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El Niño e possíveis efeitos sobre as pragas agrícolas


Instituto Phytus
O fenômeno El Niño em sua condição clássica (Canônico) é caracterizado por chuvas regulares acima do normal na região Sul do país e estiagem no Nordeste. As regiões Sudeste e Centro-Oeste acabam não sendo tão afetadas por esse fenômeno. No Sul, onde o regime pluviométrico é afetado positivamente, com um regime de chuvas acima do normal na média dos anos, a influência do fenômeno aos organismos nocivos às lavouras é maior às doenças quando em comparação às pragas (insetos e ácaros pragas).
Existe a previsão para a ocorrência do fenômeno El Niño Modoki para esta próxima safra. Esse fenômeno age diferentemente do fenômeno El Niño Canônico ou Clássico (caracterizado por chuvas regulares e acima do normal na região Sul do país e estiagem no Nordeste brasileiro), sendo caracterizado por chuvas irregulares na região Sul do país, podendo até não afetar significativamente o clima nas demais regiões. Logo, não haveria uma alteração significativa na dinâmica da ocorrência de insetos e ácaros pragas nas lavouras, quando comparado a ocorrência do El Niño Clássico, principalmente no Centro-Oeste brasileiro.
As pragas agrícolas, sejam elas insetos ou ácaros, enquadram-se em um grupo de organismos com moderada necessidade de água, suportando grandes variações de umidade no ambiente em que vivem, até mesmo a alternância que existe de estações secas e úmidas no Brasil. Um regime de chuvas acima da média pode até ser prejudicial à maioria das pragas que ocorrem na lavoura, afetando direta e/ou indiretamente alguma etapa do ciclo biológico das mesmas e até mesmo seus hábitos alimentares. Nos locais menos influenciados por esse fenômeno, as alterações na dinâmica da maioria dos organismos pragas podem ser poucas ou até mesmo nenhuma, como, por exemplo, na região Centro-Oeste, responsável pela maior parte da produção de grãos do país.
O excesso de chuvas, quando houver, pode influenciar positivamente no sentido de aumentar a ocorrência de organismos entomopatogênicos (nocivos às pragas) na lavoura. Tais organismos sejam fungos, bactérias e vírus, podem encontrar nesse ambiente condições favoráveis e contribuir para o aumento da mortalidade de insetos e ácaros pragas. Tal efeito é facilmente observado, por exemplo, em lagartas na cultura da soja que, dependendo da intensidade, podem reduzir o número de aplicações de inseticidas na lavoura. Existem organismos, como os ácaros, que podem ocorrer tanto em condições mais úmidas ou mais secas, variando apenas a família ou mais especificamente a espécie, já que alguns são favorecidos por condições mais úmidas e outros pelo inverso.
É importante observar que não é apenas a umidade e disponibilidade de água que são afetados pelos fenômenos climáticos. Em um ambiente com chuvas acima ou abaixo do normal temos a alteração de outros fatores ecológicos que não somente aqueles como a umidade, mas também, a temperatura, luz (radiação) e ventos. Todos esses fatores, dependendo da intensidade de mudança nos mesmos, podem alterar o ciclo biológico das pragas (insetos e ácaros). A temperatura, por exemplo, exerce papel fundamental na duração do ciclo de vida de insetos e ácaros, sendo que na maioria dos casos, quanto maior a temperatura (até certos limites) há uma tendência de um maior número de gerações durante um determinado período. Logo, quando se fala nas consequências que a manifestação de um fenômeno climático pode ter na ocorrência de pragas na agricultura, não podemos esquecer que não é somente a umidade ou disponibilidade de água que será alterado no ambiente, mas sim vários fatores, conforme mencionados anteriormente.
Em regiões com chuvas irregulares e aumento de temperaturas, deve-se ficar em alerta para a possibilidade de surtos de lagartas e mosca-branca (Centro-Oeste e Sudeste). A ocorrência de déficit hídrico no final do período chuvoso pode favorecer infestações de ácaros nas culturas da soja, algodão e feijão.
No que se refere às ocorrências de lagartas na cultura da soja, como as falsas-medideiras e a “recente” e temida Helicoverpa armigera, maiores problemas poderão ser observados naqueles locais com chuvas abaixo ou dentro do normal esperado para a época. Nos locais com chuvas acima da média pode-se ter influência negativa sobre essas pragas nas lavouras.
O conhecimento das características climáticas de uma determinada região e dos fenômenos climáticos que norteiam nosso clima é de fundamental importância para prevenção de pragas e doenças e, assim, reduzir os impactos negativos sobre a agricultura. Com isso, é possível a aplicação de práticas que desfavoreçam o estabelecimento e desenvolvimento de tais organismos nocivos às lavouras, quando possível.
Juliano Daniel Uebel, Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e mestrando em agronomia pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente atua como Coordenador de Entomologia da Estação Experimental do Instituto Phytus em Planaltina/DF. 
Contato: [email protected]
 
 

 

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