da água do sistema de irrigação.

 

 

Vantagens e desvantagens da insetigação

A insetigação proporciona algumas vantagens como:

  • Uniformidade da aplicação: os inseticidas podem ser distribuídos de forma uniforme quando aplicados por sistemas de pivô central ou unidades de movimento linear;
  • Aplicação imediata: em situações em que o nível populacional da praga exige o controle imediato, o sistema de pivô central geralmente pode ser operado em qualquer hora;
  • Menor compactação do solo: a aplicação via sistema de irrigação reduz o tráfego de tratores e pulverizadores, reduzindo, consequentemente, a compactação do solo;
  • Redução de danos mecânicos à cultura: ao reduzir o tráfego de tratores e pulverizadores, ocorre menores danos mecânicos às culturas, principalmente àquelas que já estão em um estádio mais avançado de desenvolvimento;
  • Redução de riscos ao operador: além do operador não ficar diretamente exposto ao inseticida no campo, a concentração de inseticida por litro de água quando aplicado via água de irrigação é bem menor do que a concentração em aplicações terrestres ou aéreas, reduzindo as chances de contaminação;
  • Economia: apesar do custo elevado do equipamento, os custos operacionais diminuem com o aumento de aplicações e número de culturas plantadas, anualmente. Diminui-se o custo operacional do uso de máquinas e o custo com mão-de-obra;

 

Porém, a técnica apresenta algumas desvantagens:

  • Risco de contaminação ambiental: apesar da insetigação ser segura para os operadores, caso ocorra uma pane no sistema de irrigação, existe um risco de contaminação ambiental pela possibilidade de fluxo invertido e retorno do inseticida para o manancial de água. O risco é maior quando é utilizada a pressão negativa da motobomba para injeção da calda;
  • Custo de implantação: para se realizar a insetigação, são necessários alguns custos adicionais com equipamentos, como a bomba injetora, depósito ou tanque e sistema de segurança, custos esses que variam conforme as características do equipamento;
  • Manejo: ainda que a operação do sistemas seja relativamente simples, é necessário pessoal capacitado para se realizar um bom manejo, que tenha bom conhecimento do equipamento, do inseticida, dos fatores climáticos e das interações, visando um controle eficiente e seguro.

 

Sistemas de aplicação da insetigação

A insetigação pode ser feita por sistemas de irrigação autopropelido, por gotejamento, pivô central e lateral portatil. O gotejamento é eficiente apenas para controlar pragas de solo com Inseticidas sistêmicos, e, além disso, a sua eficiência depende da região. Em regiões úmidas, as raízes geralmente ultrapassam a área molhada pelo gotejamento, e não ficam protegidas pelo inseticida, resultando em um controle ineficiente. Já em regiões áridas, onde o desenvolvimento das raízes ocorre apenas na zona molhada pelo gotejamento, o inseticida cobre a área explorada pelo sistema radicular, apresentando maior eficiência. Devemos nos atentar também à solubilidade do inseticida em água e sua adsorção nas partículas do solo.

 

 

Já a insetigação por aspersão pode ser realizada com diversos tipos de inseticidas, proporcionando uma boa uniformidade de distribuição. Os sistemas mais utilizados são os laterais portáteis e pivôs centrais.

 

Aplicando inseticidas através da insetigação

Para obtermos boa eficiência no controle de pragas através da insetigação, alguns fatores devem ser considerados:

