CI

Controle (manejo integrado) de pragas de grãos e sementes armazenados

Leia sobre o manejo integrado de pragas de grãos e sementes armazenadas.


Foto: Canva

As sementes e grãos colhidos nas lavouras devem ser armazenados com o menor percentual de perdas, sejam elas qualitativas ou quantitativas, até o consumo final. As perdas qualitativas são as mais preocupantes, pois podem comprometer totalmente o uso do grão ou desclassificá-lo para outro uso que tenha menor valor agregado.

Dentre as causas da conservação inadequada dos grãos e sementes, podemos citar uma estrutura inadequada, com deficiente (ou até ausente) sistema de controle de temperatura e aeração. Se as sementes são produzidas com alto investimento de tecnologia no campo, devem ser armazenadas com uma qualidade proporcional, evitando a redução do vigor e poder germinativo. O local de armazenamento deve possuir temperaturas adequadas, deve ser bem ventilado, e as sacas do produto devem ser colocadas sobre estrados de madeira, evitando empilhá-las contra as paredes.

Quanto às temperaturas, estas não devem ultrapassar os 25ºC, e a umidade relativa deve ser inferior a 70%. Um ponto muito importante consiste em manter o ambiente limpo de pragas, evitando a presença desses organismos que diminuem a qualidade dos produtos.

Para reduzir as pragas durante o armazenamento, pode-se realizar o manejo integrado de pragas de grãos e sementes armazenados. Para isso, deve-se conhecer as condições adequadas de armazenagem dos grãos e sementes (temperatura e umidade), conhecer a unidade armazenadora e a unidade de beneficiamento de sementes.

Caso você queira ler características e identificação das pragas de grãos e sementes armazenados, clique aqui!

 

Manejo integrado de pragas de grãos e sementes armazenadas

É fundamental integrar os diferentes métodos de controle para obter sucesso no controle das pragas, seja no campo ou durante o armazenamento. Além do maior sucesso no controle, o manejo integrado diminui o surgimento de organismos resistentes, reduz o impacto ambiental, diminui a contaminação dos produtos com resíduos de defensivos, pode diminuir os custos de controle etc.

Para o sucesso do manejo integrado, todas as pessoas envolvidas nas unidades armazenadores devem se comprometer e participar do processo. Os funcionários devem se conscientizar da importância e dos danos que as pragas causam no armazenamento. Os funcionários também devem conhecer a unidade armazenadora em todos os seus detalhes. Devem ser identificados e previstos os pontos de entrada e abrigo de pragas dentro do sistema de armazenagem, bem como considerar também o histórico de controle de pragas nos anos anteriores.

Outro ponto fundamental é adotar medidas de limpeza e higienização. O simples uso de vassouras, escovas e aspiradores em máquinas de limpeza, moegas, túneis, passarelas, dentre outras estruturas, promovem grandes ganhos no processo. Após a limpeza, realizar o tratamento periódico de toda a estrutura armazenadora, usando inseticidas protetores de longa duração.

As pragas devem ser devidamente identificadas, pois os métodos de controle dependem da espécie de praga em questão. Também deve-se conhecer o potencial de dano da praga e os possíveis casos de resistência das pragas aos inseticidas, de forma a não contribuir para a piora desse problema, além de evitar o insucesso do controle, resultando em perdas financeiras.

Os grãos podem ser tratados preventivamente com inseticidas protetores no momento de abastecer o armazém. Os grãos devem ser monitorados durante todo o período armazenado, detectando sempre o início de possíveis infestações. Podem ser usadas armadilhas fixas de captura de insetos ou peneiras com malha de 20 mm ou superior. Também deve-se medir constantemente a temperatura e a umidade da massa de grãos. O tratamento curativo pode ser feito quando houver presença de pragas nos grãos, fazendo o expurgo com fosfina, observando o período mínimo de exposição para o controle de todas as fases da praga.

As pragas podem ser primárias ou secundárias. As pragas primárias atacam os grãos e sementes sadias, podendo ser pragas primárias internas (penetram dentro dos grãos e se alimentam do seu interior) ou externas (destroem a parte exterior do grão e se alimentam da parte interna sem penetrar nesta). Já as pragas secundárias atacam somente grãos danificados ou quebrados, não conseguindo atacar grãos sadios. Para ler sobre a identificação das pragas de grãos e sementes, clique aqui!

