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Quais são os modos de ação dos inseticidas?

Veja quais são os mecanismos de ação dos inseticidas.


Foto: Anderson Wolf

Escolher o produto correto para cada cenário é um passo fundamental para o controle químico na lavoura. Para o controle de insetos-pragas, existem diferentes inseticidas que atuam em diferentes áreas no organismo da praga. Vejamos abaixo os mecanismos de ação dos inseticidas:

 

Sistema nervoso

Para que ocorra a comunicação entre neurônios, deve haver a sinapse, através do lançamento de neurotransmissores de um neurônio para outro. A acetilcolina é um desses neurotransmissores, e se liga aos receptores dos neurônios, causando o impulso elétrico, ocorrendo a comunicação. Após, a acetilcolina se desliga do receptor e se degrada, cessando o impulso, através da ação da enzima acetilcolinesterase. Caso os impulsos não cessem, ocorre hiperexcitabilidade no sistema nervoso, causando espasmos, paralisia e morte.

 

Inibidores da acetilcolinesterase

Os carbamatos (aldicarb, carbofuran...) e organofosforados (clorpirifós, malathion...) inibem a acetilcolinesterase, mantendo a acetilcolina ligada ao receptor, causando impulsos elétricos descontrolados, resultando na hiperexcitabilidade do sistema nervoso central.

 

Agonistas de receptores nicotínicos da acetilcolina

Os neonicotinóides (imidacloprido, acetamiprido, thiamethoxam...) "imitam" a acetilcolina e competem com a acetilcolina pelos receptores nicotinérgicos. A acetilcolinesterase não consegue degradar os neonicotinóides, causando impulsos elétricos descontrolados, resultando na hiperexcitabilidade do sistema nervoso central.

 

Moduladores alostéricos de receptores nicotínicos da acetilcolina

As espinosinas também se ligam aos receptores de acetilcolina, causando mudanças na conformação dos receptores e abrindo canais iônicos, resultando também em impulsos contínuos.

 

Antagonistas de canais de cloro mediados por GABA

GABA é um neurotransmissor, e os íons cloro são responsáveis por desacoplar o GABA do receptor, cessando os impulsos elétricos nos neurônios. Os fenilpirazóis (fipronil, ethiprole) e ciclodienos (endosulfan, chlordane) bloqueiam os canais de cloro, não havendo cloro para desacoplar o GABA do neurônio, resultando em impulsos elétricos contínuos e descontrolados no neurônio, causando a hiperexcitabilidade do sistema nervoso.

 

Ativadores de canais de cloro (agonistas do GABA)

As avermectinas ativam os canais de cloro, causando grandes quantidades de cloro disponível, impedindo que o GABA se ligue no receptor, impedindo o impulso elétrico.

 

Moduladores dos canais de sódio

Os piretróides (cipermetrina, deltametrina...) atuam antes da sinapse, causando permeabilidade da membrana do axônio, deixando aberto os canais de sódio, causando hiperexcitabilidade do sistema nervoso.

 

Bloqueadores dos canais de sódio

indoxacarb (indoxacarb, metaflumizone) atua de modo contrário ao piretróide, deixando fechados os canais de sódio, bloqueando o fluxo dos íons nos neurônios, impedindo a transmissão dos impulsos nervosos, causando a morte do organismo.

 

Moduladores de receptores de rianodina (sistema nervoso muscular)

As diamidas (clorantraniliprole e flubendiamide) se ligam aos receptores de rianodina, liberando cálcio nos músculos, deixando-os contraídos, resultando na paralisia e morte das pragas.

 

Reguladores de crescimento

Existem hormônios envolvidos no crescimento dos insetos. Os inseticidas atuam inibindo ou imitando esses hormônios, desequilibrando o crescimento dos insetos.

 

Inibidores da biossíntese de quitina, tipo 0 e tipo 1. 

A quitina é fundamental para a construção de exoesqueletos na ecdise em algumas espécies de pragas. Se o inseto não formar o exoesqueleto, ficará mais suscetível ao ambiente e à perda de água, morrendo antes de completar seu ciclo de vida. Estes inseticidas impedem a síntese de quitina, impedindo a formação do exoesqueleto.