  • Escolha do inseticida: a escolha do inseticida irá depender de fatores como espécie da praga em questão e qual parte da planta está sendo atacada. Ao aplicarmos no solo por exemplo, devemos nos atentar à características quanto à solubilidade em água, umidade do solo antes da aplicação, quantidade de água aplicada, tipo de solo e características químicas do inseticida.
  • Dosagem e concentração: as doses dos inseticidas usados em insetigação geralmente são as mesmas que são utilizadas em pulverizações. A concentração de inseticida na insetigação é muito menor do que na pulverização devido ao maior volume de água utilizado na irrigação. Dependendo da situação, esse fator se torna uma vantagem ou desvantagem. Apesar de estar menos concentrado, o inseticida terá maior eficiência de atingir o local onde a praga se encontra.
  • Volume e qualidade da água: o inseticida é conduzido através do solo pela água de irrigação até atingir a planta. Os produtos se movem somente uma porção da distância percorrida pela água. Quando aplica-se água em excesso, o inseticida pode ficar abaixo da região de ataque, e se for aplicado com quantidade deficiente de água, o produto pode ficar na superfície, podendo ser perdido por volatilização ou se decompor pelo efeito de raios solares. Quando irriga-se a cultura logo após a aplicação de inseticida, a persistência do produto irá depender da sua formulação.
    A qualidade da água também pode influenciar a eficiência dos inseticidas, principalmente quando se aplica grandes volumes de água e o inseticida fica no tanque por vários dias até o término da aplicação. Dessa forma, deve-se observar a composição e o pH da água utilizada na calda.
  • Pressão de aplicação e velocidade do fluxo de água: a pressão utilizada pode influenciar bastante a eficiência de controle das pragas. Alguns estudos evidenciam que o uso de maiores pressões obtiveram melhores resultados, e outros mostram que o aumento da pressão não apresentou diferença nos resultados. O tamanho da gota depositada sobre a planta influencia a quantidade e distribuição do inseticida na folha, porém, esse fator varia bastante com a formulação. A velocidade do fluxo tem pouca influência sobre formulações solúveis em água e bastante influência sobre formulações solúveis em óleo. Velocidades baixas podem não ser suficientes para quebrar as gotículas de óleo com inseticida, permitindo que gotas grandes flutuem na água e saiam pelos aspersores mais próximos da base do pivô, resultando em um controle não uniforme.
  • Compatibilidade dos produtos: muitas vezes a época de aplicação de um fertilizante é a mesma da aplicação de um inseticida. A mesma sincronia pode ocorrer para diferentes defensivos. Dessa forma, devemos ter conhecimento se os produtos aplicados são compatíveis, evitando prejuízos financeiros e/ou ambientais, além de resultar em menor controle das pragas.

 

Outras considerações importantes

Por fim, devemos ter algumas atenções durante a insetigação. Inseticidas, assim como outros defensivos, são produtos tóxicos cujos efeitos negativos devem ser evitados. Diversos inseticidas possuem elementos inflamáveis e não devem ser manuseados próximos a possíveis faíscas e partes elétricas do sistema. Também devemos sempre evitar o retorno do produto para o local de captação de água (através do fluxo invertido) quando utilizamos a pressão negativa da bomba. Outro ponto importante para evitar a contaminação ambiental é não aplicar os produtos quando existe risco de deriva.

Deve-se atentar se o produto a ser utilizado é eficiente quando aplicado via água de irrigação. Além disso, deve-se aplicar uma lâmina de água adequada. Geralmente as doses recomendadas para insetigação são as mesmas indicadas para as aplicações por outros métodos.

Outro ponto que devemos ter atenção, é que na irrigação por aspersão, mesmo com uma lâmina mínima de água, o volume de calda será muito alto. Por exemplo, uma aplicação via pivô-central com equipamentos pequenos, com uma lâmina de 2,5 mm, estaremos aplicando 25.000 L/ha. Dessa forma, os Inseticidas solúveis em água podem ser ineficientes quando forem aplicados com grandes volumes de água. Assim, entende-se que a insetigação é viável desde que alguns parâmetros sejam otimizados.

 

Referências:

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SOUZA, José Alberto Alves. Desempenho de sistema de irrigação por gotejamento e eficiência da insetigação com imidacloprid no controle do bicho-mineiro (Perileucoptera coffeella) no cafeeiro. 2002. 41 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2002.

VIANA, P. A. Insetigação. In: COSTA, E. F.; VIEIRA, R. F.; VIANA, P. A. Quimigação: aplicação de produtos químicos e biológicos via irrigação. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS; Brasilia: EMBRAPA-SPI, 1994. cap. 10, p. 249-268.

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