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Pulverização eletrostática na aplicação de defensivos

Entenda o que é a pulverização eletrostática na aplicação de defensivos!


Foto: Canva

A pulverização eletrostática é um sistema em que o defensivo recebe uma carga elétrica nas gotas, de forma que sejam atraídas eletricamente pelas plantas. Quando uma nuvem de gotas com carga elétrica se aproxima de uma planta, ocorre o fenômeno de indução, e a superfície da planta adquire cargas elétricas de sinal oposto ao das gotas, ocorrendo uma atração entre a planta e as gotas, melhorando a deposição, reduzindo volume de calda, custo de produção e danos ao ambiente, melhorando de forma geral o controle químico. Existe disponibilidade de sistemas eletrostáticos para aplicações terrestres (costal, motorizada ou autopropelido) e aéreas. As gotas recebem a carga elétrica antes ou depois da formação, neste último caso, a carga eletrostática pode contribuir com a formação de gotas.

Basicamente, as cargas elétricas podem ser positivas ou negativas, cargas opostas se atraem e cargas iguais se repelem. Um corpo carregado eletricamente induzirá uma carga elétrica igual e oposta em outro corpo condutor aterrado próximo. Assim, uma nuvem de gotas de defensivo carregada eletricamente, ao se aproximar da planta, neutra e aterrada, resulta em um desequilíbrio entre prótons e elétrons e induz na superfície carga de sinal contrário, sendo atraída pela planta. Esse fenômeno pode favorecer a cobertura da aplicação, inclusive em locais de difícil acesso, como a superfície inferior das folhas. Além disso, se mostra uma alternativa interessante para culturas como os cereais, em que a deposição de defensivos é dificultada pela arquitetura da planta. Alguns estudos confirmam que é possível reduzir mais de 50% do ingrediente ativo recomendado sem reduzir a eficácia em algumas aplicações.

 


Sistema eletrostático em avião agrícola.
Imagem: Castor Becker Júnior/SINDAG

 

A atração entre as gotas e as plantas ocorre tanto pela força eletrostática da gota eletrizada, quanto pelo campo elétrico do eletrodo presente no bico de pulverização e da nuvem de gotas carregadas. No caso de gotas pequenas, a indução elétrica pode controlar o movimento destas de modo a se deslocarem até contra a gravidade, com capacidade de se depositarem nas faces inferiores das folhas. Logo, pode-se utilizar de forma mais segura as gotas menores ao utilizar a pulverização eletrostática, reduzindo os problemas de deriva. Claro, a atração se intensifica quando a gota está próxima das plantas, logo, a hipótese de redução da deriva deve ser bem analisada. 

Os sistemas mais utilizados para carregar eletrostaticamente as gotas são:

  • Sistema de corona, carga iônica ou campo ionizado;
  • Sistema de indução;
  • Sistema de contato.

Uma das desvantagens da pulverização eletrostática é a distribuição não uniforme da pulverização: gotas eletrificadas induzem a formação de cargas opostas na superfície da planta, sendo atraídas pelas folhas e estruturas mais expostas, ficando a calda mais concentrada na parte superior da planta, podendo resultar em um controle ineficiente do problema. Tal fato se torna bastante evidente no controle de problemas como a ferrugem asiática da soja, em que o controle químico eficiente deve atingir também o terço inferior da planta. Nesse caso, essa tecnologia pode ser combinada com a assistência de ar, melhorando a deposição da calda na parte inferior da planta. Essa combinação também impede que as gotas fiquem depositadas no eletrodo.

Fazendo uma pesquisa na literatura, nos deparamos com estudos que constataram a eficiência da pulverização eletrostática, e outros que não constataram nenhuma vantagens nas aplicações, não havendo diferenças na deposição e na deriva em relação à aplicação normal. Ainda existem diversas dúvidas sobre esta tecnologia, sendo necessários mais estudos e pesquisas com esse sistema.

 

Fatores que influenciam a pulverização eletrostática

Dentre os fatores que influenciam a pulverização eletrostática, temos:

  • Umidade relativa do ar: quanto maior a umidade relativa do ar, menor a deposição eletrostática;
  • Condutividade elétrica da calda: a carga depende da condutividade da calda e da voltagem aplicada. Quanto maior a condutividade elétrica na calda, maior a carga elétrica nas gotas.
  • Adjuvantes: o uso de adjuvantes nas caldas pode aumentar ou reduzir a eficiência do sistema eletrostático;
  • Densidade da calda;
  • Tensão superficial da calda: a tensão superficial da calda determina a máxima carga elétrica que pode ser alcançada por uma gota;
  • Condições biológicas da planta: em algumas situações, como no caso de estresse hídrico, a eficácia de deposição diminui;
  • Planta: a indução de carga elétrica na parte aérea depende do tipo e variedade da planta;
  • Diâmetro da gota.
  • Relação carga / massa: é a relação entre a quantidade de carga elétrica e a massa de líquido. Quanto maior a relação carga / massa, maior a força de atração entre a gota e o alvo.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

CHAIM, A. Pulverização eletrostática: principais processos utilizados para eletrificação de gotas. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2006. 17p. (Embrapa Meio Ambiente. Documentos, n. 57).

CHAIM, A.; WADT, L.G.R. Pulverização eletrostática: a revolução na aplicação de agrotóxicos, EMBRAPA, abr. 2015. Disponível em : https://www.embrapa.br/busca-denoticias/-/noticia/2615385/artigo---pulverizacao-eletrostatica-a-revolucao-na-aplicacao-deagrotoxicos. Acesso em: 23 set. 2019.

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ZHENG, J.; ZHOU, H.; XU, Y. Advances in pesticide electrostatic spraying in China. St. Joseph, Mich.: ASAE, 2002. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/271432779_Advances_in_Pesticide_Electrostatic_S praying_Research_in_China. Acesso em: 27 set. 2019.

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