As benzoifeniluréias (diflobenzurom, triflumuron...) são inibidores da biossíntese de quitina do tipo 0, e atuam na enzima quitina sintetase em lepidópteros, impedindo a síntese da quitina.

Já o buprofezin, inibidor do tipo 1, atua na enzima quitina sintetase em hemipteras.

 

Agonistas de receptores de ecdisteroides

As diacilhidrazinas (chromafenozide, cebufenozide...) imitam o hormônio da ecdise, resultando prematuramente no processo de ecdise, causando um desequilíbrio no corpo da praga.

 

Mímicos do hormônio juvenil

O pyriproxyfen imita o hormônio juvenil nas pragas, interferindo em processos fisiológicos como ecdise e reprodução. 

 

Bloqueadores seletivos da alimentação

pymetrozine bloqueia a glândula salivar do inseto, causando a paralisação da alimentação

 

Sistema digestivo

Disruptores microbianos da membrana do mesêntero.

A bactéria Bacillus thuringiensis libera toxinas que se ligam no mesêntero (parte mediana do sistema digestivo dos insetos), resultando no rompimento da membrana e extravasamento do conteúdo do sistema digestivo, causando infecção generalizada na praga.

 

Inibidores da respiração celular

Inibidores do transporte de elétrons da mitocôndria

Estes produtos atuam inibem a enzima NADH oxido-redutase, na cadeia respiratória, causando a morte das pragas.

 

Inibidores de ATP sintetase mitocondtrial

Inibem a síntese de ATP na mitocôndria, causando a morte das células.

 

Desacopladores da fosforilação oxidativa via disrupção do gradiente de próton

Dissipam o gradiente de prótons e impedem o acoplamento entre o transporte de elétrons e a ATP sintase.

 

 

Classificação dos modos de ação dos inseticidas

Na tabela abaixo, você pode conferir todos os modos de ação, sub-grupos químicos e ingredientes ativos dos inseticidas.

 

