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Pivôs de irrigação estão bebendo a água do povo de Brasília


Climaco Cezar de Souza
Por Climaco Souza
 
Quem mora em Brasília, Entorno de Brasília e região está achando muito estranho este racionamento de água para o povo local e em plenos meses de janeiro/fevereiro e talvez até abril de 2017, isto é, no final da estação de chuvas que nunca foram tantas e tão freqüentes na Região, como ocorre desde o dia 22 de setembro de 2016 (embora os órgãos locais citem o contrario).

Obviamente, tal situação atual em Brasília diverge muito da situação anterior ocorrida na cidade de São Paulo e periferias, até porque Sampa ainda não é circundada por grandes áreas agrícolas ou pecuárias.
No DF, em quase todos os dias choveu, e muito, sobretudo no final das tardes de outubro a dezembro e em todas as satélites e cidades vizinhas do entorno.  Só de janeiro até o momento reduziu um pouco no DF, mas não tanto no norte e oeste de GO, boa parte abastecedoras dos sistemas “Corumbá” e “Serra da Mesa”.

“Per aí”, mas então para onde estão indo tantas chuvas e tanta água?

As respostas vão desde simples questões até a uma grande proteção, visível e comprovável facilmente (quando se queira) dos grandes culpados reais: os centenas de grande irrigantes com tecnologias ultrapassadas, desreguladas e que não são fiscalizados nem impedidos nem multados pelos órgãos ambientais de qualquer tipo, sejam Federais ou Estaduais (no caso de Brasília, Distritais). Tudo ocorre de forma muito sigilosa e totalmente já blindada para o povo e imprensa, como se nada estivesse ocorrendo de anormal.

Logicamente, irão dizer rapidamente que sou contra agricultura irrigada e contra a área rural e contra o desenvolvimento e geração de empregos, mas, por outro lado, verão aqui neste mesmo site diversos artigos anteriores meus em que prego a substituição imediata de sistemas ultrapassados de irrigação, via pivô central e outros, por sistemas bem mais modernos e eficientes (ainda familiares em sua maior porte) e justos para todos, como gotejamento, micro-gotejamento, “mulching” e até a hidroponia, tudo em estufas e estufins (ou seja, com bem menos pragas e doenças; bem menor consumo de água e até produzindo alimentos fundamentais para o controle diário da inflação).

Como já ocorre na região de Araguari, Uberlândia e Alto Paranaíba, todas em MG, e em outros Estados, os atuais pivôs altamente gastadores de água já foram substituídos empresarialmente por micro-gotejamento e outras formas e até em estufas de grande porte (até 6 metros de altura com tomate envarado). Basta que os órgãos ambientais e seus Governos assim, realmente, apurem e exijam. Não há cultivos - exceto grãos, cana e sementes -  que não possam ser conduzidos desta forma bem mais moderna e mais justa para todos.
Vide acerca em:
http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/empresa-de-araguari-se-destaca-e-produz-18-t-de-tomate-gourmet-por-dia/

Também, em meu artigo de 13/09/2016 neste mesmo Agrolink, destaquei que “Nossa Agricultura e Cidades são pouco Sustentáveis”, pois, infelizmente, ainda muitos produtores de grãos e pecuaristas usam os solos locais – em nome das altas produtividades com altíssimas tecnologias (incentivados totalmente pelos Governos e indústrias multinacionais fornecedoras) - até que esgotem os solos e as águas locais e depois migram para outras áreas da nova fronteira e para fazer o mesmo. Com isto a área total degradada do país já chega a 172 milhões de hectares segundo alguns autores, ou seja, horrivelmente mais que o dobro da área total cultivada de 80 milhões de hectares (todos os grãos mais cultivos permanentes, cana-de-açúcar, frutas, legumes e florestas). Pior é que nada se faz para deter isto.

“A meu ver isto nunca foi e nunca será agricultura”.

Vide o artigo completo em:  
“http://www.agrolink.com.br/colunistas/ColunaDetalhe.aspx?CodColuna=7278
Já em meu outro artigo de 29/07/2016 sobre a falta de feijão e a disparada dos preços em plena safra de 2016, informei que na macrorregião dos cerrados havia cerca de 4.000 pivôs irrigando em 2006 (ultimo Censo agrícola do IBGE), mas, a EMBRAPA citou que, em 2013, já havia quase 18 mil pivôs para irrigação em todo o País e com área média de 50 hectares. Entre os principais Estados, MG tinha 5.573; SP com 3.528; GO com 2.872; BA com 2.792 pivôs e RS com 1.111 pivôs. 