 

Monitoramento das pragas na massa de grãos

O monitoramento é fundamental para se detectar pragas em estádios iniciais em grãos e sementes armazenados, possibilitando o controle já no início, minimizando os prejuízos. A amostragem de insetos deve ser acompanhada da medição da temperatura e da umidade do grão e da detecção da presença de fungos.

Para o monitoramento de insetos que vivem no interior da massa de grãos, existem dois métodos:

  • Método tradicional: é feito coletando-se amostras de grãos em vários pontos do armazém, e passá-los por uma peneira de 20 cm x 20 cm, com malha de 2 mm, dotada de um coletor que irá reter as pragas para identificação e quantificação.
  • Armadilhas: é feito usando armadilhas de plástico do tipo "Burkholder Grain Probe", feitas de tubos de plástico com 2,5 cm de diâmetro e 36 cm de comprimento, perfurados na metade superior, introduzidos na massa de grãos, ficando lá por determinado tempo. Os insetos, ao se deslocarem na massa de grãos, e devido a maior concentração de oxigênio, caem nas perfurações da armadilha, que internamente possui um coletor que impede a saída das pragas. Após um período de 7 a 15 dias, retira-se as armadilhas para identificar e quantificar as pragas. Também pode-se usar feromônios para atrair os insetos para as armadilhas.

 

Limpeza e higienização das unidades armazenadoras de grãos e sementes

As medidas preventivas são as mais importantes para proteger os grãos do ataque de pragas. A limpeza consiste em eliminar todos os resíduos no armazém / silo, corredores, passarelas, túneis, elevadores e moegas. Recomenda-se queimar ou enterrar os resíduos para evitar a proliferação de insetos e fungos. Após a limpeza, o local deve ser higienizado através de pulverização / termonebulização com inseticidas.

 

Controle de pragas

Métodos físicos

Consistem em manipular a temperatura, umidade, atmosfera controlada, usar pós inertes, radiação, luz, som e remoção física para controlar as pragas.

 

Temperatura

Tanto a alta quanto a baixa temperatura podem ser usadas para o controle de pragas. Observe a tabela abaixo:

Resposta das principais pragas de produtos armazenados à temperatura.
Ação Temperatura (ºC) Efeito
Letal > 62 Morte em menos de 1 minuto
50 a 60 Morte em menos de 1 hora
45 a 50 Morte em menos de 1 dia
35 a 42 Populações podem morrer
Subótimo 35 Temperatura máxima para reprodução
32 a 35 Lento crescimento populacional
Ótimo 25 a 32 Máxima taxa de crescimento populacional
Subótimo 13 a 25 Lento crescimento populacional
Letal 5 a 13 Lenta mortalidade populacional
3 a 5 Cessam os movimentos
-5 a -10 Morte em algumas semanas ou meses
-15 a -25 Morte em menos de 1 hora

 

Algumas pragas, como por exemplo R. dominica, possuem maior tolerância ao calor, sendo necessário temperaturas mais elevadas para o seu controle. Um ponto importante é que a temperatura e tempo de exposição podem afetar também a qualidade final do produto.

 

Umidade

A umidade relativa ótima do ar para as principais pragas de grãos e sementes armazenadas é de aproximadamente 70% A diminuição da umidade relativa reduz a longevidade e sobrevivência das pragas. Um estudo feito por Evans (1982) verificou a diminuição da longevidade média de S. oryzae de 24 semanas para 11,5 semanas em trigo, a 15ºC, ao reduzir a umidade dos grãos de 12,5% para 10,3%, o que corresponde à redução na umidade relativa de 50% para 35%. 

 

Atmosfera controlada

Consiste em modificar a atmosfera, alterando as concentrações dos gases CO2, O2 ou N2, deixando o ambiente letal para as pragas. Essa modificação pode ser feita adicionando CO2 sólido ou gasoso, adicionando gases com baixa concentração de O2, ou permitindo processos metabólicos que removam O2, geralmente com liberação de CO2. Para fazer esse procedimento, as instalações do armazém / silo devem ser fechadas.

