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Solarização do solo para o controle de plantas daninhas

Leia sobre o uso da solarização para o controle de plantas daninhas.


Foto: Pixabay

As plantas daninhas se formam pela flora emergida e pelas sementes ou propágulos vegetativos viáveis presentes no solo, que formam o "banco de sementes". O banco de sementes é uma fonte primária de infestação de plantas daninhas em áreas de produção agrícola. Porém, como muitas dessas sementes estão em dormência, e não germinam mesmo quando as condições ambientais são favoráveis à germinação, o controle destas plantas é dificultado.

A germinação das sementes de plantas daninhas depende de aspectos ambientais (temperatura, umidade e níveis de oxigênio no solo) e de fatores relacionados à espécie (estádio de maturação, níveis de hormônios, condições sanitárias).

A solarização é uma estratégia de controle de plantas daninhas que pode ter alta eficácia. O método usa a radiação solar para aumentar a temperatura da camada mais superficial do solo a um nível letal para sementes ou estruturas de reprodução das plantas, estejam elas dormentes ou não.

O solo é aquecido pela radiação que passa pelo filme plástico transparente, colocado sobre o solo, e aquece a água e as partículas do solo, e as ondas longas não atravessam o plástico no sentido contrário (do solo para a atmosfera), aquecendo o solo além da temperatura normal.

A alta temperatura no solo provoca a destruição dos propágulos, indução da superação da dormência das sementes e danos às plântulas. Além disso, a temperatura também causa prejuízos indiretos, como a formação de fissuras nas sementes, que resultam em infecções por patógenos do solo e morte da estrutura vegetal, e formação de compostos tóxicos voláteis que se acumulam debaixo do plástico, causando danos nos propágulos das plantas daninhas. Ocorrem altas concentrações de dióxido de carbono que induz a dormência nas sementes de algumas espécies e redução da emergência de plântulas.

 A eficácia da solarização depende de diversos fatores:

  • Suscetibilidade das plantas daninhas à solarização. Existem espécies suscetíveis, tolerantes, insensíveis e outras são até estimuladas pela solarização;
  • Insolação diária e acumulada;
  • Como o solo não é homogêneo, havendo diferenças entre os conteúdos de água e matéria orgânica, textura do solo, concentração de gases e diferenças também entre os materiais utilizados nos filmes plásticos, o aquecimento da camada de solo não é uniforme;
  • Profundidade das sementes e estruturas reprodutivas, pois o efeito da solarização é mais restrito às camadas superficiais, sendo pouco efetivo em camadas mais profundas;
  • O revolvimento do solo após a solarização pode reduzir ou anular o efeito da solarização devido à redistribuição das estruturas reprodutivas, podendo trazer estruturas mais profundas e viáveis para a superfície.

Um estudo feito por Linke (1994) avaliou a solarização do solo no controle de plantas daninhas e Pythium no solo na cultura do crisântemo. Foi usado um filme de polietileno transparente de 35 μm por um período de 60 dias, e posteriormente feito revolvimento do solo para o plantio de mudas. Na camada de 0 a 10 cm houve aumento de 10ºC na temperatura, e na camada de 10 a 20 cm, aumento de 5ºC. Houve redução de crescimento das plantas daninhas de 81% em relação ao solo mantido sem cobertura. Porém, houve também estímulo a algumas espécies. Observe a tabela abaixo:

Tabela 1. Espécies de plantas daninhas e grau de controle / estímulo causado pela solarização.
Espécie Controle Espécie Controle
Adonis aestivalis L. xxx Leontice leontopetalum 0
Amaranthus blitoides S. Wats. xxx* Liliaceae sp. x
Amaranthus gracilis Desf. xxx* Linaria chalepensis (L.) Mill xxx
Amaranthus retroflexus L. xxx* Linum sp. xxx
Aristolochia maurorum L. 0 Molucella laevis L. xxx
Bellevalia sp. 0 Muscari racemosum (L.) Mill S
Bunium elegans (Fenzl.) Freyn S Myagrum perfoliatum L. xxx
Carthamus flavescens Willd. xxx Ornithogalum narbonense L. 0
Cichorium intybus L. xxx Orobanche aegyptiaca Pers. (incl. O. ramosa) xxx
Convolvulus althaeoides L. x Orobanche crenata Forsk. xxx
Convolvulus arvensis L. x Papaver rhoeas L. xxx
Coronilla scorpioides L. S Phalaris brachystachys L. xxx
Croton tinctoria L. xxx* Poaceae sp. xxx
Cynodon dactylon (L.) Pers x Polygonum aviculare L. xxx
Daucus sp. S Ranunculus arvensis L. xxx*
Descurainia sophia (L.) Webb et Prantl xxx Ranunculus repens L. xxx
Erodium aegyptiacum Boiss. xxx Rhagadiolus stallatus (L.) Willd xx
Euphorbia aleppica L. xxx Roemeria hybrida (L.) DC. xxx
Euphorbia heliscopia L. xxx* Scandix pecten-veneris L. xxx
Euphorbia peplus L. xxx Scorpiurus muricatus L. S
Falcaria vulgaris Bernh. xx Sinapis arvensis L. xxx*
Galium tricorne Stockes. xxx Sorghum halepense (L.) Pers. xx
Geranium tuberosum L. S Spergula fallax (Lowe) Krause xxx
Gladiolus aleppicus Boiss. 0 Thesium humile Vahl. xxx*
Heliotropium sp. xxx Thlaspi perfoliatum L. xxx
Hypericum triquetrifolium Turra x Torilis leptophylla (L.) Reichb. xx
Lactuca orientalis Boiss. xxx Tribulus terrestris L. xxx*
Lactuca serriola L. xxx Vaccaria pyramidata Medik. xxx*
Lagonychium farctum (Banks et Sol.) Bobr. xx    

Grau de controle: xxx* = 100% de controle, xxx = controle alto, xx = controle médio, x = controle baixo, 0 = sem controle, S = estímulo.
Fonte: Linke (1994).

 

Diversos outros estudos também apontaram redução significativa da população ou massa de plantas daninhas, um deles (RICCI et al., 2000) obtendo nível de controle de 99,7% de plantas de tiririca (Cyperus rotundus). Comumentemente também se observam efeitos no controle de patógenos de solo, estímulo à atividade de microrganismos benéficos e aumento da disponibilidade de alguns nutrientes, como nitrogênio, cálcio e magnésio. Tais efeitos resultaram em aumento de produtividade das culturas.

Claro, como mencionado anteriormente, a efetividade da solarização depende de diversos fatores. Estudo realizado por Bangarwa et al. (2008), também para o controle de tiririca (Cyperus rotundus), em cultivo orgânico usando filme de polietileno verde, não apresentou resultados eficazes para o controle da planta daninha. Dessa forma, deve-se avaliar os fatores que influenciam na efetividade da técnica antes de se realizar a solarização.

Mauromicale et al. (2005), em outro estudo avaliou a solarização para o controle da planta daninha parasita Orobanche ramosa, espécie em que a maior parte do seu ciclo de vida ocorre abaixo da superfície do solo, sendo uma planta de difícil controle. A solarização causou a morte de 95% das sementes viáveis e a dormência secundária nos 5% restantes, proporcionando um aumento de quase 200% na produtividade do tomateiro.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

BANGARWA, S. K.; NORSWORTHY, J. K.; JHA, P.; MALIK, M. Purple nutsedge (Cyperus rotundus) management in an organic production system. Weed Science, v. 56, n. 4, p. 606- 613, 2008.

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