Vide http://www.agrolink.com.br/colunistas/ColunaDetalhe.aspx?CodColuna=7237

Vide também o excelente diagnostico da EMBRAPA com mapa de irrigação por pivôs em cada Estado em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1008950/1/bol106.pdf .

Neste trabalho da EMBRAPA que, já em 2013, somente na área real do DF havia 218 pivôs irrigando 13,2 mil hectares, mas, a maior parte da irrigação que usa as águas que viriam – não mais vêem - para abastecer as barragens para uso humano do DF está no Entorno do DF, isto é, já em GO (este com incríveis 2.872 pivôs e irrigando impressionantes 210,7 mil hectares em 2013). 

Pior, é que de 2013 a 2016, a irrigação por pivôs ampliou muito na região (só em Cristalina e Luziânia há umas 7 grandes agroindústrias processadoras/fomentadoras, sendo umas 5 recentes e isto fora as centenas de empresas grandes produtoras de sementes de grãos e algodão etc., a maioria irrigada por pivô). Pior, é que se perguntarmos a qualquer órgão federal que atue com licenciamento ambiental ou irrigação nesta região sobre quanto e como foi este incremento, teríamos, no mínimo, umas 5 respostas totalmente divergentes acerca.

Pior, ou melhor, é que a simples mudança do sistema de irrigação por pivô central para sistemas justos de gotejamento pode reduzir o consumo de água local em 40%. Nos casos dos gotejamentos, a produtividade de alguns cultivos pode ampliar 100% e, se aliadas algumas técnicas como fertirrigação e nutrirrigação, a produtividade média obtida – segundo técnicos da NETAFIM, a empresa israelense com maior experiência Mundial em irrigação - pode ter aumento de 200% ante a irrigação por pivô.

Como os cultivos de soja, milho, algodão – a maior parte – e alguma cana não exigem irrigações por pivôs na primavera/verão (exceto quando para sementes, mas a partir de abril de cada ano) pode-se afirmar que a maioria dos cultivos ainda irrigados por pivôs no Entorno do DF (café, tomate, batata, cebola, demais horticulas, milho doce para conservas, milho pipoca e outros menores) podem perfeitamente migrar – rapidamente - para irrigações por gotejamentos e outras técnicas acima descritas, desde que realmente incentivadas (o que também seria ótimo, quase que fundamental, para combater a inflação de alimentos vez que as produtividades e processamentos, até para exportações, são bem maiores e as perdas e os riscos de cultivos bem menores, vez que também os ataques por pragas e de doenças reduzem muito).

Numa política real de combate a sede do povo no DF e Entorno (atual e, principalmente, futuro) restaria apenas a necessidade de se proibir (não diminuir ou controlar ou ordenar, pois não funciona) os cultivos de sementes de grãos irrigados, algodão e horticulas sob pivôs e isto em apenas uma pequena região do País.
Quem conhece bem Brasília e região sabe que estamos localizados em uma gigante planície e que fica dentro de um grande Planalto (o tal Planalto Central ou “Quadrado” segundo outros).

Ocorre que as diferenças de escoamentos e de produções e as dificuldades de estocagens de água são imensas e em cada local.  Todos daqui e do Entorno em Goiás sabemos que a superfície das águas que mais abastecem Brasília (Reservatório de Santa Maria com 7,7 km2 quando cheio e Descoberto com 12,6 km2) ficam bem abaixo das centenas de lagos e barragens que abastecem, preliminarmente, os pivôs.
Como explicar que após tantas chuvas nos últimos meses no Entorno DF e em áreas vizinhas do Goiás, o nível da barragem do descoberto encontra-se em 36% em 15/02/2017 ante 81% em 15/02/2016? Será que, realmente, foram bem menos chuvas, como querem insistir, ou estas águas foram desviadas por interesses particulares ou empresariais e contra a vontade do povo? 

Para tentar justificar algo, a ADASA chega a apresentar gráficos mostrando que a precipitação acumulada sobre o Reservatório do Descoberto (apenas 12,6 km2 quando cheio) reduziu bastante em 2016 e 2017 ante anos anteriores, isto como se esta precipitação apenas localizada e em cima de uma barragem - não as águas provindas das cabeceiras em GO via córregos e rios - fosse a fundamental para tal abastecimento no DF.

