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Como aplicar herbicidas no milho?

Leia sobre as formas de aplicação de herbicidas no milho.


Foto: Divulgação

O controle químico é bastante utilizado para controlar as plantas daninhas no milho, com novos produtos surgindo a cada ano e técnicas de aplicação cada vez mais aprimoradas. O controle químico, quando feito de acordo com a bula e as normas técnicas, é eficiente e rápido, podendo ser realizado quando outros tipos de controle são inviáveis. Porém, exige equipamentos adequados e regulados e mão-de-obra especializada. Quando a aplicação é ineficiente, resulta em aumento dos custos de controle, controle ineficiente, poluição ambiental e contaminação de alimentos.

Deve-se tomar cuidado na escolha do herbicida, verificando a sensibilidade da cultivar de milho ao defensivo, bem como observar os herbicidas utilizados nas culturas anteriores, que podem inviabilizar o cultivo de milho na área. O herbicida utilizado depende da sua eficiência sobre as plantas daninhas, estádio da cultura, tipo de solo, cultura que será usada em rotação e lavouras adjacentes.

O uso de doses inadequadas de herbicidas para o estádio das plantas daninhas e tipo de solo, aplicação em condições climáticas inadequadas, misturas inadequadas e não respeitar o prazo de carência pode causar toxicidade na cultura do milho, reduzindo o rendimento de grãos. Herbicidas reguladores de crescimento, como por exemplo o 2,4-D, podem causar injúrias na cultura do milho quando aplicados fora do estádio recomendado ou sobre plantas estressadas.

Ressalta-se também a importância de se aplicar herbicidas apenas em condições climáticas adequadas, evitando problemas como a deriva dos herbicidas. 

 

Aplicando herbicidas no milho

Escolhendo o herbicida

Ao usar herbicidas no milho, assim como em qualquer cultura, deve-se estar atento às interações entre a cultivar e o herbicida, pois alguns híbridos de milho são sensíveis a alguns herbicidas. Além disso, herbicidas utilizados em culturas anteriores, dependendo da dose, tipo de solo, condições climáticas e intervalo entre aplicação e plantio, podem inviabilizar o cultivo de milho na área.

O controle de plantas daninhas pode ser feito em pré ou em pós-emergência das plantas daninhas e da cultura, porém, no controle de folhas largas, existem mais produtos disponíveis para pós-emergência. Caso a infestação seja de espécies gramíneas, estas devem ser controladas, de preferência, com herbicidas pré-emergentes.

Associações de herbicidas podem aumentar o espectro de controle, reduzir o custo de tratamento e reduzir a pressão de seleção, reduzindo o surgimento de espécies daninhas resistentes aos herbicidas.

A escolha do produto a ser utilizado depende da sua eficiência sobre as espécies, estádio da cultura, tipo de solo, culturas usadas em rotação e lavouras adjacentes.

Caso sejam usados herbicidas absorvidos pelas raízes, a dosagem depende da cultura, das espécies de plantas daninhas, da textura, ctc efetiva e nível de matéria orgânica do solo, sendo orientada através das indicações da bula.

Deve-se conhecer também as características de solubilidade e lixiviação do herbicida, evitando que este atinja o lençol freático ou que sua persistência afetem as culturas. Antes de escolher uma cultura a ser instalada, deve-se verificar a sensibilidade desta aos produtos aplicados. Épocas mais secas e com altas temperaturas podem proporcionar longos períodos de permanência de alguns herbicidas no solo, como diuzon e imazaquin, que podem causar problemas de toxicidade em culturas.

 

Aplicação antes do preparo do solo

Algumas espécies de plantas daninhas, como o capim-massambará, tiririca e grama-seda, são controladas com maior eficiência antes do preparo do solo, já que o preparo fragmenta as plantas, multiplicando os seus propágulos.

Indica-se aplicar os herbicidas sistêmicos, de preferência com efeito residual, iniciando o preparo da área pelo menos uma semana após a aplicação, de forma que o produto tenha tempo de distribuir-se por toda a planta.

Os produtos devem ser aplicados quando as plantas daninhas tiverem alto vigor vegetativo, com condições ambientais favoráveis. Não recomenda-se a aplicação dos produtos pós-emergentes durante ou após períodos de estresse, pois os produtos  terão pouca absorção / translocação.

 

Aplicação de herbicidas pré-emergentes

Esses produtos são aplicados antes da emergência das plantas daninhas, podendo ser feitas junto ou logo após a semeadura, com incorporação mecânica superficial ou sem incorporação.

Estes produtos controlam as plantas daninhas antes que essas possam competir com a cultura, causando prejuízos. A eficiência dos produtos depende de fatores como umidade do solo, chuva após a aplicação (para sua ativação), tipo de solo, temperatura, espécies daninhas a serem controladas e seus respectivos estádios de crescimento. Dessa forma, quando alguns desses fatores forem ignorados, o controle pode não trazer bons resultados, ou até resultados diferentes dentro de uma mesma propriedade.

