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Uso de plantas de cobertura para controlar plantas daninhas

Leia sobre os efeitos das plantas de cobertura no controle das plantas daninhas.


Foto: Canva

As plantas de cobertura, conhecidas também como adubos verdes, são utilizadas há muito tempo para melhorar as condições químicas, físicas e biológicas do solo, além de proteger o mesmo contra a erosão, e proporcionar maior retenção de umidade, menor variação de temperatura e maior atividade biológica no solo. Porém, possuem também a capacidade de reduzir as plantas daninhas.

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As plantas de cobertura causam efeitos nas plantas daninhas sob a forma de cobertura viva ou de cobertura morta. As coberturas vivas crescendo vigorosamente inibem as plantas daninhas. As plantas que se estabelecem primeiro ocupam o seu espaço biológico mais rapidamente, suprimindo o desenvolvimento das outras plantas, que conseguirão se emergir se houver disponibilidade de espaço ainda não ocupado.

Assim, as plantas que germinam primeiro em densidade adequada ocupam mais rápido os espaços biológicos, e para isso a densidade de semeadura também é um fator fundamental. Nesse caso, busca-se estabelecer uma densidade populacional que proporcione uma rápida ocupação do espaço biológico e máxima produção de biomassa, porém, essa densidade depende dos recursos disponíveis no ambiente, sendo necessário um teste local. 

O milho, por exemplo, quando usado para a produção de grãos, é plantado com uma densidade de 40 a 45 mil plantas por hectare, ao passo que a densidade de plantio é de aproximadamente 250 a 300 mil plantas por hectare, ficando altamente competitivo com as plantas daninhas, pois possui uma rápida cobertura do solo e alta produção de biomassa.

Já se usarmos duas ou mais espécies, por estas possuírem diferentes velocidades de crescimento e uso de recursos do solo, o manejo é mais complicado, devendo evitar a supressão de algumas plantas. No caso de espécies com taxas de crescimento e exigências nutricionais parecidas, a proporção de sementes é ajustada conforme a espécie a qual se deseja a predominância.

 

Impacto das plantas de cobertura no desenvolvimento das plantas daninhas

As plantas de cobertura promovem impactos de diferentes intensidades conforme o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas. Esse impacto é alto durante estádios de germinação, emergência, estabelecimento e crescimento, moderado durante a produção de sementes e na sobrevivência das sementes no solo, e moderado a baixo na sobrevivência de estruturas perenes. Vamos entender melhor esses impactos!

 

Impacto das plantas de cobertura na germinação de plantas daninhas

A germinação das sementes de plantas daninhas do solo é influenciada pela qualidade e quantidade de luz que que chega à superfície. Algumas espécies respondem à presença de luz para iniciar a germinação, já outras dependem da qualidade da luz. Quando a luz solar é filtrada pelas plantas, as sementes de plantas daninhas estimuladas pela luz (na região do vermelho) não germinam

 

Impacto das plantas de cobertura na emergência e estabelecimento de plantas daninhas

Durante o início do crescimento das plantas, a maior concorrência é por água (quando limitante), e posteriormente, por nutrientes e radiação solar. A competição que ocorre entre as raízes das plantas daninhas e das culturas por recursos no solo depende da disponibilidade destes recursos, espécies envolvidas e a capacidade do sistema radicular. Quanto mais rápida a ocupação do espaço biológico abaixo do solo, maior a capacidade competitiva da planta.

Acima do solo, a competição por luz ocorre quando as plantas começam a se sobrepor, e as plantas ajustam o seu crescimento para obter maior captação de luz, além da possível liberação de substâncias alelopáticas que afetam o desenvolvimento de outras plantas.

 

Impacto das plantas de cobertura no crescimento e estabelecimento de plantas daninhas

As plantas de cobertura causam, no crescimento das plantas daninhas, os mesmos efeitos que nas fases de emergência e estabelecimento. Uma planta daninha terá dificuldades em se desenvolver em uma área com plantas de cobertura, e essa dificuldade dependerá da densidade das plantas daninhas e densidade das plantas de cobertura.

 

Impacto das plantas de cobertura na produção de sementes de plantas daninhas

As plantas de cobertura causam um moderado impacto na produção de sementes de plantas daninhas. Existem algumas estratégias que impedem a produção de sementes das plantas daninhas, como a prévia formação de cobertura morta.

 

Impacto das plantas de cobertura na sobrevivência de sementes de plantas daninhas no solo

As plantas de cobertura podem favorecer a manutenção de diversas espécies que causam a mortalidade de sementes de plantas daninhas, como fungos, bactérias, artrópodes etc., porém, esse efeito varia muito conforme o manejo. Além disso, as plantas de cobertura podem reduzir o abastecimento do banco de sementes de plantas daninhas no solo.

