Solarização do solo para o controle de plantas daninhas
Leia sobre o uso da solarização para o controle de plantas daninhas.
As plantas daninhas se formam pela flora emergida e pelas sementes ou propágulos vegetativos viáveis presentes no solo, que formam o "banco de sementes". O banco de sementes é uma fonte primária de infestação de plantas daninhas em áreas de produção agrícola. Porém, como muitas dessas sementes estão em dormência, e não germinam mesmo quando as condições ambientais são favoráveis à germinação, o controle destas plantas é dificultado.
A germinação das sementes de plantas daninhas depende de aspectos ambientais (temperatura, umidade e níveis de oxigênio no solo) e de fatores relacionados à espécie (estádio de maturação, níveis de hormônios, condições sanitárias).
A solarização é uma estratégia de controle de plantas daninhas que pode ter alta eficácia. O método usa a radiação solar para aumentar a temperatura da camada mais superficial do solo a um nível letal para sementes ou estruturas de reprodução das plantas, estejam elas dormentes ou não.
O solo é aquecido pela radiação que passa pelo filme plástico transparente, colocado sobre o solo, e aquece a água e as partículas do solo, e as ondas longas não atravessam o plástico no sentido contrário (do solo para a atmosfera), aquecendo o solo além da temperatura normal.
A alta temperatura no solo provoca a destruição dos propágulos, indução da superação da dormência das sementes e danos às plântulas. Além disso, a temperatura também causa prejuízos indiretos, como a formação de fissuras nas sementes, que resultam em infecções por patógenos do solo e morte da estrutura vegetal, e formação de compostos tóxicos voláteis que se acumulam debaixo do plástico, causando danos nos propágulos das plantas daninhas. Ocorrem altas concentrações de dióxido de carbono que induz a dormência nas sementes de algumas espécies e redução da emergência de plântulas.
A eficácia da solarização depende de diversos fatores:
- Suscetibilidade das plantas daninhas à solarização. Existem espécies suscetíveis, tolerantes, insensíveis e outras são até estimuladas pela solarização;
- Insolação diária e acumulada;
- Como o solo não é homogêneo, havendo diferenças entre os conteúdos de água e matéria orgânica, textura do solo, concentração de gases e diferenças também entre os materiais utilizados nos filmes plásticos, o aquecimento da camada de solo não é uniforme;
- Profundidade das sementes e estruturas reprodutivas, pois o efeito da solarização é mais restrito às camadas superficiais, sendo pouco efetivo em camadas mais profundas;
- O revolvimento do solo após a solarização pode reduzir ou anular o efeito da solarização devido à redistribuição das estruturas reprodutivas, podendo trazer estruturas mais profundas e viáveis para a superfície.
Um estudo feito por Linke (1994) avaliou a solarização do solo no controle de plantas daninhas e Pythium no solo na cultura do crisântemo. Foi usado um filme de polietileno transparente de 35 μm por um período de 60 dias, e posteriormente feito revolvimento do solo para o plantio de mudas. Na camada de 0 a 10 cm houve aumento de 10ºC na temperatura, e na camada de 10 a 20 cm, aumento de 5ºC. Houve redução de crescimento das plantas daninhas de 81% em relação ao solo mantido sem cobertura. Porém, houve também estímulo a algumas espécies. Observe a tabela abaixo:
Espécie | Controle | Espécie | Controle |
Adonis aestivalis L. | xxx | Leontice leontopetalum | 0 |
Amaranthus blitoides S. Wats. | xxx* | Liliaceae sp. | x |
Amaranthus gracilis Desf. | xxx* | Linaria chalepensis (L.) Mill | xxx |
Amaranthus retroflexus L. | xxx* | Linum sp. | xxx |
Aristolochia maurorum L. | 0 | Molucella laevis L. | xxx |
Bellevalia sp. | 0 | Muscari racemosum (L.) Mill | S |
Bunium elegans (Fenzl.) Freyn | S | Myagrum perfoliatum L. | xxx |
Carthamus flavescens Willd. | xxx | Ornithogalum narbonense L. | 0 |
Cichorium intybus L. | xxx | Orobanche aegyptiaca Pers. (incl. O. ramosa) | xxx |
Convolvulus althaeoides L. | x | Orobanche crenata Forsk. | xxx |
Convolvulus arvensis L. | x | Papaver rhoeas L. | xxx |
Coronilla scorpioides L. | S | Phalaris brachystachys L. | xxx |
Croton tinctoria L. | xxx* | Poaceae sp. | xxx |
Cynodon dactylon (L.) Pers | x | Polygonum aviculare L. | xxx |
Daucus sp. | S | Ranunculus arvensis L. | xxx* |
Descurainia sophia (L.) Webb et Prantl | xxx | Ranunculus repens L. | xxx |
Erodium aegyptiacum Boiss. | xxx | Rhagadiolus stallatus (L.) Willd | xx |
Euphorbia aleppica L. | xxx | Roemeria hybrida (L.) DC. | xxx |
Euphorbia heliscopia L. | xxx* | Scandix pecten-veneris L. | xxx |
Euphorbia peplus L. | xxx | Scorpiurus muricatus L. | S |
Falcaria vulgaris Bernh. | xx | Sinapis arvensis L. | xxx* |
Galium tricorne Stockes. | xxx | Sorghum halepense (L.) Pers. | xx |
Geranium tuberosum L. | S | Spergula fallax (Lowe) Krause | xxx |
Gladiolus aleppicus Boiss. | 0 | Thesium humile Vahl. | xxx* |
Heliotropium sp. | xxx | Thlaspi perfoliatum L. | xxx |
Hypericum triquetrifolium Turra | x | Torilis leptophylla (L.) Reichb. | xx |
Lactuca orientalis Boiss. | xxx | Tribulus terrestris L. | xxx* |
Lactuca serriola L. | xxx | Vaccaria pyramidata Medik. | xxx* |
Lagonychium farctum (Banks et Sol.) Bobr. | xx |
Grau de controle: xxx* = 100% de controle, xxx = controle alto, xx = controle médio, x = controle baixo, 0 = sem controle, S = estímulo.
Fonte: Linke (1994).
Diversos outros estudos também apontaram redução significativa da população ou massa de plantas daninhas, um deles (RICCI et al., 2000) obtendo nível de controle de 99,7% de plantas de tiririca (Cyperus rotundus). Comumentemente também se observam efeitos no controle de patógenos de solo, estímulo à atividade de microrganismos benéficos e aumento da disponibilidade de alguns nutrientes, como nitrogênio, cálcio e magnésio. Tais efeitos resultaram em aumento de produtividade das culturas.
Claro, como mencionado anteriormente, a efetividade da solarização depende de diversos fatores. Estudo realizado por Bangarwa et al. (2008), também para o controle de tiririca (Cyperus rotundus), em cultivo orgânico usando filme de polietileno verde, não apresentou resultados eficazes para o controle da planta daninha. Dessa forma, deve-se avaliar os fatores que influenciam na efetividade da técnica antes de se realizar a solarização.
Mauromicale et al. (2005), em outro estudo avaliou a solarização para o controle da planta daninha parasita Orobanche ramosa, espécie em que a maior parte do seu ciclo de vida ocorre abaixo da superfície do solo, sendo uma planta de difícil controle. A solarização causou a morte de 95% das sementes viáveis e a dormência secundária nos 5% restantes, proporcionando um aumento de quase 200% na produtividade do tomateiro.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
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