No caso de herbicidas incorporados mecanicamente ao solo, não é necessário chuvas para sua ativação e nem de tanta umidade para resultar em um controle eficiente. Já os produtos não incorporados precisam de umidade adequada no solo para se espalhar no perfil, evitando perdas por volatilização e fotodecomposição.

  • Aplicação de herbicidas pré-emergentes sem incorporação: esses produtos devem ser aplicados logo após a semeadura da cultura ou sob preparo convencional do solo, no máximo em três dias após a última gradagem. É necessária a ocorrência de chuva / irrigação após a aplicação para realizar a difusão do herbicida no solo. No caso de estiagem, o desempenho desses produtos é reduzido, pois será perdido por volatilização e fotodecomposição.
    Esses produtos podem ser usados em preparo convencional e plantio direto, não necessitam de incorporação mecânica, o que resulta em economia de tempo e dinheiro, além de expor menos o solo à erosão.
  • Aplicação de herbicidas pré-emergentes com incorporação: é recomendado incorporar os herbicidas que se decompõem pela luz ou volatilizam. Também recomenda-se incorporar quando houver previsão de estiagem prolongada após a aplicação do herbicida pré-emergente. É importante observar a profundidade do herbicida incorporado, pois alguns herbicidas causam efeitos tóxicos ao milho se entrarem em contato com as sementes. O processo de incorporação pode eliminar as plantas daninhas emergidas, e esse tipo de aplicação não necessita de chuva para ativar ou movimentar o produto. Porém, como desvantagem, pode causar danos à cultura, não controla adequadamente espécies perenes com propagação vegetativa, possui maior custo de operação, pode causar danos à cultura e causa maior impacto ambiental.

 

Aplicação em pós-emergência

É feita após a emergência das plantas daninhas, devendo haver bastante atenção à época correta de aplicação para evitar prejuízos à cultura devido à competição. Ocorre que, como a janela de controle desta aplicação é curta, podem haver problemas na aplicação em grandes áreas, principalmente quando ocorrerem condições climáticas inadequadas, como falta ou excesso de chuva, ou falta de equipamentos adequados.

Dessa forma é aconselhado o uso de herbicidas pré-emergentes em uma parte da área, e pós-emergentes em outra, ou fazer a semeadura escalonada.

A ocorrência de chuvas após a aplicação pode lavar o herbicida da superfície da planta, reduzindo sua absorção. Alguns herbicidas precisam de até 6 horas sem chuva após sua aplicação para uma absorção suficiente.

Os herbicidas pós-emergentes possuem como vantagem a aplicação localizada, podem ser aplicados tanto em preparo convencional como em plantio direto e sua eficiência não depende das características do solo.

A aplicação em pós-emergência pode ser feita de três formas:

  • Aplicação em pós-emergência precoce: aplicação dos herbicidas em estádio inicial de desenvolvimento das plantas daninhas, ou seja, quando as espécies de folhas estreitas ainda não tiverem perfilhado e as espécies de folhas largas estiverem com duas folhas no máximo;
  • Aplicação em pós emergência normal: aplicado quando as espécies de folhas estreitas tiverem com até três perfilhos e as espécies de folhas largas estiverem com seis folhas no máximo;
  • Aplicação em pós-emergência tardia: os herbicidas são aplicados em estádios avançados de desenvolvimento, quando as espécies de folhas estreitas tiverem com mais de três perfilhos e as espécies de folhas largas estiverem com mais de seis folhas. Os herbicidas podem ser menos eficientes do que quando aplicados nos estádios anteriores, e quase sempre precisam ser aplicados junto com adjuvantes.

 

Aplicação dirigida

A aplicação dos herbicidas em pré e pós-emergência pode ser feita de forma dirigida: somente em parte aérea, em faixas ou manchas de ocorrência da espécie ou nas entrelinhas da cultura. Deve haver diferenças entre as plantas daninhas e cultura, como por exemplo  quando as plantas daninhas forem menores do que a cultura, fazendo a aplicação dirigida à base das plantas da cultura econômica, evitando o contato com as folhas.

Outro uso para a aplicação dirigida é em situações em que os cultivadores ou herbicidas aplicados não apresentarem controle satisfatório das plantas daninhas, resultando em falhas. A aplicação dirigida pode ser a única opção para controlar plantas daninhas em avançados estádios de desenvolvimento, ou em áreas de terreno irregular em pequenas produções. Também é utilizada para evitar a multiplicação e disseminação de espécies daninhas ainda não predominantes na área ou para controlar espécies resistentes aos herbicidas.

A aplicação dirigida possui a vantagem da redução de gasto com a menor quantidade de herbicida quando comparada à aplicação em área total. Porém, possui a desvantagem de poder não controlar as daninhas na linha da cultura, o cuidado ao usar herbicidas não-seletivos, dificuldade de se usar em grandes áreas, necessidade de equipamentos especiais, dependência das condições climáticas e o uso apenas em áreas planas.

