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Carne fraca e o mercado mundial


Argemiro Luís Brum

O escândalo da carne no Brasil, por mais que o governo e determinadas entidades tentem relativizar, traz enorme desgaste ao comércio brasileiro de carnes. Nosso país, durante décadas construiu, passo a passo, uma sólida cadeia produtiva no setor cárneo, especialmente em frango e suíno. O resultado deste trabalho nos remeteu à liderança mundial na exportação destes produtos. Em 2016 o Brasil consolidou o segundo lugar mundial na exportação de carne bovina, com mais de 2,0 milhões de toneladas entre produto “in natura” e industrializado. No mesmo ano, nossas exportações totais de carne de frango atingiram a 4,4 milhões de toneladas, fixando o país como líder mundial nesse segmento. Enfim, as exportações de carne suína somaram cerca de 670.000 toneladas, nos colocando como quarto exportador mundial do produto. Ora, a concorrência mundial no mercado das carnes é acirrada. A ponto de os países se policiarem em torno dos procedimentos sanitários utilizados, em busca de falhas dos outros, visando abrir mercado para seus próprios produtos. Assim, além das tarifas aduaneiras, contingenciamentos, subsídios e outras atitudes protecionistas de política comercial, igualmente é comum o uso de barreiras sanitárias, mesmo que elas não encontrem justificativas. A Organização Mundial do Comércio (OMC) constantemente é acionada para regular conflitos internacionais nesta área, encontrando enormes dificuldades para impor suas regras perante os interesses dos grandes players destas cadeias cárneas. O Brasil, ao fraudar a industrialização de carnes, onde a corrupção de agentes públicos novamente se fez presente, acaba de dar motivos para que o mercado internacional, tão competitivo, feche suas portas. Mesmo que o crime venha a ficar circunscrito a pequenos volumes e locais, não se pode ignorar que o mesmo foi feito em grandes plantas frigoríficas nacionais (além de outras menores), que nossos serviços de vigilância sanitária apresentam falhas, e que o governo federal, tentando apagar o “incêndio”, procurou menosprezar o fato ao invés de atacá-lo com a seriedade exigida. Ou seja, já não precisamos que nossos concorrentes criem barreiras aos nossos produtos. Nós mesmos nos encarregamos de lhes dar motivos cabais para assim agirem. E o mais preocupante nisso tudo é que muitos preferem culpar a Polícia Federal, que descobriu o problema, após longos meses de investigação, ao invés de atacar os malfeitores. O fato é que o custo econômico, no Brasil, pode ser grande, pois o estrago está feito. Tanto é verdade que um grande número de países fechou temporariamente suas fronteiras ao produto brasileiro. É incrível, mas ainda não aprendemos que a irresponsabilidade custa caro, sendo um dos motivos do subdesenvolvimento.

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