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Inflação Perigosa (Final)


Argemiro Luís Brum
Seguindo o comentário passado, temos que a disparada da inflação no Brasil está, hoje, muito relacionada à recomposição dos preços administrados (combustíveis e energia elétrica). Ora, o aumento destes insumos ocorre particularmente por erro de gestão pública nos últimos cinco anos, sendo que a seca que atinge algumas regiões do país tem pouco a ver com isso, embora ajude a complicar o quadro. Assim, o aumento de até 40 centavos no litro da gasolina neste início de fevereiro se deve à reposição inercial que o mercado aproveita para fazer na medida em que o governo busca recompor os ganhos da Petrobrás, após praticamente inviabilizá-la. Já o aumento da energia elétrica, anunciado entre 37% e 66% apenas para 2015 (após os aumentos do ano passado) ocorre para reestruturar o setor elétrico já que não há mais espaço para subsídios. O grande erro de gestão foi baixar o preço da energia no grito, no início de 2013, visando as eleições de 2014, sem que tivéssemos como sustentar a demanda daí originada. O sistema quebrou e os apagões se tornaram uma realidade. Nesse contexto, não admira que a inflação oficial já estourou o teto da meta anual oficial (7,14% em janeiro, devendo subir ainda mais em fevereiro devido ao recente aumento dos combustíveis, frete, transporte em geral etc). Ao mesmo tempo, a inflação real dispara para níveis assustadores, se aproximando dos 20% anuais, corroendo o poder aquisitivo dos brasileiros e criando uma enorme instabilidade social. Para pagar as contas os cidadãos já começam a consumir suas poupanças (em janeiro/15 a poupança nacional assistiu a maior perda mensal dos últimos 20 anos, com um saldo negativo de R$ 5,53 bilhões) enquanto paralisam suas compras, estagnando o PIB brasileiro ao redor de 0% em 2014, com claras evidências de repetir esse “não crescimento” em 2015. Uma legítima estagflação, considerada o pior dos mundos para uma Nação. A solução do problema passa por reformas estruturais que lentamente o governo começa a fazer. Todavia, como as mesmas demoram para dar resultados (se bem feitas tais resultados concretos virão somente no final deste novo mandato da presidente Dilma), o governo se obriga, no curto prazo a frear a oferta de crédito (liquidez), aumentar o juro (a Selic caminha para 13% ao final do ano e ainda mais em 2016) e aceitar a continuidade da estagnação econômica, com o agravamento do desemprego. Tudo isso poderia ter sido evitado se a aventura desenvolvimentista, sem base de sustentação, não tivesse ocorrido nestes últimos cinco anos. Como não foi o caso, agora nos resta apertar o cinto e gerenciar a crise, esperando que o governo não esmoreça no conserto do estrago que ele mesmo criou.

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