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Os brics e a perda de protagonismo


Argemiro Luís Brum
Houve um tempo em que o mundo imaginou poder contar com um grupo de países emergentes que poderiam despontar como uma outra locomotiva a puxar a economia internacional. Lord Jim O´Neill cunhou o acrônimo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que se somou ao grupo em 2011) para designar tal grupo. As medíocres performances econômicas do Brasil e da Rússia, e a pouca presença sul-africana, tornam, hoje, o conceito completamente ultrapassado. Aliás, no tempo, os Brics nunca conseguiram se organizar como grupo de influência mundial. Na prática, cada país busca defender seus interesses individuais, e suas ações são tímidas em relação ao seu potencial. A tal ponto que O´Neill já deixou entender que, se tivesse que refazer o conceito, talvez a única letra que ficasse seria o C de China. E mesmo assim, os problemas do país asiático, a começar pela forte elevação de sua dívida privada, deixa os mercados “de coração na mão”. Mesmo a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelos cinco países em 2015, não provoca entusiasmo. Para a maioria dos analistas internacionais o mesmo não passa de um símbolo. Raros são aqueles que acreditam que este banco venha a obter o Triplo A, no médio prazo, das agências de risco, condição indispensável para captar dinheiro no mercado a taxas vantajosas. Assim, os Brics estão longe de realmente fazer um contrapeso ao Ocidente desenvolvido. Com isso, a crise mundial de 2007/08 acabou não gerando um novo equilíbrio mundial, onde os emergentes assumiriam um papel de destaque. A crise econômica no interior de cada um de seus membros, exceção feita à Índia no momento (apesar de dois anos seguidos de crescimento acima de 7%, este país registra pontos fracos como a baixa taxa de investimentos e um déficit recorrente em sua balança de pagamentos correntes), acabou por anular qualquer expectativa nesse sentido. E o mundo vê que ainda depende das tradicionais locomotivas, como os EUA e a União Europeia, mesmo que a China ainda “corra por fora” nessa busca pela liderança mundial. No caso específico do Brasil, a recessão econômica que caminha para três anos, associada a uma dívida pública federal que já soma R$ 3,05 trilhões (quase um trilhão de dólares), e em crescimento; um déficit primário que atinge R$ 190,6 bilhões nos 12 meses encerrados em setembro passado (a meta é um déficit de R$ 170,5 bilhões para 2016); e um forte recuo no poder de compra do brasileiro (-9,1% nos últimos dois anos), que voltou aos níveis de 2011, não deixa dúvidas que, se algum dia tivemos a oportunidade de um protagonismo internacional ou mesmo regional, a mesma já não existe mais. Nossa luta agora é gastarmos os próximos 10 anos trabalhando para apenas recuperarmos o terreno perdido pelas diatribes econômicas realizadas nos 10 anos anteriores.  

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