CI

A "lógica" na crise de alimentos



Ricardo Moncorvo Tonet

Uma das máximas da teoria econômica refere -se aos fundamentos da análise da oferta e demanda, que numa economia de mercado livre têm no preço a principal força organizadora de todo esse sistema.

Na lógica econômica, a tendência é que com o tempo atinja -se o equilíbrio entre a oferta e a demanda, ajustando -se assim os preços.

Atualmente, muito tem -se falado da crise na produção de alimentos, com o excessivo aumento dos produtos básicos na alimentação humana.

A médio - longo prazos espera -se uma adequação entre a oferta e a demanda de alimentos, mas, segundo alguns economistas e analistas de mercado, a previsão é que essa adequação deva demorar entre quatro a cinco anos.

E o que fazer com a “fome” imediata que pode afligir a humanidade, especialmente os menos favorecidos?

Inicialmente, devemos nos ater aos prováveis motivos para essa atual situação:

1. baixo estoque mundial de alimentos;
2. problemas climáticos em diversas regiões produtoras do mundo;
3. aumento do consumo de alimentos por países em processo de desenvolvimento, especialmente a China, pelo tamanho de sua população;
4. aumento das áreas para produção de biocombustíveis, pela necessidade de novas fontes de energia renováveis;
Muitos desses problemas climáticos, além das variações naturais, podem já ser uma resposta da natureza ao efeito do aquecimento global, demonstrando, mais do que nunca, que devemos repensar nossa sociedade, com o objetivo de um desenvolvimento realmente sustentável.
Não tanto pela questão ambiental, como muitos países querem transparecer, mas muito mais pelo crescente aumento no custo do petróleo, busca -se de maneira desenfreada por alternativas ao petróleo nos aclamados biocombustíveis. O que é difícil de aceitar é a crítica ao álcool de cana – de – açúcar, tecnologia esse desenvolvida e utilizada no Brasil há mais de trinta anos, o que parece algo absurdo é a produção de álcool a partir do milho, como tem ocorrido nos Estados Unidos, sendo que esse alimento poderia estar ser melhor utilizado.

Lendo uma revista semanal de circulação nacional, um dado me chamou a atenção. Quando alguem na Avenida Paulista, em São Paulo ou um chinês de Pequim ou um europeu em Paris toma um copo de suco de laranja, acaba “bebendo” também dois copos de petróleo. É claro que não se pode querer produzir no asfalto das grandes cidades, mas faz – se necessário regionalização da produção agropecuária, diminuindo os custos de produção, transporte, comercialização desses produtos agrícolas.

Com relação ao aumento do consumo pelo maior poder aquisitivo da população e, com consequente melhora na qualidade de vida das pessoas, esse me parece um fato perfeitamente natural e desejável. Esperamos também que essa inclusão social, possa atingir muito mais pessoas em um curto espaço de tempo. Assim, pelo lado do consumidor esse aumento nos preços dos alimentos, pode dificultar o acesso de muitos a esse direito básico de alimentar -se de maneira digna.

Por outro lado, os produtores rurais, em particular aqueles que não são produtores de “commodities” agrícolas, mas sim de alimentos básicos, que há muito vêm sendo prejudicados pelo aumento dos custos de produção, principalmente dos insumos básicos; pelas dificuldades de comercialização; pelos históricos de preços baixos aos alimentos básicos e por uma fala de políticas adequadas, como, por exemplo, ocorreu com o desestímulo ao trigo no Brasil.

Não sei precisar as soluções para os problemas imediatos da escassez de alimentos, até porque não estamos falando de uma indústria com capacidade ociosa, mas sim de agropecuária, que necessita de um prazo maior para atender as necessidades do mercado. Mas, algumas atitudes devem ser tomadas, como o urgente desenvolvimento do continente africano, diminuição dos subsídios agrícolas pelos países ricos e valorização dos produtores de alimentos.

Com certeza, ainda, algumas lições já podem se tiradas de toda essa situação e todas passam, necessariamente, pelo reconhecimento da agricultura familiar, que é a grande responsável pela produção de alimentos.

No Brasil, por exemplo, a agricultura familiar, corresponde a 77% do valor da agropecuária total, sendo responsável por 67% da produção de feijão; 49% do milho; 32% da soja; 52% do leite; 58% dos suínos e 40% das aves e ovos.

Assim, urge implementar políticas adequadas para a agricultura familiar como preços mínimos, estímulo à organização rural, como instrumento de melhor participação no mercado; regionalização da produção agropecuária e alternativas de comercialização.

Apesar das regras do mercado que movem a economia mundial, faz – se necessário, uma nova conduta de toda a sociedade, com uma visão mais humana do que se entende por desenvolvimento, que deve significar a realização de potencialidades sociais, culturais e econômicas, em perfeita sintonia com o seu entorno ambiental e, no mais amplo conceito de cidadania.

Eng. Agr. Ricardo Moncorvo Tonet
[email protected]

 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.