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Estudos mostram que bacias hidrográficas foram impactadas pelo uso da terra

Na Bacia do Jaguari, houve alterações devido a conversão floresta-pastagem na porção superior e alterações ligadas à urbanização na outra porção


Os principais resultados da pesquisa realizada na porção superior das bacias dos rios Camanducaia e Jaguari, discutidos em seminário em 10 de março na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), mostraram que o ambiente foi impactado pelo uso da terra. Na Bacia do Jaguari, houve alterações devido a conversão floresta-pastagem na porção superior e alterações ligadas à urbanização na outra porção.

No Camanducaia, observou-se também alterações devido à agricultura e silvicultura na porção superior e alterações ligadas à urbanização (e agricultura) na outra porção. No Camanducaia superior, estudos apontam para existência de um potencial de contaminação por pesticidas utilizados em hortaliças. Já na Microbacia do Ribeirão das Posses, em Extrema/MG, estudos mais específicos indicam certa recuperação dos recursos hídricos pelo reflorestamento de APPs e outras práticas adotadas em programa de pagamentos por serviços ambientais (PSA).

Na vertente na bacia do Posses, a equipe fez o detalhamento dos solos e das taxas de  escoamento superficial. Dentre as áreas de cabeceira estudadas, a mais preservada encontra-se em microbacia de um ribeirão localizado em Monte Verde/Camanducaia (MG), enquanto que num outro extremo observou-se contaminação agrícola em ribeirão no município de Toledo.

Conforme o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Ricardo Figueiredo, coordenador da pesquisa, “diante da importância estratégica das cabeceiras das bacias dos rios Camanducaia e Jaguari, situadas no extremo sul do estado de Minas Gerais, para a bacia do Rio Piracicaba e para a manutenção do Sistema Cantareira no Estado de São Paulo, iniciou-se essa pesquisa pela Embrapa em parceria com duas universidades – uma mineira, a Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e outra paulista, a Universidade de São Paulo (USP)”.

O projeto avaliou, em última instância, os efeitos do uso da terra sobre a hidrologia e biogeoquímica dessas microbacias como apoio a gestão, uso racional e sustentável de seus recursos hídricos, proporcionando assim maior embasamento para o desenvolvimento rural no Sul de Minas Gerais.

Foram vários os temas abordados, abrangendo a seleção e caracterização das bacias estudadas, sendo 154 pontos visitados e documentados, variabilidade espacial de carbono e nitrogênio em toda a Bacia, avaliação hidrobiogeoquímica da microbacia do Ribeirão das Posses, biomonitoramento de alguns cursos d'água e avaliação da presença de bioindicadores de qualidade, caracterização de solos e avaliação de perdas de água por escoamento superficial em uma vertente junto às nascentes do Ribeirão das Posses, já que existe potencial de degradação ambiental devido a alta declividade, dominância de pastagem (pouca cobertura do solo), solos predominantemente rasos e mata ciliar/nascentes inexistente ou fora da exigências do Código Florestal vigente.

Conforme Marco Gomes, também pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, integrante da equipe, as perdas totais de solos projetadas por ano para toda a bacia não são expressivas, mas as de água via enxurrada merecem atenção especial.

Mesmo com informações ainda em fase de análise, recomenda-se uma reavaliação do manejo da área de pastagem com a sugestão de implantação de terraços em nível, considerando os tipos de solos, principalmente para minimizar as perdas de água, via enxurrada, já que elas são mais expressivas do que as perdas de solo.

A infiltração mais eficiente da água na área de pastagem contribui não só para o recarregamento do lençol freático, como também interfere de forma positiva no fluxo preferencial em direção ao curso d’água (Ribeirão das Posses), tornando seu volume mais estável ao longo do ano.

Outros pontos estudados foram a presença de pesticidas na bacia do rio Camanducaia, organização de dados meteorológicos da Bacia do Jaguari, aplicação do modelo AgES para quantificar os fluxos hídricos na Bacia do Ribeirão das Posses, sendo essa a primeira pesquisa utilizando esse modelo na América do Sul. O AgES permite interação tanto hidrológica quanto química entre as áreas de terra ou Unidades de Resposta Hidrológica, além de acoplar processos em superfície e sub-superficial do ciclo hidrológico. Pode ser utilizado para estimar as vazões em rios (substituindo dados pouco confiáveis ou preenchendo falhas de dados).

Diante disso, a equipe irá finalizar diagnóstico dos estudos, baseado em dados espaciais (clima, hidrologia, topografia, solos, e uso da terra) em escalas geográficas diferenciadas, e aplicação do modelo hidrológico AgES, considerando diferentes cenários de clima e de uso da terra, para recomendação de políticas públicas, como o PSA por exemplo, e também recomendações de manejo nos diferentes sistemas de produção.

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