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O desafio do uso da água na cidade e no campo

Se o manejo é bem feito é possível aumentar a produtividade da lavoura consumindo menos água


O Dia Mundial da Água acende um alerta. Pela primeira vez na história, o Distrito Federal enfrenta um racionamento de água. A medida impacta tanto a população urbana quanto a rural. Para os agricultores familiares da região, o recado é direto: é preciso economizar água durante este período de redução do consumo. Dentre as ações recomendadas estão o manejo de irrigação, convertendo o sistema convencional para sistemas poupadores de água, a construção de bacias de retenção e a implantação de terraços.

O coordenador da área de gestão ambiental da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), Sumar Ganem, afirma que se o manejo é bem feito é possível aumentar a produtividade da lavoura consumindo menos água, evitando o excesso de irrigação. Ele conta que há casos onde já foi possível reduzir o consumo mensal de 30hs/mês para 7hs/mês de irrigação sem prejudicar a cultura. “Existem sistemas poupadores de água. Se trabalharmos a substituição gradativa por sistemas de irrigação localizada, atentando para quando, como e o quanto irrigar, o produtor pode alcançar êxito na melhoria e eficiência da irrigação”, explica Ganem.

Para contribuir com o enfrentamento da crise, a Embrapa recentemente ofereceu um treinamento a 25 técnicos da Emater-DF e também da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF). A capacitação aconteceu a partir de um trabalho de campo realizado em Brazlândia, na Bacia do Descoberto, com 40 minicursos planejados para atender os produtores rurais. 

Extensionistas da Emater e técnicos da Seagri foram capacitados sobre temas como estratégias e fatores que determinam o manejo de irrigação; requerimento de água pelas culturas; avaliação de desempenho de sistemas de irrigação; além de softwares e aplicativos que monitoram o uso da água na atividade rural no Distrito Federal e Entorno.

Essa iniciativa faz parte do plano de ação elaborado pelo Governo de Brasília, com medidas na área rural para a Bacia Hidrográfica do Alto Rio Descoberto, que representa cerca de 7,4 mil postos de trabalho, sendo responsável por 2,7 mil estabelecimentos rurais e 2,5 mil hectares de hortaliças e frutas por ano, o que representa 40% da produção do DF. Clique aqui para saber mais sobre estratégias da Seagri para orientar e apoiar os agricultores na adequação da atividade agropecuária durante o período do racionamento.

Conservar o Cerrado para manter a água

Para o superintendente do Centro de Excelência do Cerrado - Cerratenses, Rafael Poubel, a regularização de terras de algumas áreas contribui para a degradação ambiental, o que favorece a crise hídrica. Ele conta que com os desmatamentos que vem ocorrendo, cerca de 50% do cerrado já está degradado, índice mais elevado que o da própria floresta amazônica.

“Criamos um projeto chamado Recupera Cerrado justamente para tratar da recuperação dos principais mananciais hídricos do DF e estamos estudando novas técnicas de recuperação das áreas de preservação. O interesse com a preservação precisa ser maior que o interesse econômico. Sem o cerrado não teremos água”, explica Poubel.

O projeto foi lançado em 2016 e está ligado à Aliança Cerrado em parceria com mais 55 instituições, formando uma aliança com o foco na conservação e recuperação do bioma. De acordo com o superintendente do Cerratenses, com o fechamento do plano e do mapeamento das áreas prioritárias para preservação em andamento, o próximo passo será lançar o edital que irá financiar a recuperação do cerrado no DF. A abertura está prevista para o primeiro trimestre deste ano.

O secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, André Lima, concorda que a questão da expansão da ocupação do território de Brasília tem contribuído para a crise. “Nos últimos 30 anos, o território vem sendo ocupado de forma desordenada, em cima de nascentes e áreas de mananciais sem nenhum controle, causando esse impacto na disponibilidade hídrica”, explica Lima.
Segundo ele, há três anos tem chovido, em média, a metade do que choveu nos últimos dez anos. “Considerando o crescimento populacional, a expansão do uso do solo e os baixos investimentos feitos nos últimos 20 anos para aumentar a captação de água, o que vivemos hoje é a consequência disso”, declara. 

Ele explica ainda que esse impacto atinge não só a agricultura familiar, mas o setor agrícola como um todo, uma vez que para abastecer a cidade é preciso reduzir a disponibilidade de água para a irrigação. “Um exemplo disso é a Bacia do Descoberto, que reduziu em 50% a disponibilidade de água para os irrigantes, hoje com quase mil pequenas e médias propriedades no DF e Entorno, impactando também a produção agrícola”, enfatiza o secretário.

De acordo com o presidente da Fundação Mais Cerrado, Bruno Melo, além da racionalização, a conscientização da preservação ambiental também é fundamental. Segundo ele, no DF, a crise hídrica envolve em 20% questões sobre grilagem de terras e os outros 80% tem relação com desmatamentos. “Nossa biodiversidade é riquíssima e por isso precisamos nos voltar para a preservação do meio ambiente. É importante que a infraestrutura das atividades do campo esteja em harmonia com a conservação e o uso sustentável do Cerrado”, enfatiza Melo.


Dia Mundial da Água: conscientização e preservação

Hoje (22) é celebrado o Dia Mundial da Água. A data, estabelecida em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), visa a ampliação da discussão sobre esse recurso natural fundamental à vida. Para conscientizar a sociedade sobre a importância da água e sua preservação e sustentabilidade ambiental, em 2018, o Brasil recebe a 8ª edição do Fórum Mundial da Água, maior evento global sobre o tema. O fórum será realizado em Brasília, entre os dias 18 a 23 de março, e tem como objetivo contribuir para o diálogo do processo decisório sobre o tema água, visando o uso racional e sustentável desse recurso.

À frente da organização do Fórum está o Conselho Mundial da Água, uma organização internacional que reúne interessados no assunto com a missão de promover conscientização, construir compromissos políticos e provocar ações em temas críticos relacionados à água para facilitar a sua conservação, proteção, desenvolvimento, planejamento, gestão e uso eficiente, em todas as dimensões.


Saiba mais sobre o tema acessando:
8º Fórum Mundial da Água
Projeto Recupera Cerrado 
Fundação Mais Cerrado

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