Observe a tabela abaixo:

Composição típica da atmosfera controlada criada em ambientes de armazenagem herméticos.
Tipo de atmosfera controlada Fonte Composição (%)
O2 CO2 N2 Ar
Baixo O2 Nitrogênio líquido ou outras fontes (<0,1% de O2) 0,5 - 99,4 -
Queima de gás propano 0,5 13,4 85,1 1,0
Combustão de gases 0,5 20,8 78,2 0,5
CO2 líquido ou outras fontes (<0,1% de O2) 0,5 97,5 2,0 -
Armazém hermético Metabolismo dentro do armazém 2 18 81 1
Alto CO2 CO2 líquido ou outras fontes (98% puro) 4,2 80 15,6 0,2
8,4 60 31,2 0,4
12,6 40 46,9 0,5

 

Para todas as fases de vida das principais pragas, as doses e os regimes de aplicação devem ser:

a) concentrações de O2 menores do que 1% por mais de 20 dias;
b) concentrações de CO2 mantidas a 80% por 5 dias, 60% por 11 dias ou 40% por 17 dias;
c) concentrações de CO2 inicialmente superiores a 70% e reduzidas para não menos do que 35%, por pelo menos 15 dias. 

 

Uso de pós inertes na dessecação

É um método eficaz, seguro e apresenta baixa toxicidade aos mamíferos, pode ter um longo efeito residual, não promove a resistência em insetos e pode controlar pragas resistentes, além de não afetar a qualidade de grãos para panificação. O uso desses métodos vem aumentando pois os inseticidas químicos causam alguns problemas, como falhas de controle, resíduos em alimentos e surgimento de pragas resistentes.

Os pós inertes podem ser:

  • Argilas, areias e terra;
  • Terra de diatomáceas;
  • Sílica aerogel;
  • Não derivados da sílica.

A terra de diatomáceas possui excelente performance para diversas pragas. A eficiência desses pós inertes pode ser afetada pela mobilidade do inseto, características como número e distribuição de pêlos na cutícula e lipídios cuticulares, tempo de exposição, umidade do ar e fatores que influenciam a taxa de perda de água. 

A aplicação é feita com auxílio de uma máquina que deve misturar homogeneamente o produto, que também pode ser usado para o tratamento de estruturas de armazenamento, polvilhando paredes, por exemplo.

 

Remoção física

A remoção física é feita com um sistema de peneiras. Pode-se remover os insetos durante o recebimento e armazenagem. A secagem dos grãos pode eliminar parte dos insetos, podendo-se também usar uma mesa de gravidade para reduzir mais ainda os insetos.

 

Radiação

Diversas espécies de insetos-pragas são sensíveis à radiação. A radiação pode ser radiação gama ou aceleração de elétrons. Os ovos são os mais sensíveis, seguido das larvas, pupa e adulto, sendo necessárias doses maiores conforme a praga se desenvolve. A radiação também pode tornar as progênies estéreis. Porém, a radiação também pode diminuir a qualidade dos cereais, principalmente em trigo. Já em cevada, o uso de radiação afeta a germinação do cereal.

 

Luz e som

A luz pode ser usada para atrair e monitorar algumas pragas, mas é pouco eficiente como método de controle. 

Já as ondas sonoras podem ser eficientes para controlar as pragas. Porém, é viável apenas em algumas situações restritas.

 

Métodos químicos

É um dos métodos mais utilizados, aplicados de forma preventiva ou curativa, porém, apresentam algumas desvantagens, como o surgimento de pragas resistentes e a presença de resíduos nos produtos.

 

Tratamento preventivo de grãos e sementes

Se o período de armazenagem dos grãos / sementes for superior a 60 dias, pode-se realizar o tratamento químico preventivo dos grãos / sementes, podendo-se aplicar os inseticidas sobre os grãos, na correia transportadora, no momento de carregar o armazém ou no ensaque das sementes, homogeneizando bem o produto nos grãos. Geralmente são usadas dosagens de 1 a 2 L de calda por tonelada.

Não se deve pulverizar os inseticidas com a massa de grãos quente, pois tal ação resulta em perda de eficiência do controle. Não se deve também realizar o tratamento via líquida na correia transportadora caso exista infestação de pragas na massa de grãos, pois isso pode causar falhas de controle e problemas de resistência das pragas.

