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Preço do milho inviabiliza avicultura


Os custos do transporte e a dependência de centros produtores formam um cenário adverso.

A decisão do Governo Federal de manter o veto aos grãos transgênicos no País poderá provocar uma perda sem precedentes para os produtores de carne de frango e ovos do Nordeste. Os avicultores da região, que vêm enfrentando uma das maiores crises da história do setor, estão se sentindo abandonados. A decisão foi tomada ontem, depois de uma reunião entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, que é favor aos transgênicos, e a ministro do Meio Ambiente, Marina Silva, que é contra.

De acordo com o presidente da Associação dos Avicultores de Pernambuco (Avipe), Edilson Santos Júnior, o problema é que os avicultores do Sul podem comprar milho a R$ 19,00, a saca, já que se trata de uma região produtora, enquanto que os de Pernambuco têm de desembolsar, pela mesma quantidade do grão, R$ 34,00, perdendo competitividade. A posição da Avipe é apoiada pelo Governo de Pernambuco, que não vê riscos na utilização dos transgênicos pela avicultura.

O preço do milho é mais caro no Nordeste por conta dos custos com frete (R$ 8,00 por saca). Antes, esse problema era resolvido pelo Governo Federal quando havia excedente de produção. Para que os avicultores não importassem o grão da Argentina, o Governo comprava o excedente e vendia aos avicultores nordestinos com subvenção. Hoje, os estoques de milho do Governo Federal estão zerados. Noutras palavras, não há milho público no País, só privado.

Como o milho importado, que vem de navio, não tem impostos, ele chega ao Brasil com um preço acessível, mas com a decisão do Governo Federal os avicultores não podem mais comprar milho de fora. `Ou o Governo libera o transgênico para consumo animal no Nordeste ou arranja uma política de abastecimento compatível com o preço do milho importado`, desabafa o presidente da Avipe.

Segundo o empresário, há dois meses, o Governo Federal prometeu realizar um leilão de 150 mil toneladas de milho, que até ontem não havia sido marcado, o que obriga os produtores a continuarem a pagar preços exorbitantes. Ainda de acordo com Edilson, 90% da soja e do milho produzidos no Sul são transgênicos e o Governo não proíbe. `O Nordeste não pode importar, mas o Rio Grande do Sul pode produzir e vender`, reclama ele.

Por conta da demora do Governo Federal em encontrar uma solução para o problema que os avicultores nordestinos vêm enfrentando, o presidente da Avipe, com o aval de todos os associados, entregou, no dia 31 de janeiro deste ano, um dossiê ao ministro Roberto Rodrigues. De acordo com o documento, mais de 17 mil postos de trabalho foram extintos e 162 granjas fechadas, fazendo com que o setor, em Pernambuco, sofresse uma queda da ordem de R$ 100 milhões no faturamento até dezembro do ano passado.

Desde as celeumas jurídicas que impediram o desembarque do milho no Porto do Recife, no ano 2000, os avicultores vinham mantendo o plantel avícola comprando milho, produzido na região Centro Oeste do Brasil, nos leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), pelo mesmo preço do milho argentino. Mas, como adiantou Edilson, não há mais estoque de milho da Conab, para 2003 e o de 2002, já acabou no ano passado.

A última remessa de 14,5 mil toneladas de milho leiloado pela Conab, que chegou ao Porto do Recife, há menos de um mês, é insuficiente para garantir o abastecimento até o final do mês. O volume representa menos da metade do consumo mensal do setor avícola no Estado, que chega a 50 mil toneladas. Hoje, o estoque de milho da região é suficiente apenas para atender às necessidades dos produtores de Pernambuco.

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