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A água vai acabar

A escassez da água traz reflexos profundos à economia


*Por Tercio Garcia

Há muito tempo, ambientalistas falam no final das reservas de água doce em todo o mundo. A seca deste ano tem nos mostrado que aquele não era um discurso alarmista, e sim uma tentativa de conscientização sobre o aumento da população do mundo e o consequente aumento de consumo de água doce.

Precisamos enxergar que a questão climática que leva à falta de chuvas na região Sudeste, com toda a sua importância para a economia nacional e para a sobrevivência de todos os brasileiros, colocou em risco o conforto das classes mais abastadas e a própria vida nas classes mais pobres. É urgente a conscientização de ricos e pobres, trabalhadores e patrões, negros e brancos, homens e mulheres. Chegamos ao limite.

A escassez de água tem sido por toda a história, e principalmente no Brasil, que mantém as maiores reservas de água doce do mundo, um sentimento muito distante.

O conforto gerado pela fartura e baixo custo nos levaou a crer que o caráter de recurso natural renovável transformaria a água em recurso natural infinito, o que está muito longe da verdade. De agora para frente, vale a matemática de balcão: sempre que a saída for maior que a entrada, vai faltar; faltando, sobe o preço; subindo, o preço o consumo reduz.

A escassez da água traz reflexos profundos à economia e, principalmente, à saúde pública. Portanto, é mais sentida na base da pirâmide econômica. Não é à toa, e a história comprova isso, que o sudeste do Aquífero Guarani se desenvolveu desproporcionalmente em relação ao Nordeste do sertão semiárido. Água é vida. E na sua escassez, a vida também fica escassa.

Mas a boa notícia é que há saída.

Muito longe da discussão política sobre se a responsabilidade é do governo ou de São Pedro, paira o início da consciência de que a responsabilidade é de todos nós. Comunidades técnicas e científicas desenvolvem novas tecnologias de irrigação e cultivares mais resistentes às alterações climáticas que levarão a uma produção agrícola menos consumidora.

Já é bastante difundida em outros países a tecnologia de dessalinização da água do mar para consumo humano, gerando um produto com qualidades minerais superiores ao que consumimos hoje.

Há esperanças e meios de reversão da situação atual. Entretanto, é preciso que todos e cada um de nós individualmente compreendamos que não depende de governos. Eles têm, sim, que fazer a sua parte, mas só isso não adianta. Reservatórios maiores não resolvem a questão básica da equação do balcão. Se sair mais do que entra, os imensos reservatórios ficarão também vazios. Economizar, aceitar a água de reuso, conscientizar parentes e vizinhos, e exercer a cidadania não depende de nenhum governo, depende apenas de cada um de nós.

* Engenheiro agrônomo, secretário de administração e presidente do comitê da bacia hidrográfica da baixada santista por dois mandatos
 

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