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Preconceito racial: um mal a ser combatido


Edivan Júnior Pommerening
          Nos últimos meses diversos casos de racismo “pipocaram” na mídia, com destaque a famosos, a exemplo de Maju, Preta Gil, Glória Maria, Seu Jorge, Lázaro Ramos e Taís Araújo, que estão mais visíveis aos nossos olhos, embora saibamos que, guardadas as proporções, isso ainda acontece em todo mundo e a maioria dos casos permanecerá cegada, emudecida e ensurdecida para sempre. “Ainda acontece”, pois em pleno século XXI isso já deveria ter sido abolido da sociedade, vez que sempre se apostaram muitas fichas no tempo como catalisador da evolução cultural. Neste lapso, a humanidade já teve mais tempo do que o suficiente para superá-lo, ainda que a pergunta mais adequada fosse: por que ele surgiu?

          Certa manhã Zezinho levava sua filha à escola, em Chapecó/SC, quando passou por eles um haitiano. Aliás, os haitianos já são numerosos na cidade. Segundo dados da Associação dos Haitianos de Chapecó, em maio de 2015 já somavam entre 2 mil e 2,5 mil pessoas na região. O rapaz usava o cabelo no estilo “rastafári”, o que chamou a atenção da menina. A atenção foi chamada não por preconceito, afinal, em sua tenra idade, ainda não domina as minúcias desse “conceito”. No futuro dominará, mas entender não significa praticar. O que chamou sua atenção foi o corte de cabelo menos “usual” em relação àqueles que ela vê no seu cotidiano, o que é normal para uma criança que curiosamente está descobrindo o mundo.
          Nisso passou uma senhora de meia idade que, percebendo a reação da menina, exclamou: - Bicho! Bicho! A mulher rapidamente distanciou-se do local, anulando a possibilidade de Zezinho ter uma conversa franca com ela. O haitiano reparou o fato, mas talvez pela dificuldade da língua não tenha se dado conta da sua gravidade, e seguiu seu caminho, ou já tenha sido tão hostilizado racialmente que pensou: - Deixa prá lá, é só mais um. A mulher, por sua vez, interpretou erroneamente a curiosidade da menina e utilizou-a para descarregar seu malévolo preconceito. Por fim, a menina não entendeu o que aquela mulher quis dizer com a expressão “bicho”. Por sorte um caso pontual, pois Chapecó tem sido hospitaleira para com os imigrantes.
          Há quem trate indiscriminadamente as pessoas de cor negra como inidôneas, como se todas as pessoas de cor branca fossem idôneas (?). “Inidôneo”, por sinal, um termo brando perto dos que de fato são utilizados. Afora as piadinhas de mau gosto, contadas no palco da brincadeira, mas sob as cortinas da intencionalidade. Se fosse possível medir a idoneidade pessoal, talvez restasse comprovado que os negros são tão idôneos quanto os brancos. Mas é uma medida complicada, pois se trata de conduta originada das estranhas humanas, que nem sempre transparece. Sem falar que os negros tornaram-se sacrifícios do “colonialismo” (ou seria “extrativismo”?) europeu, donde tiveram suas culturas usurpadas e seus corpos escravizados.

          Em todo esse contexto entra o papel da família. Os pais precisam extirpar das crianças a ideia de preconceito por questões raciais ou qualquer outro motivo. Tal “procedimento” deve ser realizado nos primeiros anos de vida dos pequenos, pois, segundo os especialistas, e nessa fase que sua personalidade está sendo formada. Possivelmente aquela mulher não tenha sido submetida a tal procedimento e acabou se tornando uma “vítima do sistema”. Sabe-se que na vida nada é absoluto, tudo é relativo, mas, quando bem espelhadas pelos pais, as crianças adquirem certa blindagem perante as más influências da sociedade. Assim, quando conscientes, verão a cor da pele humana como um simples “capricho da natureza”.

Para refletir: “Você pode fechar os seus olhos para as coisas que você não quer ver, mas não pode fechar o seu coração para as coisas que não quer sentir.” (William Shakespeare)

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