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Frango do Paraná busca “voo” seguro

Com economia enfraquecida, setor investe mais nos aviários


Apesar dos custos menores e abertura de novos mercados no exterior, a cadeia da avicultura reforça investimentos, mas sem esbanjar otimismo. A queda nos preços internacionais dos insumos da ração (soja e milho) e o aumento nas vendas para países como a Rússia são encarados positivamente pela indústria, mas perdem força frente à perspectiva de baixo crescimento econômico do Brasil e com a própria incerteza de longevidade na relação com os clientes conquistados recentemente. Para não perder o embalo, a meta é ganhar escala. A modernização de granjas e a otimização das operações nos frigoríficos viraram obsessão, constatou a Expedição Avicultura 2014 em trajeto de 1,6 mil quilômetros pelos Campos Gerais e Norte do Paraná.

Os desafios se tornam maiores para empresas independentes, que não operam no modelo cooperativista e nem pertencem aos grandes conglomerados do setor, que garantem demanda aos produtores. No caso da Frangos Pioneiro, de Joaquim Távora (Norte), o foco tem sido a otimização da capacidade instalada, revela o gerente de fomento, Rhoger Henrique dos Santos. A produção diária de 160 mil aves – dobro da operação realizada em 2012 – ocorre sem aumento da infraestrutura da empresa. O patamar de abate atual é confortável, considerando o momento vivido pelo país, indica o executivo. “O cenário é positivo, mas tem que ser avaliado com cautela em virtude do contexto econômico do Brasil, com baixo crescimento.”

O aumento nas exportações com a entrada da Rússia é tratado com parcimônia. “É um mercado que não tem constância, então não se pode abandonar outros clientes para atender essa demanda”, revela Edemir Junior, gerente de exportação da GT Foods, de Maringá, que abate 480 mil aves por dia e acabou de receber habilitação para negociar a produção com o país.

No acumulado das vendas externas até setembro os russos estão entre os dez maiores compradores da proteína brasileira, com a importação de 58,9 mil toneladas, ou 2% do total embarcado. O Paraná é o maior fornecedor da carne para os estrangeiros. No ano passado, o estado embarcou 1,14 milhão de toneladas, quase 30% de tudo que o ­país exportou.

Produtividade

Para não gerar um descompasso entre oferta e demanda nas indústrias, há um esforço concentrado para ganhar produtividade nas granjas. A estratégia inclui apoio dos compradores para garantir modernização dos aviários. Com isso, há uma maior conversão de ração em carne e os custos são diluídos tanto para a indústria como para o produtor. “Entre 60% e 70% do custo da indústria estão na formação dos animais, e isto depende diretamente dos integrados”, contextualiza Sidnei Botazzari, sócio-proprietário da Jaguafrangos, que abate 230 mil aves por dia em Jaguapitã (Norte). Os frigoríficos sustentam a atividade na ponta inicial da cadeia. Com a garantia de comprador, os produtores conseguem crédito para investimentos em tecnologia e reforço na assistência técnica. “Quem não inovar vai acabar ficando para traz”, resume o produtor Carlos Sérgio Bonfim de Andrade, de Castro (Campos Gerais). Ele está finalizando a construção de quatro novos aviários, no valor de R$ 2,8 milhões, que vão elevar capacidade de alojamento da propriedade de 36 mil aves para 170 mil aves por lote.

Filão está em mercados tradicionais e gourmet

A estratégia para garantir uma expansão saudável no mercado avícola passa pelo foco no cliente, seja ele externo ou interno, conforme as indústrias. O consumo de frango no Brasil vem crescendo nos últimos anos. No início da década, cada brasileiro consumia em média cerca de 40 quilos da carne por ano. A previsão atual é que esse valor fique próximo dos 45 quilos per capita/ano. “Nossa recomendação é: cresça de acordo com o seu mercado”, argumenta Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar).

A orientação vem sendo seguida no campo. Em Joaquim Távora (Norte), a Frangos Pioneiro fideliza seu mercado mais tradicional, o varejo, mas sem dispensar outras oportunidades. Entre os destaques está o filão de food service, que atende desde restaurantes e redes de fast food, passando por companhias aéreas e incluindo até mesmo a alimentação do exército, por meio de licitações. “É um mercado que vem crescendo a taxas altas. Esperamos dobrar as entregas nos próximos doze meses”, aponta o gerente comercial da empresa, Fábio Thibes. Hoje o varejo detém cerca de 50% das vendas, enquanto os serviços equivalem a 6%, destaca.

As apostas também incluem modelos que fogem do modelo industrial tradicional. Com abate diário de 4 mil aves por dia a Frango Caipira, de Ivaiporã (Norte), produz em baixa escala, mas tem produção com status de carne nobre. Com animais de menor porte, criados soltos, há um apelo ecológico e um diferencial de sabor que conquista os clientes e abastece redes de alta gastronomia, explica o diretor da empresa, Marcos Batista. Com custo de produção mais elevado, a carne pode custar até três vezes mais do que na produção tradicional, mas isso não inibe os clientes. Prova disso é que os negócios serão ampliados. “Vamos iniciar em fevereiro a produção de ovos caipiras, com meta de produzir 9 mil dúzias por dia até o final de 2015”, revela.

A perspectiva de aumento na demanda interna e externa atrai gente à atividade e sustenta investimentos. O avicultor Carlos Sérgio Bonfim de Andrade não hesitou em abandonar a diretoria de um banco em São Paulo para garantir a sucessão na propriedade dos avós em Castro (Campos Gerais). Após os trancos e barrancos na capital paulista, criou gosto pela atividade avícola. Hoje ele finaliza um projeto de R$2,8 milhões em novas granjas que promete quadruplicar a capacidade de alojamento.

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