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Ilusão


Argemiro Luís Brum
Não passará de ilusão a recuperação da economia brasileira em 2017 caso não ocorram o ajuste fiscal e as principais reformas estruturais de que o Brasil precisa. Isso porque, até o momento, especula-se uma recuperação em cima de expectativas e não sobre dados econômicos concretos. Por enquanto, em termos de ajuste fiscal, continuamos com muito discurso e pouca prática. O mês de agosto voltou a registrar o pior resultado em termos de déficit primário. Nos oito primeiros meses do ano o saldo negativo, apenas da área federal, bateu em R$ 71,4 bilhões, o pior desde 1997, quando se iniciou a série histórica. A projeção para o acumulado do ano é de R$ 89 bilhões, ou seja, 79% superior ao registrado em 2015. Assim, o governo terá que adotar medidas duras até o final do ano (que se aproxima rapidamente) se quiser apenas cumprir a meta de DÉFICIT primário de R$ 170,5 bilhões. O desajuste é tamanho, no contexto de uma incompetência gerencial enorme, que somente os gastos federais subiram de 10% para quase 20% do PIB nos últimos anos. Paralelamente, retrato de uma economia em forte recessão, a arrecadação da União continuou caindo. Em agosto o resultado foi o pior desde agosto de 2009, acumulando nos oito primeiros meses do ano um recuo de 7,45% em relação a igual período de 2015, já descontada a inflação. Aliás, se o governo não fizer os ajustes necessários, tomando decisões acertadas imediatamente, o país assistirá logo adiante a uma disparada inflacionária. Tal situação coloca em xeque o movimento de redução dos juros (Selic) que se espera venha a iniciar ainda neste 2016. Isso sem contar com o fato de que somente reduzir a Selic já não é mais suficiente, pois os juros de mercado (cheque especial, rotativo do cartão de crédito, pessoa física etc.) já se descolaram há muito tempo da taxa básica, subindo absurdamente nos últimos anos. E sem baixar os juros de forma consistente, dentro de um contexto de melhoria real dos fundamentos, a economia brasileira fará apenas um voo de galinha nos próximos anos. Isso porque os investimentos continuarão muito baixos para efetivamente alavancarem o PIB para patamares de 4% a 5% anuais que necessitamos. Tal realidade tende a impedir uma retomada na geração do emprego. Aliás, o desemprego tende a aumentar até meados de 2017 em termos nacionais. Recentes dados do Ministério do Trabalho apontaram que o Brasil perdeu 1,51 milhão de empregos formais em 2015, atingindo o seu pior resultado desde 1985 (31 anos). Os números levam em conta a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), bem mais ampla do que os dados do Caged regularmente informados. O número para 2016 não deverá ser melhor já que a Pnad Contínua acaba de indicar que o desemprego nacional, no trimestre encerrado em agosto/16, atingiu a 11,8%, ou seja, 12 milhões de pessoas que procuram emprego e não o encontram. Com o desemprego vem a queda na renda per capita média, a qual já estava em R$ 2.011,00 em agosto/16. A redução da renda per capita diminui o consumo e este impede que as vendas cresçam e a produção se recomponha. Portanto, façamos logo o dever de casa!  

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