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Sead participa da criação de fortaleza do cambuci, em São Paulo

Por meio do projeto que carrega o slogan “Alimento bom, limpo e justo para todos”


Por meio do projeto que carrega o slogan “Alimento bom, limpo e justo para todos” do movimento internacional Slow Food, a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) visitou produtores em São Paulo para criar a fortaleza da fruta cambuci. A agenda aconteceu nesta segunda-feira (19), na região conhecida como Rota do Cambuci, no bairro Parelheiros. A ação faz parte de um acordo assinado entre Sead, Slow Food e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para promover a produção e o consumo de alimentos da agricultura familiar, valorizando o trabalho desenvolvido no campo em todo o Brasil. Estiveram presentes representantes de cada instituição envolvida no trabalho.

Ao longo de dois anos, a Sead se comprometeu a investir R$ 3 milhões nas ações que pretendem, entre outras metas, identificar novos produtos para a Arca do Gosto (leia mais aqui), criando outras fortalezas e consolidando as já existentes que corram algum risco. O cambucizeiro chegou a estar em perigo de extinção por ter a madeira de sua árvore bastante explorada para a fabricação de ferramentas e utensílios e também devido ao desmatamento pelo crescimento urbano da própria cidade. A partir do momento que um alimento é listado, a exemplo do cambuci, o projeto aproxima e insere comunidades do cultivo, viabiliza o acesso a mercados, estabelece escoamento da produção e capacita para a ecogastronomia. 

A consultora para o Slow Food da Sead, Nadiella Monteiro, ressalta que as fortalezas surgem para ajudar os pequenos produtores a resolver suas dificuldades e valorizar a produção. “O cambuci é da Arca do Gosto, nativo da mata Atlântica e existe uma rota que produz aqui na região. Agora é preciso fortalecer a cadeia e utilizar o alimento de forma variada como na cachaça, geleia e sorvete, colocando no mercado. É um momento de organizar, trazer os agricultores para perto e é importante a presença das instituições que trabalham com a agricultura”.

Propriedades na Rota do Cambuci 

O agricultor familiar José Geraldo Batista teve sua propriedade visitada pelo grupo. Ele começou o cultivo com hortaliças variadas e foi expandindo as culturas. Hoje o forte é venda de cana-de-açúcar e banana, mas há quatro anos começou a investir no cambuci. No ano passado, teve os primeiros resultados, o pé passou a dar frutos e ele já comercializa a cachaça de cana curtida no cambuci. “Achei interessante, peguei umas mudas e plantei. As árvores estão pequenas e deram alguns frutos, mas chegam a produzir e, média 200 quilos. Quando der 50 quilos eu já estarei satisfeito. Vi que pode produzir bastante”, explica.

Com orgulho, ele conta sobre a qualidade do que produz no dia a dia na terra. “Eu não uso veneno, é tudo orgânico, sei que é uma alimentação saudável e tenho certificação. Aqui qualquer um participa do meu trabalho, pode ir comigo colher na roça. É uma agricultura limpa que já tem clientela na região”.

A segunda propriedade visitada foi a da Ana Coutinho, conhecida como Ana do Mel, por criar várias espécies de abelha. Há mais de 20 anos, ela passou a implantar um sistema agroflorestal na chácara e hoje é referência na Rota do Cambuci. Com uma agrofloresta de 150 mil metros, produzindo das mais diversas árvores e plantas, a família chega a ter uma renda mensal de aproximadamente 5 salários mínimos. “A gente sabe colher sem desmatar, sem destruir, pelo contrário, reflorestamos. Vimos o aumento da água no córrego. Vendemos nossos produtos na feira e ainda ensino outras mulheres a trabalhar como eu e chegar onde cheguei”, disse ela ao explicar que tudo foi possível quando se aprofundou nos projetos de agroecologia com o objetivo de sobreviver naquela terra.

A terceira propriedade que recebeu a equipe do projeto foi da Valéria Maria Macoratti, presidente da Cooperapas Agricultura Orgânica Parelheiros. Atualmente com 34 produtores rurais, a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP)jurídica foi adquirida recentemente. “Esperamos acessar e ampliar o mercado para os produtores da região. É preciso que todos saibam a importância da nossa militância e levantem a bandeira do empoderamento do agricultor”, enfatiza ela, sobre a forma de organização dos colegas para atingirem seus objetivos.

 A Delegacia Federal da Sead no estado (DFDA-SP) ofereceu suporte na programação. E agendas como a de Parelheiros, em São Paulo, já estão programadas ao longo deste ano por diferentes regiões do Brasil. “A oportunidade de visitar estes agricultores que cultivam cambuci e diversas outras culturas, todas com práticas agroecológicas e produção orgânica, evidencia a importância da valorização de alimentos tradicionais locais. Foi visto o orgulho com que cada um falou sobre sua produção e sobre a diferença do cultivo sem aditivos químicos”, conclui a coordenadora geral substituta de agroecologia e produção sustentável da Sead, Raquel Martins.


Sobre o Slow Food

O Slow Food foi fundado em 1986, na Itália, e conta com mais de 100 mil membros, apoiadores em 150 países. No movimento, é criticado o sistema agrícola que privilegia a produção extensiva e a monocultura, além de mercantilizar a terra e desvalorizar o trabalho do agricultor. É defendida a necessidade preservar culturas e tradições alimentares locais e a biodiversidade.

O princípio básico é defender o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade, com respeito ao meio ambiente e aos produtores. No Brasil, há 46 itens no catálogo de promoção da organização e quase todos oriundos da agricultura familiar. Para a organização, a conscientização sobre as escolhas alimentares contribui para preservar o planeta. O movimento mantém, por exemplo, hortas na África, Oficinas do Gosto e uma Universidade de Ciências Gastronômicas, legalmente reconhecida pelo governo italiano.

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