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Como evitar o surgimento de resistência ao aplicar defensivos?

Leia sobre o manejo da resistência ao aplicar defensivos agrícolas.


Foto: Divulgação

Os patógenos, plantas e insetos-praga são organismos altamente adaptáveis, que podem evoluir para a resistência a defensivos agrícolas, reduzindo a sua eficiência. O surgimento de resistências é uma ameaça à produção de alimentos a nível mundial. Existem inúmeros relatos de alvos biológicos com algum nível de resistência aos inseticidas, herbicidas, fungicidas etc. Mesmo com o aumento do controle químico nos diversos cultivos, a interferência das pragas agrícolas no Brasil não tem diminuído, devido ao aumento dos casos de alvos resistentes aos defensivos.

A resistência é uma alteração genética da sensibilidade do organismo a um agrotóxico, e geralmente ocorre como resposta ao uso repetitivo de defensivos agrícolas semelhantes. Ao aplicar um defensivo, elimina-se os indivíduos sensíveis ao produto, ficando vivos os organismos resistentes, que se reproduzem e originam novos indivíduos com maior grau de resistência. A resistência pode ser considerada um fenômeno de ocorrência natural, porém, é acelerada pelo uso inadequado dos defensivos. Alguns indivíduos já possuem, anteriormente à aplicação do defensivo, a característica de resistência, e a sua evolução ocorre pela alta pressão de seleção exercida pela aplicação repetida de produtos com o mesmo modo de ação.

Veja abaixo alguns exemplos de organismos com importância agrícola com alguma resistência aos defensivos:

  • Pragas: mosca-branca, ácaro da leprose, broca da cana-de-açúcar, gorgulho-do-milho, traça-do-tomateiro, ácaro rajado etc.;
  • Plantas daninhas: caruru-gigante, picão-preto, buva, capim-arroz, azevém, capim-marmelada etc.;
  • Fungos: mofo-cinzento, mancha-de-alternaria, mancha alvo, ferrugem-da-soja etc.

 

Como controlar pragas, doenças ou plantas daninhas resistentes aos defensivos?

As estratégias de manejo de resistência são bastante conhecidas pelos produtores, ainda assim, muitos não as implementam por motivos financeiros, ou adotam apenas as práticas mais convenientes. As estratégias envolvem três pontos básicos:

  • Monitoramento constante no campo, identificando mudanças na eficiência de defensivos utilizados;
  • Enfoque no controle considerando os níveis de dano econômico;
  • Uso de múltiplas estratégias de controle (manejo integrado).

Dentre as múltiplas estratégias de controle, podemos citar estratégias de prevenção, práticas culturais, controle biológico, plantas transgênicas, resistência genética, rotação de culturas, adubação e irrigação equilibradas etc. 

Quanto ao controle químico, a dosagem influencia muito na resistência. Doses acima do recomendado promovem uma alta pressão de seleção, ao passo que dosagens abaixo do recomendado permitem a seleção de diversas populações com diferentes níveis de resistência, havendo o intercruzamento entre elas, resultando também na evolução de resistências. Dessa forma, é fundamental respeitar as doses indicadas na bula, pois estas foram testadas pelas empresas em diferentes condições.

Diversos fatores podem alterar a dose do produto que atinge o alvo. Para evitar tais problemas, devemos escolher de forma adequada o volume de calda e a ponta de pulverização, bem como regular corretamente o equipamento de pulverização, e após, realizar a calibração do equipamento. Para ler sobre estas etapas, clique aqui! Também ressalta-se que o uso de adjuvantes é uma alternativa que melhora a eficiência de defensivos agrícolas, o que auxilia no manejo da resistência, reduzindo as perdas que ocorrem durante a pulverização..

Ressaltamos também a grande importância de se rotacionar defensivos com diferentes mecanismos de ação, aplicar os produtos no momento correto, conforme indicado na bula (por exemplo, no estágio inicial de desenvolvimento das plantas ou no estágio mais vulnerável dos insetos), além de respeitar o intervalo de aplicação.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

AGOSTINETTO, D.; VARGAS, L. Resistência de plantas daninhas a herbicidas. In: AGOSTINETTO, D.; VARGAS, L. (Eds.) Resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil. Pelotas: Editora UFPel, 2014. p.09-32.

BASS, C. et al. The global status of insect resistance to neonicotinoid insecticides. Pesticide Biochemistry and Physiology, v.121, p. 78-87, 2015.

HICKS, H. L. et al. The factors driving evolved herbicide resistance at a national scale. Nature Ecology and Evolution, v.2, p.529-536, 2018.

IRAC. Insecticide Resistance Action Committee. Disponível em: <https://www.irac-online.org/about/resistance/>. Acesso em 05 dez. 2023.

MELO, A. A.; ULGUIM, A. da R. Tecnologia de aplicação e a resistência aos defensivos agrícolas. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. rev. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 247-260.

MORTIMER, A. M. Review of graminicide resistance. Disponível em: <http://ipmwww.ncsu.edu/orgs/hrac/monograph1.htm>. Acesso em: 05 dez. 2023.

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