 

Impacto das plantas de cobertura na sobrevivência de plantas daninhas perenes

As plantas daninhas perenes podem ser melhores competidoras do que as anuais devido às grandes reservas nutricionais e rápido estabelecimento. Porém, plantas perenes de ciclo longo podem suprimir as plantas indesejadas por um bom período, de forma a esgotar as suas reservas nutricionais. Já as plantas de ciclo curto podem não ser tão eficientes de forma isolada, mas quando combinadas com herbicidas, podem proporcionar bons resultados. 

 

O uso da alelopatia para o controle de plantas daninhas

As plantas podem liberar no ambiente compostos alelopáticos que influenciam no crescimento e desenvolvimento de outras plantas. Essas substâncias tóxicas às plantas atuam na fotossíntese, respiração, balanço hídrico e função dos estômatos, membranas, inibição da divisão-celular, atividade de hormônios, inibição na síntese de proteínas, atividade de enzimas e síntese ou degradação de pigmentos. Plantas que sintetizam compostos alelopáticos podem ser usadas no controle de plantas daninhas.

Esse efeito pode ser utilizado na recuperação de áreas degradadas utilizando espécies nativas com efeitos alelopáticos, como sorgo, girassol ou espécies de eucalipto. Vale lembrar que espécies exóticas também podem produzir compostos alelopáticos tóxicos para as espécies nativas.

 

Sistemas de plantio com plantas de cobertura

O sucesso do uso de plantas de cobertura depende das características dessas plantas, do sistema de produção, do produtor, da região e das condições climáticas.

Para culturas perenes, podem ser usadas plantas de cobertura perenes, plantadas isoladamente ou em consórcio nas entrelinhas, podendo ou não ser roçadas, jogando os resíduos na linha das árvores, formando uma cobertura morta para reduzir as plantas daninhas. É recomendado adubar também as entrelinhas, mantendo a fertilidade e boa produção de biomassa das plantas de cobertura. Plantas de cobertura anuais também podem ser roçadas formando a cobertura morta, porém, nesse caso, é necessária a semeadura anual se a ressemeadura natural não for suficiente.

Para culturas anuais, utiliza-se espécies anuais de verão ou inverno de ciclo longo, plantadas individualmente ou em consórcio (coquetel). Reduzem o número e tamanho de plantas daninhas. Podem ser usadas plantas com crescimento rápido entre as janelas das culturas anuais, podendo reduzir ou até eliminar a necessidade de herbicidas durante o intervalo entre culturas.

Ainda no caso de culturas anuais, plantas de cobertura podem ser intercaladas com as culturas. O plantio de plantas de cobertura pode ser simultâneo com as culturas ou retardado algumas semanas. Claro, é uma prática que pode resultar em perdas na cultura, dependendo da espécie consorciada e condições do meio.

 

Tabela 1. Espécies de plantas de cobertura.
  Clima quente / Verão Clima frio / inverno
Anuais lablab, crotalárias, mucunas (preta e cinza), guandu, feijão-de-porco, feijão-bravo etc. aveia, azevém, centeio, nabo-forrageiro, ervilhacas, ervilha-forrageira, tremoço, etc.
Perenes amendoim-forrageiro, soja perene, calopogônio, braquiárias etc. festuca, trevos perenes etc.

 

 

Manejo das plantas de cobertura

Para formar cobertura morta, as plantas de cobertura são manejadas com métodos mecânicos (roçadeira, rolo-faca etc.), herbicidas ou ambos, sendo manejadas antes da produção de sementes, evitando que estas plantas se estabeleçam e se tornem infestantes na cultura seguinte.

No caso de sistemas orgânicos, devem ser utilizadas apenas espécies que sejam possíveis o controle mecânico, evitando o uso de herbicidas. Plantas como aveia ou centeio são controladas com rolo-faca na fase de grão leitoso. Antes desse período pode ocorrer rebrota. A partir do florescimento, essas espécies podem ser controladas com triturador. Espécies como mucuna, lab-lab, tremoço, milho, girassol e crotalária juncea podem ser controladas com rolo-faca a partir do florescimento. Antes desse período, o controle pode ser feito com triturador.

Já as ervilhacas e ervilha-forrageira, em consórcio com outras plantas, podem ser controladas com rolo-faca no início da formação de grãos, pois adquirem um porte mais ereto. Já quando cultivadas isoladas, possuem um porte mais rasteiro, sendo mais difícil de controlar. No caso do nabo-forrageiro, o controle com rolo-faca pode ser difícil, pois essa espécie pode apresentar plantas com diferentes estádios de desenvolvimento, podendo ser manejada com um triturador.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

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