Tabela 1. Classificação dos modos de ação de inseticidas.
Sítio de ação  Grupo Principal / Sítio de ação primário Sub-grupo químico Ingredientes ativos
Nervo e músculo  1 - Inibidores de acetilcolinesterase 1A - Carbamatos Alanycarb, Aldicarb, Bendiocarb, Benfuracarb, Butocarboxim, Butoxycarboxim, Carbaryl, Carbofuran, Carbosulfan, Ethiofencarb, Fenobucarb, Formetanate, Furathiocarb, Isoprocarb, Methiocarb, Methomyl, Metolcarb, Oxamyl, Pirimicarb, Propoxur, Thiodicarb, Thiofanox, Triazamate, Trimethacarb, XMC, Xylycarb
1B - Organofosforados Acephate, Azamethiphos, Azinphos-ethyl, Azinphos-methyl, Cadusafos, Chlorethoxyfos, Chlorfenvinphos, Chlormephos, Chlorpyrifos, Chlorpyrifos-methyl, Coumaphos, Cyanophos, Demeton-S-methyl, Diazinon, Dichlorvos/ DDVP, Dicrotophos, Dimethoate, Dimethylvinphos, Disulfoton, EPN, Ethion, Ethoprophos, Famphur, Fenamiphos, Fenitrothion, Fenthion, Fosthiazate, Heptenophos, Imicyafos, Isofenphos, Isopropyl O-(methoxyaminothio-phosphoryl) salicylate, Isoxathion, Malathion, Mecarbam, Methamidophos, Methidathion, Mevinphos, Monocrotophos, Naled, Omethoate, Oxydemeton-methyl, Parathion, Parathion-methyl, Phenthoate, Phorate, Phosalone, Phosmet, Phosphamidon, Phoxim, Pirimiphosmethyl, Profenofos, Propetamphos, Prothiofos, Pyraclofos, Pyridaphenthion, Quinalphos, Sulfotep, Tebupirimfos, Temephos, Terbufos, Tetrachlorvinphos, Thiometon, Triazophos, Trichlorfon, Vamidothion
2 - Bloqueadores de canais de cloro mediados pelo GABA 2A - Ciclodienos Chlordane, Endosulfan
2B - Fenilpirazois (fiproles) Ethiprole, Fipronil
3 - Moduladores de canais de sódio 3A - Piretroides e Piretrinas Acrinathrin, Allethrin, d-cis-trans Allethrin, d-trans Allethrin, Bifenthrin, Bioallethrin, Bioallethrin Scyclopentenyl isomer, Bioresmethrin, Cycloprothrin, Cyfluthrin, beta-Cyfluthrin, Cyhalothrin, lambdaCyhalothrin, gamma-Cyhalothrin, Cypermethrin, alpha-Cypermethrin, beta-Cypermethrin, thetacypermethrin, zeta-Cypermethrin, Cyphenothrin, (1R)-trans- isomers], Deltamethrin, Empenthrin (EZ)- (1R)- isomers], Esfenvalerate, Etofenprox, Fenpropathrin, Fenvalerate, Flucythrinate, Flumethrin, tau-Fluvalinate, Halfenprox, Imiprothrin, Kadethrin, Permethrin, Phenothrin [(1R)-trans- isomer], Prallethrin, Pyrethrins (pyrethrum), Resmethrin, Silafluofen, Tefluthrin, Tetramethrin, Tetramethrin [(1R)-isomers], Tralomethrin, Transfluthrin
3B - DDT Metoxicloro DDT Methoxychlor
4 - Moduladores competitivos de receptores nicotínicos da acetilcolina 4A - Neonicotinoides Acetamiprid, Clothianidin, Dinotefuran, Imidacloprid, Nitenpyram, Thiacloprid, Thiamethoxam
4B - Nicotina Nicotina
4C - Sulfoxaminas Sulfoxaflor
4D - Butenolides Flupyradifurone
4E - Mesoionicos Triflumezopyrim
5 - Moduladores alostéricos de receptores nicotínicos da acetilcolina Spinosinas Spinosad, Spinetoram
6 - Moduladores alostéricos de canais de cloro mediados pelo glutamato Avermetctinas, Milbemicinas Abamectin, Emamectin benzoate, Lepimectin, Milbemectin
Crescimento e desenvolvimento 7 - Mímicos do hormônio juvenil 7A - Análogos do hormônio juvenil Hydroprene, Kinoprene, Methoprene
7B - Fenoxicarb Fenoxicarb
7C - Pyriproxyfen Pyriproxyfen
Desconhecido ou não especificado 8 - Miscelânea: Inibidores não-específicos (multiplos sítios) 8A - Alifático halogenado Brometo de metila e outros alifáticos halogenados
8B - Cloropicrina Chloropicrin
8C - Fluoretos Cryolite, Sulfuryl fluoride
8D - Boratos Borax, Boric acid, Disodium octaborate, Sodium borate, Sodium metaborate
8E - Borax Borax
8F - Geradores de metil isotiocionato Dazomet, Metam
Nervo e músculo 9 - Moduladores de canais TRPV de órgãos cordonotais 9B - Derivados de piridina de azometina Pymetrozine, Pyrifluquinazon
9D - Pyropenes Afidopyropen
Crescimento e desenvolvimento 10 - Inibidores de crescimento de ácaros 10A - Clofentezine, Diflovidazin, Hexythiazox Clofentezine, Diflovidazin, Hexythiazox
10B - Etoxazole Etoxazole
Intestino médio 11 - Disruptores microbianos da membrana do mesêntero 11A - Bacillus thuringiensis e proteínas inseticidas produzidas Bacillus thuringiensis subsp. israelensis, Bacillus thuringiensis subsp. aizawai, Bacillus thuringiensis subsp. kurstaki, Bacillus thuringiensis subsp. tenebrionis, B.t. crop proteins: Cry1Ab, Cry1Ac, Cry1Fa, Cry1A.105, Cry2Ab, Vip3A, mCry3A, Cry3Ab, Cry3Bb, Cry34Ab1/Cry35Ab1