Pior é que até órgãos como o INMET também parece que tentam acobertar as severas falhas das irrigações protegidas, dizendo que as chuvas no DF estão sendo bem menores em 2017 do que 2016 - o que toda a população sabe que pode não ser verdade e que pode haver sérios erros nas avaliações e coletas. Para o INMET o acumulado de chuvas no DF, em janeiro/2017, também ficou abaixo do esperado. Os valores de referência do mês para o INMET são de 247 milímetros. Mas os registros ficaram em 145 milímetros, o que corresponde a cerca de 58% da média. 

Ora|: quem mora em Brasília sabe muito bem que os reservatórios do Descoberto, de Santa Maria e do Riacho Fundo ficam exatamente na divisa, ou próximas, do Estado de Goiás (o que realmente nos interessa). Assim, na pratica, qualquer chuva ocorrida, ou não no DF, somente abastecerá realmente um pouco do reservatório do Paranoá e ainda não é utilizado para abastecimento (até porque voltou a ser contaminado). Assim, a maior parte das chuvas que ocorrem do DF, simplesmente, escorrem rapidamente para os riachos locais mais para os rios descritos a seguir - que levam até o sul de MG e GO mais São Paulo e ao sul do País - e pouco servem para abastecer a população. Pior é que estes órgãos sabem destas verdades acima, mas...

Assim, se já não temos água suficiente agora em fevereiro de 2017, a partir de abril até o final de setembro pouco ou nada teremos, pois os pivôs (que agora estão enchendo suas “barrigas”, isto é, seus lagos e barragens acima para uso de abril a setembro) jogarão tudo para fora no solo para evaporar ou infiltrar rapidamente (assim, com pouca utilidade real na planta ou na sua raiz) e na entressafra e para faturar milhões, enquanto o povo passa sede, até fome e ainda tem que pagar bem mais por isto (bancando ineficiências empresariais/agricolas e/ou até governamentais).

Quem veio de avião, recente, para Brasília a partir do leste, sudeste e sul do País se surpreendeu com as centenas de áreas gigantes dos pivôs com terras sendo preparadas para cultivos seqüentes a partir de abril e com suas imensas áreas de barragens e lagos já enchendo suas “barrigas” de água baratas ou gratuitas.
Também se surpreende muito com a pobreza de água do Lago gigante de “Três Marias” (outra grande sofredora, calada, e pouco apoiada e divulgada pelas ONGs ditas protetoras do Rio São Francisco que faturam para tanto, e que mostra suas praias para todos, mesmo num ano de muitas e seqüentes chuvas regionais como a atual.

Para onde estão indo ou ficaram as águas que deveriam abastecer “Três Marias”, provavelmente, já reduzida para “Duas Marias” pela sede de uma delas).

“A meu humilde ver isto nunca foi e nunca será agricultura”.

Melhor para as populações de outros Estados, sobretudo São Paulo e sul de MG e de GO, é que a maioria das chuvas que ocorrem em Brasília e Entorno do DF e que deveriam passar e estocar nossos reservatórios, destinam-se rapidamente ao sul do País, via rios Preto, São Bartolomeu, Corumbá e São Marcos – vizinhos e escoadores rápidos do GDF e Entorno – e, depois, Paranaíba e Paraná. 

Afinal, trata-se de uma crise real de falta de água para todos ou de um grande, silencioso e complacente CRIME AMBIENTAL CONTINUADO?

Parece que a OAB Brasília até que tentou mover ação acerca, demonstrando que o grave erro de abastecimento atual é por inépcia e/ou má gestão governamental (todos), mas, parece que ela foi imediatamente calada, sufocada, provavelmente, pelos órgãos dos governantes e tudo para blindar a, b, c, d, e ou f, grupos compradores/fomentadores e seus irrigantes desastrados.
No DF, este assunto é tabu para muitos, sobretudo para os políticos poderosos que dependem de votos agrícolas e do interior.

Deste jeito nem as futuras obras (Corumbá IV, Bananal e possível captação do Paranoá), prometidas há anos mas ainda paradas, resolverão o problema de abastecimento com água no DF e Entorno. De nada adiantará gastar muitos recursos - que poderiam ir para a Educação, Saúde e Segurança (sabida e recorrentemente altamente deficitárias no DF) e ampliar a quantidade de reservatórios se o problema real continua sem solução e, talvez, até por medo. As ampliações acima apenas servirão de base técnica e legal para que se possa ampliar ainda mais a quantidade de pivôs irregulares em operação no DF, Entorno e em GO.
Assim, a crise hídrica atual é um grave problema que vem se espalhando pelo Brasil e pouco, muito pouco, se faz, realmente, para combatê-la, sobretudo previamente.

