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Transgênicos: ignorância ou preconceito?


Amélio Dall’Agnol
Mais de 180 milhões de hectares (Mha) são cultivados com lavouras transgênicas, mundo afora. A soja é a mais transgênica das culturas, seguida pelo milho, depois o algodão. Os Estados Unidos (EUA), Brasil e Argentina, pela ordem, são os países com as maiores áreas cultivadas com plantas transgênicas.
Os primeiros cultivos transgênicos surgiram na década de 1990, nos EUA. Diferentemente do que usualmente tem acontecido com avaliações de remédios e agrotóxicos, foi nos EUA onde começou a produção e o consumo dos primeiros alimentos modificados geneticamente, o que indica a segurança dos EUA sobre a inocuidade dos cultivos transgênicos para humanos, animais e meio ambiente.
No entanto, ainda temos resistência de parte de muitos cidadãos – europeus, em especial – sobre o consumo desses produtos, como se ainda fosse possível consumir carnes, óleos ou farelos livres de moléculas transgênicas. 
A bem da verdade, até a presente data, esses cultivos trouxeram benefícios ao ambiente e nenhum risco à saúde de humanos e animais. E mais, além dos benefícios ambientais decorrentes da menor necessidade de aplicação de defensivos, eles incrementaram os ganhos financeiros do agricultor e facilitaram as tarefas de controlar as pragas, doenças e invasoras nos campos de produção.
Eventualmente, produtividades maiores de lavouras cultivadas com variedades transgênicas comparadas às convencionais podem ocorrer, não pela transgenia, mas pela combinação exitosa de outros genes não transgênicos presentes no DNA da planta. As modificações genéticas introduzidas nas plantas transgênicas tiveram o objetivo de conferir-lhes resistência aos agrotóxicos e não ao aumento da produtividade, que pode até acontecer pelo efeito indireto desses controles. 
Quando dos primeiros plantios clandestinos de soja transgênica no estado do Rio Grande do Sul (início dos anos 2000), utilizando sementes transgênicas contrabandeadas da Argentina (soja maradona), houve a percepção entre os produtores gaúchos de que as maradonas produziam mais, embora elas fossem comprovadamente inferiores geneticamente, às variedades comerciais recomendadas para o Estado. Elas efetivamente produziam mais, não por serem transgênicas, mas porque essa condição lhes conferia total controle das invasoras, muito presentes nas lavouras dos gaúchos. 
O temor pelo consumo de alimentos transgênicos não se justifica mais, embora esse temor por parte de alguns cidadãos possa ser explicado pelo fato de que a engenharia genética utilizada no desenvolvimento de um produto transgênico, tanto pode gerar um remédio que cura, quanto um veneno que mata. Esse risco, no entanto, é contornado pelo rigor imposto aos cientistas na fase de desenvolvimento do produto na fase de laboratório, quanto na fase de testes a campo. Eventuais produtos indesejados são identificados e descartados antes de sua aprovação para produção comercial. 
A Academia de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos divulgou dia 17 de Maio último, relatório em que afirma que os transgênicos são seguros para alimentação humana, animal e para o meio ambiente. A instituição reúne cientistas prestigiados e, desde 1863, serve de conselheira para as decisões do governo norte-americano. Para compor o relatório, o comitê de pesquisadores examinou mais de mil publicações acadêmicas sobre organismos geneticamente modificados, ouviu mais de 80 manifestações em audiências públicas e seminários e analisou mais de 700 comentários enviados pela população. O texto afirma que os especialistas não encontraram diferenças que apontem para um maior risco dos alimentos transgênicos quando comparados aos convencionais.
Rejeitar os transgênicos, seria medo dos riscos, ignorância ou preconceito?!

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