11B - Bacillus sphaericus Bacillus sphaericus
Respiração celular 12 - Inibidores de ATP sintetase mitocondrial 12A - Diafenthiuron Diafenthiuron
12B - Organoestânicos Azocyclotin, Cyhexatin, Fenbutatin oxide
12C - Propargite Propargite
12D - Tetradifon Tetradifon
13 - Desacopladores da fosforilação oxidativa via disrupção do gradiente de próton Chlorfenapyr, Dinitrofenol, Sulfluramida Chlorfenapyr, DNOC, Sulfluramid
Nervo e músculo 14 - Bloqueadores de canais dos receptores nicotínicos da acetilcolina Análogos de nereistoxina Bensultap, Cartap hydrochloride, Thiocyclam, Thiosultap-sodium
Crescimento e desenvolvimento 15 - Inibidores da biosíntese de quitina, tipo 0, Lepidoptera Benzoilureias Bistrifluron, Chlorfluazuron, Diflubenzuron, Flucycloxuron, Flufenoxuron, Hexaflumuron, Lufenuron, Novaluron, Noviflumuron, Teflubenzuron, Triflumuron
16 - Inibidores da biosíntese de quitina, tipo 1, Hemiptera Buprofezin Buprofezin
17 - Disruptores da ecdise, Diptera Cyromazine Cyromazine
18 - Agonistas de receptores de ecdisteroides Diacilhidrazinas Chromafenozide, Halofenozide, Methoxyfenozide, Tebufenozide
Nervo e músculo 19 - Agonistas de receptores de ocptopamina Amitraz Amitraz
Respiração celular 20 - Inibidores do Complexo III da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria 20A - Hidrametilnona Hydramethylnon
20B - Acequinocil Acequinocyl
20C - Fluacrypyrim Fluacrypyrim
20D - Bifenazato Bifenazate
21 - Inibidores do Complexo I da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria 21A - Acaricidas e Inseticidas Meti Fenazaquin, Fenpyroximate, Pyrimidifen, Pyridaben, Tebufenpyrad, Tolfenpyrad
21B - Rotenona Rotenone
Nervo e músculo 22 - Bloqueadores de canais de sódio dependentes da voltagem 22A - Oxadiazinas Indoxacarb
22B - Semicarbazonas Metaflumizone
Crescimento e desenvolvimento 23 - Inibidores da acetil CoA carboxilase Derivados de ácido tetrônico e tetrâmico Spirodiclofen, Spiromesifen, Spirotetramat
Respiração celular 24 - Inibidores do Complexo IV da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria 24A - Fosforetos Aluminium phosphide, Calcium phosphide, Phosphine, Zinc phosphide
24B - Cianetos Calcium cyanide, Potassium cyanide, Sodium cyanide
25 - Inibidores do Complexo II da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria 25A - Derivados de beta-cetonitrila Cyenopyrafen, Cyflumetofen
25B - Carboxanilidas Pyflubumide
Nervo e músculo 28 - Moduladores de receptores de rianodina Diamidas Chlorantraniliprole, Cyantraniprole, Cyclaniliprole, Flubendiamide
29 - Moduladores de órgãos cordonotais - alvo de ação indefinido Fionicamide Flonicamid
30 - Moduladores alostéricos de canais de cloro mediados pelo GABA Metadiamidas, Isoxazolines Brofanilide, Fluxametamide
Intestino médio 31 - Disruptores virais da membrana peritrófica do intestino médio Granuloviruses (GVs) "Cydia pomonella GV Thaumatotibia leucotreta GV"
"Nucleopolyhedroviruses (NPVs)" "Anticarsia gemmatalis MNPV Helicoverpa armigera NPV"
Nervo e músculo 32 - Moduladores alostéricos de receptores nicotínicos da acetilcolina (nAChR) GS-omega/kappa HXTXHv1a peptide

GS-omega/kappa HXTX-Hv1a peptide

Desconhecido ou não especificado UN - Compostos com modo de ação desconhecido ou incerto Azadirachtin Azadirachtin
Benzoximate Benzoximate
Bifenazate Bifenazate
Bromopropylate Bromopropylate
Chinomethionat Chinomethionat
Dicofol Dicofol
GS-omega/kappa HXTX-Hv1a peptide

GS-omega/kappa HXTX-Hv1a peptide

Calda sulfocálcica Lime sulfur
Pyridalyl Pyridalyl

Fonte: Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas - IRAC

 

Classificação do modo de ação conforme a praga

Nas imagens abaixo, retiradas do site Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas - IRAC, você pode verificar quais mecanismos de ação são utilizados para algumas pragas.

 

 

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

IRAC, Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas. Classificação do Modo de Ação de Inseticidas A Chave para o Manejo da Resistência a Inseticidas. 2018. Disponível em: https://irac-online.org/documents/classificacao-do-modo-de-acao. Acesso em: 06 dez. 2023. 

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