Ela não decorre apenas da intensa migração para as grandes cidades, boa parte atrás de empregos e de estudos pretensamente melhores, mas de um modelo de irrigação e de mecanização perverso, descontrolado e não fiscalizado e ainda adotado/incentivado na maior parte do País, inclusive mais recente na AF. Aqui, sim, é que as modernas tecnologias de Israel, Espanha, Holanda, Japão e outros deveriam ser e dar o exemplo. Também faltam incentivos reais para as AF destas regiões problemáticas se auto-sustentarem e implantarem bem mais estufas, estufins e modelos de irrigações mais eficientes e ainda de bem mais Escolas agrícolas reais (que não expulsam os alunos e seus pais para as cidades) como as do Sistema “Casa Familiar Rural”, estas mais no Sul do país.

Em Brasília, os órgãos e entidades ambientais também parece que batem a cabeça atrás de respostas para a atual dita crise hídrica total, mas com falta de água real apenas para o povo, mas que eles deveriam dar explicações.

ONGs e órgãos ambientais poderosos do DF ou com escritório aqui (WWF, Greenpeace, ICM-Bio, ASFLONA, ECOBRASILIA, PROAM e outros) parece que estão mudos e surdos por alguns motivos, embora tentem dizer o contrário, e, parece que, numa situação bem diferente do que quando querem arrecadar.
 
Órgãos federais responsáveis (ANA, IBAMA, Ministério da Agricultura, Ministério da Integração nacional e outros) parece que nada fazem e, possivelmente, até fingem que não é com eles ou citam que não tem recursos nem equipamentos suficientes para fiscalizar e quiçá punir (talvez sempre protegendo agricultores ineficientes, mas com muitos votos). Na verdade, as respostas estão sempre prontas e decoradas, como nos marketing e respostas vergonhosas e apenas marqueteiras de diversos órgãos públicos, sobretudo de Segurança Pública.

Já órgãos Distritais (ADASA, CAESB, Secretaria de Agricultura, IBRAM. SEMARH-DF, SEGETH etc..) parece que também batem a cabeça “entre si”, tentando se desculpar e vendendo eficiências que tudo indica que não têm, infelizmente.

A Imprensa local tenta acompanhar, mas, possivelmente, escrevendo até algumas besteiras e sobre assuntos que nada conhece ou não querem conhecer, isto é, parece que preferem copiar informações errôneas ou de outros órgãos e/ou tentam ouvir a opinião de alguns professores de universidades (SIC), a maior parte, ......, infelizmente.

Pior é que alguns órgãos distritais mais as empresas compradoras/fomentadoras mais entidades dos agricultores e mesmo parte da imprensa chegam a ter a ousadia de dizer que a culpa pela falta de água é dos consumidores e não dos agricultores irrigantes lambões, ilegais e defasados tecnicamente (com técnicas atrasadas, mas ainda incentivados pelos órgãos do GDF mais Federais e institucionais).

De qualquer forma, respostas para cinco perguntas a seguir podem ser fundamentais neste momento crucial, até porque a mesma crise de possíveis falta de vergonha ou de decências tendem a se estender para outros municípios e regiões:

- Porque as barragens de contenção para abastecimento humano estão vazias agora em plena safra de chuvas na região e após tantas chuvas, quase que diárias, ocorridas em toda a superfície do DF e de áreas vizinhas de GO desde setembro de 2016?
- O que será do abastecimento humano do DF entre abril e setembro de 2017, período que mínguam as águas das chuvas e ampliam as irrigações descontroladas e não fiscalizadas no DF e em toda a região, inclusive no Entorno do DF e outras áreas vizinhas em GO onde nascem os córregos e rios que, realmente, abastecem os reservatórios do DF? 
- Quem são os verdadeiros culpados pela crise atual da água para bebida humana no DF?
- O que os órgãos (Federais e Distritais), as ONGs e a imprensa já fizeram, de forma real, objetiva e para resultados, pelo menos para denunciar e atuar localmente para fiscalizar, denunciar e reduzir os problemas nos últimos 3 anos?
- O que e como pretendem fazer para impedir (não apenas reduzir) o uso de pivôs centrais nas irrigações do DF mais do Entorno?
- O que os órgãos (Federais e Distritais), as Empresas, as ONGs, Entidades Agricolas, Empresas compradoras/processadoras/fomentadoras e a Imprensa pretendem fazer para, realmente (não venham com embromações e ações de marketing falso), incentivarem formas alternativas de irrigação e de cultivos com menores riscos (gotejamentos, plasticultura, “mulching”, hidroponia, estufas, estufins etc..) para que não mais sejam roubadas as águas futuras para abastecimento humano no DF?

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