Perdas de milho: A ameaça da cigarrinha
“No Triângulo Mineiro está impraticável, os ataques estão severos"
O fitotecnista Paulo Garollo, com mais de 40 anos de experiência na cultura do milho, é um dos principais especialistas do país no estudo da cigarrinha-do-milho (Daubulus maidis), considerada a maior praga do cereal atualmente. Ele destaca que os danos causados pela praga já são evidentes no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e nos Estados Unidos.
Na Argentina, por exemplo, a cigarrinha causou uma perda de 40% na última safra. Nos Estados Unidos, há um esforço crescente de pesquisa para conter seu avanço, especialmente em estados como Flórida e Oklahoma, antes que a praga chegue ao cinturão do milho. No Brasil, Garollo observa que a cigarrinha-do-milho continua se espalhando rapidamente pelo território.
“No Triângulo Mineiro está impraticável, os ataques estão severos. No Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e Goiás, há vários registros de efeitos nocivos da ‘cigarrinha’. Principalmente nas áreas do país onde se estabelecem ‘pontes verdes’ (plantio de milho o ano inteiro), a população da praga e as doenças que ela transmite se mostram hoje altamente representativas”, diz ele.
De acordo com Garollo, a Daubulus maidis transmite bactérias do grupo dos Molicutes e dois vírus responsáveis pelas doenças enfezamento vermelho e amarelo, além do vírus do raiado fino. Ele já observou a dizimação de lavouras, com perdas que variam de 70% a 90% em certos híbridos. O principal impacto da praga é a redução da formação do grão de milho, resultando em grãos de menor peso e qualidade, além de plantas mais baixas e com aparência "enfezada". Em casos extremos, os grãos podem murchar a ponto de não serem pressionados pelas palhas, permitindo a entrada de água e causando pré-germinação. Isso gera prejuízos adicionais, como "descontos" na entrega e comercialização do milho.
“Antes, avaliavam-se resultados de produtos somente na fase adulta da ‘cigarrinha’. Nós, constatamos que o correto é priorizar também o controle na fase ninfal, em que a praga se multiplica rapidamente no sistema agrícola e perpetua a espécie”, salienta Garollo. “As ninfas vivem embaixo da folha, com baixíssima mobilidade na planta, protegidas, sobrevivendo em grandes proporções e sempre aumentando suas populações”, conclui.