 

Tratamento curativo (expurgo) de grãos e sementes

A fumigação / expurgo é a aplicação de um gás inseticida para eliminar pragas em sementes e grãos armazenados. O local a ser expurgado deve ser vedado, fechando-se qualquer saída ou entrada de ar, e então aplica-se o gás em concentrações letais para as pragas, sempre observando as normas de segurança para os produtos em uso. Pode-se usar por exemplo uma lona de expurgo para vedar o ambiente, com no mínimo 150 micras de espessura.

A fosfina é um inseticida bastante tóxico usada para o expurgo, sendo liberada na presença de umidade do ar para o controle das pragas em todas as fases de desenvolvimento (ovo, larva, pupa e adulto). A aplicação de fosfina deve ser acompanhada do uso de EPI's, além de seguir as normas de segurança e as orientações da bula.

Ao retirar a lona deve-se tomar cuidado por conta da alta concentração de fosfina, que deve ser imediatamente ventilada de forma a se dissipar e se degradar na atmosfera com o oxigênio. Assim, o armazém deve estar com as portas abertas e a ventilação forçada, ficando proibida a presença de pessoas sem EPI nos armazéns onde ocorrem operações de expurgo.

A distribuição do gás deve ser uniforme em toda a massa de grãos / sementes, e a taxa de liberação do gás determinará o tempo necessário para a mortalidade das pragas e eficiência do controle.

Não se recomenda realizar o expurgo em temperaturas abaixo de 10ºC ou umidade relativa do ar inferior a 25%, pois fica dificultada a liberação do gás. Para o expurgo ser eficiente, a concentração de fosfina deve ser de pelo menos 440 ppm por pelo menos 120 horas. A medição da concentração da fosfina durante a operação deve ser feita com equipamentos medidores.

 

Resistência das pragas aos inseticidas

A resistência aos inseticidas é um dos maiores problemas do controle de pragas. Existem relatos de resistência em mais de 500 espécies de insetos e ácaros.

Quanto às pragas de produtos armazenados no Brasil, algumas espécies possuem grande relevância. Dentre as pragas de grãos armazenados com casos de resistência, podemos destacar as espécies Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, Sitophilus zeamais, Tribolium castaneum, Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis. Dessa forma, destacamos a grande necessidade de se realizar o manejo integrado de pragas no armazenamento. 

 

Métodos biológicos

Como o controle químico é muito comum em armazéns, e devido à ausência de plantas hospedeiras para manter alguns inimigos naturais das pragas, o controle biológico não é tão adequado nestes ambientes. Alguns estudos apontam a tolerância de alguns inimigos naturais das pragas aos inseticidas usados nestes ambientes. Porém, ainda faltam mais estudos para se determinar organismos e protocolos para o controle biológico em armazéns. A liberação de parasitóides em grandes quantidades nos armazéns deve ser muito bem estudada, pois envolve a necessidade de se manter uma população mínima do hospedeiro no ambiente.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ALDRYHIM, Y. N. Combination of classes of wheat and environmental factors affecting the efficacy of amorphous silica dust, dryacide, against Rhyzopertha dominica (F.). Journal of Stored Products Research, v. 29, p. 271-275, 1993

BANKS, H. J.; FIELDS, P. G. Physical methods for insect control in storedgrain ecosystems. In: JAYAS, D. S.; WHITE, N. D. G.; MUIR, W. E. Storedgrain ecosystems. New York: Marcell Dekker, 1995. p. 353-409.

BURKHOLDER, W. E.; MA, M. Pheromones for monitoring and control of stored-product insects. Annual Review of Entomology, v. 30, p. 257- 272, 1985.

COGBURN, R. R.; BURKHOLDER, W. E.; WILLIAMS, H. J. Field tests with the aggregation pheromone of the lesser grain borer (Coleoptera: Bostrichidae). Environmental Entomology, v. 13, p. 162-166, 1984.

LORINI, I.; KRZYZANOWSKI, F. C.; FRANÇA-NETO, J. de B.; HENNING, A. A.; HENNING, F. A. Manejo Integrado de Pragas de Grãos e Sementes Armazenadas. 1. ed. Brasília, DF: Embrapa Soja, 2015. 86 p.

LORINI, I.; KRZYZANOWSKI, F. C.; FRANÇA-NETO, J. B.; HENNING, A. A. Monitoramento da liberação do gás PH3 por pastilhas de fosfina usadas para expurgo de sementes. Informativo Abrates, v. 21, n. 3, p. 57-60, 2011.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.