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Produtores do Rio Grande do Sul se rendem aos silos

Linhas de financiamento permitem expansão


Junto com a disseminação da soja na Metade Sul do Estado também ganha espaço um novo tipo de produtor. Mais prevenido e de olho em potenciais rendas associadas à estrutura de armazenagem de grãos. Casos como o do bageense Delmar Salton Junior são cada vez mais comuns. Além de ampliar áreas para a oleaginosa, Salton “planta” silos para guardar a própria safra e atender à demanda de outros produtores na região. Financiamentos mais baratos lastreados em recursos do Tesouro Nacional, repassados pelo Bndes, ou da carteira dos bancos impulsionam a aquisição.

A Superintendência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que os novos empreendimentos e a ampliação de existentes pode ter elevado em 20% a capacidade estática de estocagem no Estado. Os dados até 2013 da Conab apontam capacidade para guardar 27,3 milhões de toneladas de grãos, o que indicava déficit de 2,2 milhões de toneladas ante colheita de mais de 29 milhões de toneladas (safra 2013/2014).

O superintendente regional da estatal, Glauto Melo Junior, espera ter até o fim de outubro novo censo da estrutura instalada, mas acredita que os novos investimentos garantem hoje oferta maior que a safra. “O problema é que a distribuição é desigual entre as regiões”, pondera Melo.

Na região de Bagé, o avanço da armazenagem mudou a fisionomia do Pampa. Nas coxilhas, silos metálicos novos se erguem, e demarcam o horizonte em dias ensolarados. A prefeitura da cidade emitiu 15 novas licenças de operação a silos e armazéns entre 2013 e setembro deste ano. Também há mais cinco licenças prévias em andamento.

Salton começou a investir em 2010, com silo pequeno. Em 2013, o produtor retirou R$ 5,5 milhões do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), com juros de 3,5% ao ano, e aumentou a mais de 50 mil toneladas a capacidade. “Focamos em armazenar soja, com giro que pode elevar em 3,5 a capacidade no ano”, cita o bageense, devido ao fluxo de exportação. “Agricultores viviam reclamando que tinham de mandar ao porto, agora não precisam mais”, avisa Salton.

No campo, a soja já soma 750 hectares e tira espaço da pecuária e do arroz às margens da BR-153, também em Bagé. Agora, a família Pillon vai entrar no ramo de silos, com investimento de R$ 4,5 milhões, R$ 3,2 milhões de bancos, para uma capacidade estática que pode alcançar 30 mil toneladas.

Um dos diretores da futura Pillon Agrícola, Gustavo Pillon, conta que já está recebendo pedidos de “vizinhos de campo” para reservar espaço na estocagem de soja. “A ideia é agregar nova receita à agricultura, e pensamos em ampliar a capacidade”, projeta Pillon.

Na beira da Lagoa dos Gateados, em Mostardas, o produtor Clovis Terra Machado dos Santos ampliou a estrutura com novos aportes e poderá receber 5 mil toneladas de grãos. Santos aponta a oferta de crédito mais barato e maior prazo para pagar (até 15 anos) como fatores que validaram a decisão. “O programa de financiamento veio a calhar e viabiliza a armazenagem perto da lavoura”, ressalta o proprietário da Fazenda do Cardoso.
Estado tem quase 50% das novas unidades financiadas por meio de linhas do Bndes

O Rio Grande do Sul respondia, em 2013, por menos de 20% da capacidade estática de armazenagem de grãos no País, que totalizava 144,9 milhões de toneladas. Na demanda por crédito, empreendimentos de produtores e cerealistas gaúchos representavam 45% dos projetos que receberam repasses do Bndes de janeiro até dia 9. O Estado lidera em número de projetos nas linhas Cerealista e Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA). Os contratantes gaúchos somavam 27% do montante repassado em 2014. Frente a 2013, os contratos firmados até o começo deste mês mostram crescimento de quase 800% no volume financeiro frente a todo ano de 2013.

Dos 266 empreendimentos nas duas modalidades (cerealista e produtores), 141 são de silos para agricultores. No ano passado, foram 27. Se forem computados os números de toda a carteira (consultas em análise, aprovadas e contratadas) a estimativa no Estado é de R$ 353,9 milhões na safra 2013/2014 e R$ 103,4 milhões no ciclo 2014/2015. No Brasil, são R$ 2 bilhões na última safra e R$ 368 milhões na nova.

Áreas de crédito rural de bancos esperam mais pedidos. O BRDE somou 42 projetos até agosto, de R$ 111 milhões e capacidade de 268 mil toneladas.

O Banco do Brasil utiliza caixa próprio, e somou até junho R$ 100 milhões no PCA, dentro da safra 2013/2014. João Carlos Comerlato, gerente de Mercado de Agronegócios, recebeu R$ 60 milhões em pedidos e liberou R$ 10 milhões a produtores. O Badesul registra, de agosto de 2013, estreia do PCA, até agora, 79 operações, orçadas em R$ 90,6 milhões, sendo que 64 foram assinadas e somam R$ 80,6 milhões.
Indústria e estoques públicos contribuem para armazenagem no Rio Grande do Sul

O governo federal quer ampliar em 65 milhões de toneladas de capacidade estática no setor privado nos próximos cinco anos no País por meio da injeção de crédito. O aporte é estimado em R$ 25 bilhões e integra o Plano Nacional de Armazenagem (PCA). Da capacidade atual, 65% está nas mãos de empresas, 20,6% de cooperativas, 10,6% em produtores e 4% com o braço governamental.

O superintendente de armazenagem da Conab, Rafael Bueno, informa também que está em curso a construção de estruturas públicas que agregarão 800 mil toneladas para receber estoques públicos. Em 2013, a capacidade pública era de 5,5 milhões de toneladas. Serão R$ 380 milhões para erguer silos em 10 estados, entre eles o Rio Grande do Sul. “Identificamos regiões com maior carência, e a ideia é ter unidades mais perto dos produtores”, explicou Bueno. No Estado, uma nova unidade será implantada até 2016 em Estrela, com cem mil toneladas e valendo R$ 23 milhões. No complexo logístico (modais rodoviário, ferroviário e hidroviário), a Conab tem silo de 60 toneladas e atende compra a balcão de pequenos produtores.

A Coradini Alimentos, com unidades na Campanha, expandiu estrutura em 2013 buscando financiamentos como a linha Cerealista. Em Bagé, passou de instalações de 12 mil para 15 mil toneladas, e em Dom Pedrito, de 13,3 mil para 20 mil toneladas. “Estamos prontos para receber soja”, sinaliza Antônio Carlos Coradini, um dos diretores da empresa, revelando a diversificação no portfólio antes restrito a arroz. “O casamento soja e arroz veio para ficar”, vislumbra Coradini.

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