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Azevém



Leandro Vargas*
 
Os primeiros casos de resistência a herbicidas foram relatados em 1957, nos Estados Unidos e no Canadá. Muitos outros casos foram relatados desde então, e hoje há aproximadamente 300 biótipos, pertencentes a mais de 120 espécies, de plantas daninhas que apresentam resistência a um ou mais mecanismos herbicidas em vários países. No Brasil existem atualmente 11 espécies reconhecidamente resistentes a diferentes mecanismos herbicidas. Para aumentar esta lista estão sendo confirmados mais dois casos. São os primeiros a relatarem resistência de azevém ao glyphosate no Brasil.

O pesquisador da Embrapa Trigo, Dr. Erivelton Scherer Roman, está estudando um dos biótipos, oriundo de uma área cultivada com culturas anuais e onde se usou repetidamente, por mais de 10 anos, herbicidas contendo a molécula do glyphosate. Resultados preliminares demonstram que este biótipo resiste a mais de seis vezes a dose de glyphosate empregada normalmente para controlar plantas da população sensível. Também constatou-se que o biótipo resistente é sensível ao paraquat e ao clethodim (Select). O segundo caso de azevém resistente ao glyphosate foi detectado por pesquisadores da Embrapa Uva e vinho em um pomar de maçã, onde se utiliza a mais de 20 anos herbicidas a base de glyphosate. Experimentos realizados na área, infestada com biótipos resistentes, evidenciam que alguns biótipos não apresentam sintomas de toxicidade, mesmo quando tratados com doses de glyphosate até 15 vezes superiores as normalmente utilizadas, e que estes são sensíveis ao glufosinate.

O uso do glyphosate para controlar plantas daninhas é comum em pomares. O custo relativamente baixo, a alta eficiência sobre diferentes espécies em estádios vegetativos e as facilidades de aplicação são os principais motivos da preferência dos produtores por esta forma de controle. Entretanto, o uso repetido de uma molécula herbicida pode selecionar biótipos resistentes de plantas daninhas preexistentes na população, favorecendo o aumento do seu número. A constatação da resistência do azevém ao glyphosate em pomares assume grande importância, uma vez que esta molécula é utilizada pela maioria dos produtores e não possui uma alternativa equivalente para substituição. Assim, o controle de plantas daninhas com o uso de herbicida fica comprometido nas áreas infestadas com os biótipos resistentes, restringindo esta prática a outros métodos de controle menos eficientes. Além disso, o azevém é uma espécie que apresenta fecundação cruzada (alógama) e grande potencial de produção de pólen e sementes, características que proporcionam rápida disseminação da resistência no ambiente. Estudos para identificar o mecanismo da resistência e demais características dos biótipos, que servirão para embasar recomendações de manejo, estão sendo realizados na Embrapa Trigo e Embrapa Uva e Vinho. Contudo, nos casos onde há confirmação da resistência, recomenda-se a adoção de medidas capazes de impedir a multiplicação (disseminação de pólen e/ou sementes no ambiente) das plantas resistentes. Depois disso, recomenda-se que sejam adotadas práticas de manejo, nas áreas infestadas com biótipos resistentes, e de prevenção nas demais áreas, onde não existam biótipos resistentes.

A prevenção e o manejo da resistência podem ser implantados com a adoção das seguintes práticas: utilizar herbicidas somente quando e onde realmente for necessário; utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ação; realizar aplicações seqüenciais; realizar rotação de mecanismo de ação; limitar aplicações de um mesmo herbicida; usar herbicidas com menor pressão de seleção (residual e eficiência); fazer rotação de cultura e dos métodos de controle; acompanhar mudanças na flora e evitar que plantas suspeitas produzam sementes. No caso específico de culturas perenes (pomares) a resistência assume importância ainda maior, pois muitas das recomendações citadas acima não podem ser adotadas devido as características da cultura, do reduzido número de moléculas registradas para o setor e/ou devido ao sistema de cultivo, como é o caso da produção integrada de frutas (PIF), que restringe o número de moléculas herbicidas possíveis de serem usadas.

A resistência é um fenômeno natural, que surge devido ao uso incorreto dos herbicidas e no caso de pomares a prevenção e o manejo são difíceis. Entretanto, somente com a união de produtores, da pesquisa e das empresas de agroquímicos o problema poderá ser superado. A disponibilização de moléculas herbicidas alternativas para a fruticultura é fundamental para o estabelecimento de estratégias de manejo e prevenção da resistência.
 
*Pesquisador da EMBRAPA Trigo

 

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