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Recessão e perspectivas


Argemiro Luís Brum

O PIB de 2016 (-3,6%) confirma que o Brasil vive a pior recessão de sua história. No acumulado de dois anos (2015 e 2016) nosso PIB é negativo em 7,2%, superando o ocorrido em 1930/1931. Por mais que o ministro da Fazenda diga que isso é o passado, o fato é que sair de tal crise não será fácil. Em primeiro lugar porque o processo de recuperação do país será lento. Crescer 0,5% neste ano, como o projetado, é nada diante do tombo que a economia sofreu nos últimos dois anos. O máximo que se poderá dizer é que “parou de cair”. Ou seja, o fundo do poço foi alcançado. A questão, então, passa a ser “quanto tempo ficaremos no fundo”. Em segundo lugar, se é verdade que a inflação vem baixando rapidamente, possibilitando uma redução mais acentuada do juro básico, um dos remédios de curto prazo para a recuperação econômica, também é verdade que tal situação se deve a paralisia do consumo pelo alto endividamento e inadimplência das famílias. Aliás, em 2016 o consumo das famílias recuou 4,2%, superando os 3,9% do ano anterior. Além disso, segundo recente pesquisa, 60% das empresas brasileiras apresentam inadimplência. Ora, recuperar o consumo é um dos instrumentos necessários, porém, a questão é criar as condições para um movimento sustentável. A liberação da recente verba do FGTS pouco resolve, pois ela logo termina e o estado de crise das famílias continuará, pois seu endividamento e inadimplência são muito elevados. Em segundo lugar, necessário se faz investimentos que alavanquem nossa produtividade do trabalho e do capital. Ora, a taxa de investimento em 2016 recuou assustadores 10,2%, após um tombo de 13,9% um ano antes. Ou seja, em dois anos o investimento acumula um recuo ao redor de 24%. Isso não se recupera facilmente! Em terceiro lugar, o PIB do quarto trimestre de 2016 veio pior do que o esperado (-0,9%), sugerindo que o primeiro semestre de 2017, pelo menos, ainda será de grandes dificuldades (como está sendo). Em quarto lugar, a expectativa de uma recuperação industrial é bem-vinda, porém, é bom lembrar que no Brasil de hoje a indústria pesa somente 20% no PIB nacional, contra 73% do setor de serviços (cf. FGV). Enfim, a recuperação da economia depende das reformas estruturais, a partir da aprovação da PEC dos gastos públicos. Tais reformas, por enquanto, apresentam um futuro incerto em um país em que o setor político está envolto em suspeição constante e fragilizado. Portanto, superar o custo deste desastre histórico não será fácil e exigirá muito trabalho de todos. O desafio é termos fôlego para superarmos este longo período de transição que, parece, está se iniciando, evitando novas derrapagens no percurso. 

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