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Leitura: um ato à liberdade


Edivan Júnior Pommerening
          Andando pela rua principal da vila de Porto de Galinhas, distante 60 km ao sul de Recife, capital do estado de Pernambuco, um menino chamou-me a atenção. Sentado à beira da calçada, vestindo bermuda e camiseta, de pés descalços e com uma mochila nas costas, lia compenetradamente um livro infantil, apesar do intenso movimento de pessoas no local.

          Sob a perspectiva de facilitar o entendimento do fato, vamos dar uma volta antes de continuar a narração. O episódio aconteceu durante a 3ª edição da Festa Literária Internacional de Ipojuca (Flipo), realizada de 17 a 20 de setembro de 2015. Ipojuca é o município pernambucano onde está localizada a vila de Porto de Galinhas, que de vila só tem o nome, pois já é uma cidade.
          Pronto! Agora acredito que o contexto foi ampliado e podemos seguir adiante. Imagino que o menino tinha dez anos, talvez onze. Na noite seguinte, descobri que carregava em sua mochila materiais para preparar peças de artesanato. Pintava as paisagens locais em azulejos, com tinta guache, para vender na rua ou na praia. Detalhe: tudo aos olhos do cliente.
          Quando o vi lendo, não tive dúvidas em apanhar o celular para fotografá-lo, pois presumi que não estava lendo pela “imposição” de uma tarefa escolar, mas sim pelo gosto da leitura. Em função de um ceticismo generalizado – efeito natural da carência de leitura em nosso país – interrompi a “viagem” do menino para perguntar: - Você gosta de ler?
          Os segundos necessários para ele erguer a cabeça e identificar quem o questionara foram fustigantes para mim. Foi quando seus olhos brilharam momentos antes de sair um convincente “sim” da sua boca. Mais uma vez não tive dúvidas em pedir ao pré-adolescente que escolhesse alguns livros para que eu pudesse orgulhosamente presenteá-lo.
          O garoto passeou pelas bancas e paulatinamente escolheu cinco livros infantis de que gostava. Ao entregar os livros parabenizei-o pelo gosto pela leitura e sentenciei:  ?  Por gostar de ler, teu futuro está praticamente garantido. Ele agradeceu e com sua singeleza, seus pés descalços e sua mochila nas costas, olhou mais alguns livros antes de sumir em meio à multidão.

          Toda forma de leitura é válida. Mesmo que o livro, o jornal, a revista, etc., não tenha relação direta com a profissão que desempenhamos, continua carregada de benefícios, pois melhora nossa comunicação falada e escrita. Com este viés, a história recém contada estimula a leitura ainda na infância. Para isso basta que os pais criem esse ambiente no seio familiar.
          A leitura desenvolve a imaginação e a criatividade das crianças, além de ampliar seu vocabulário e facilitar sua aprendizagem. Quinze minutos diários de leitura na infância podem ser decisivos para a formação do caráter e o sucesso profissional do indivíduo. Já dizia Pitágoras, filósofo e matemático grego: “Eduquem os meninos e não será necessário castigar os homens.”
          É preciso encarar a leitura como necessidade e não como passatempo. “Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias.” (Mario Vargas Lhosa). Neste mote, quanto mais você lê, mais atraente fica aos olhos de quem também enxerga a cultura como um instrumento de sustentabilidade.
          A leitura é um ato à liberdade, pois diminui drasticamente as chances de sermos alienados pelo lado negro do capitalismo, no caso do Brasil, ou qualquer outro sistema político-econômico. Em complemento, nos dá poderes para discernir o que é certo e o que errado e assim mantermo-nos livres das correntes impostas pelo coronelismo e pela mídia tendenciosa.

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