 

Estádio ideal para a aplicação de herbicidas no milho

A sensibilidade das plantas, culturas ou plantas daninhas, aos herbicidas, depende da dosagem do produto e do estádio de desenvolvimento do vegetal. A aplicação de herbicidas feita em um estádio inadequado das plantas daninhas e/ou da cultura pode resultar em um controle ineficiente das plantas, sintomas de toxicidade ou até mesmo perda de seletividade do produto para a cultura, causando a morte desta.

No caso do milho, existem muitas diferenças entre variedades e híbridos quanto à sensibilidade aos herbicidas e quanto à forma de apresentar os sintomas. Alguns híbridos mostram sinais de toxicidade logo após a aplicação, como a redução da altura das plantas, mudança na cor das folhas, surgimento de estrias, encharutamento das folhas etc. Outros híbridos podem parecer sadios, sem sinais visíveis de toxicidade, mas apresentar uma produtividade final muito abaixo do esperado.

O avanço do desenvolvimento vegetativo das plantas daninhas pode exigir aumento da dose do herbicida e/ou adição de adjuvantes à calda, aumentando o risco de danos à cultura e reduzindo a eficiência do controle.

Alguns herbicidas, como o 2,4-D, devem ser aplicados de preferência no início da emergência das plantas daninhas, ou seja, quando as plantas de milho possuem de duas a quatro folhas. Aplicações após esse período, quando o ponto de crescimento está acima do colo da planta, facilitam o contato da cultura com o produto, causando diversas deformações no milho (encharutamento, deformação nas raízes etc.). Assim, aplicações após o estádio V4 podem ser feitas de forma dirigida. Outros produtos, como o nicosulfuron, aplicados após o estádio correto também causam toxicidade à cultura. Assim, recomenda-se sempre estar bem informado sobre o produto e respeitar as orientações da bula, principalmente quanto à dose e limitações de uso do herbicida, seguindo as indicações do estádio correto de aplicação.

 

Toxicidade dos herbicidas no milho

É comum observarmos no campo sintomas de toxicidade de herbicidas no milho ou falhas no controle das plantas daninhas, o que pode reduzir o rendimento de grãos. Esses problemas podem ser causados por doses inadequadas de herbicidas para o estádio das plantas daninhas e/ou tipo de solo, aplicação em condições climáticas inadequadas, associações inadequadas de produtos e não respeito ao prazo de carência de algumas moléculas.

Quanto às condições climáticas, baixas temperaturas podem atrasar a emergência e crescimento do milho, reduzindo o metabolismo dos herbicidas pela planta, ao passo que altas temperaturas aumentam a atividade do herbicida e absorção pelas plantas e reduzem a tolerância da cultura aos herbicidas.

A época de semeadura, antecipada ou retardada, podem manifestar com maior intensidade tais fenômenos, comprometer o controle e aumentar os riscos de toxicidade na cultura. Em algumas regiões os efeitos tóxicos na cultura também ocorrem por efeitos residuais de produtos usados em culturas anteriores.

Dentre as situações de toxicidade de herbicidas no milho, podemos citar como exemplos:

  • soja tratada com diclosuran e posterior semeadura de milho safrinha
  • algodão tratado com diuron e posterior plantio precoce de milho
  • feijão tratado com fomesafen e posterior cultivo de milho
  • reguladores de crescimento, como por exemplo o 2,4-D, podem causar efeitos tóxicos ao milho quando aplicados fora do estádio recomendado ou sobre plantas estressadas
  • em condições de alta umidade e baixa temperatura, herbicidas inibidores de pigmento (isoxaflutole) também podem causar injúrias no milho
  • inibidores de aminoácidos, como o nicosulfuron podem prejudicar a cultura quando aplicados fora do estádio recomendado, quando as plantas de milho estiverem estressadas durante a aplicação, ou quando não respeitados prazos de carência com fertilizantes nitrogenados ou inseticidas fosforados.
  • herbicidas a base de acetochlor e dimethenamid podem causar efeitos tóxicos no milho dependendo da dose, do tipo de solo, do híbrido de milho, das condições de aplicação e condições climáticas após a aplicação.

Em diversos casos, baixos níveis de chuva e solos de textura mais leve aumentam a possibilidade de toxicidade com herbicidas. Assim, para evitar problemas de toxicidade, o engenheiro agrônomo deve definir corretamente a dose a ser usada, que depende do tipo de solo, estádio de desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura, espécies daninhas a serem controladas, condições ambientais durante a aplicação, disponibilidade de equipamento e características do herbicida.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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RODRIGUES, B. N.; ALMEIDA, F. S. de. Guia de herbicidas. 4. ed. Londrina: Ed. Autor, 1998. 648 p.

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VARGAS, L.; PEIXOTO, C. M.; ROMAN, E. S. Manejo de plantas daninhas na cultura de milho. Embrapa Documentos - 61, [s. l.], 2006.

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