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Cenário atual e perspectivas de dificuldades no manejo da ferrugem asiática


Instituto Phytus
A Phakopsora pachyrhizi é um patógeno estritamente dependente de plantas hospedeiras para completar seu ciclo e acelerar sua taxa de progresso. Esta característica peculiar é fundamental para a estruturação de técnicas de manejo que visam a redução na quantidade de inóculo, principalmente no início do estabelecimento das primeiras lavouras de soja. Neste sentido, a criação e recente ampliação do vazio sanitário se vale deste conhecimento para almejar uma progressão mais lenta da doença nos plantios primeiramente estabelecidos, preservando os fungicidas.
No entanto, há situações recorrentes e somatórias acontecendo neste particular início de safra de soja no Brasil, que tem sinalizado para o estabelecimento precoce e com grande volume de inóculo do patógeno. Estas situações são de ordem operacional e climática que perfazem as necessidades de progressão acelerada da doença e deficiência no seu controle.
O primeiro indicativo se deu antes mesmo do início do plantio da soja, ainda dentro do período de vazio sanitário no cerrado e inverno no sul do país. Neste último, as plantas espontâneas de soja estiveram abrigadas pela vegetação e não foram afetadas pelas geadas, permanecendo vegetando nos arredores de lavouras e estradas. Já no cerrado, o panorama convencional de seca durante os meses do meio do ano não se manteve na grande maioria das regiões deste ecossistema. Chuvas com frequências de 30, 45 ou 50 dias foram suficientes para manter as plantas de soja fisiologicamente ativas e disponíveis à infecção e esporulação do patógeno, como já foi identificada por técnicos antes mesmo do começo da safra. Este panorama por si, já indicava que a doença poderia estabelecer mais cedo na soja brasileira, somada a grande quantidade do inóculo oriundo da Bolívia.
Além disso, situações observadas em algumas regiões produtoras de algodão no país, ajudaram a somar neste indicativo de aumento da ferrugem asiática. Com o planejamento de semeadura do algodão para o início de janeiro de 2015, grande parte dos produtores destas áreas realizaram a semeadura da soja no final do vazio sanitário [15/09]. Desta forma, alguns têm alegado que irão realizar somente uma aplicação para controle da doença, ou ainda, infelizmente, é possível que não seja feita nenhuma aplicação nestas áreas, visto que o foco está na cultura do algodão.
Esta atitude será decisiva, visto que o patógeno já está com o processo de infecção avançado e a colheita será realizada antes do final do ano, disseminando grande quantidade de esporos para o ambiente. Somado a isso, o atraso de mais de 40 dias no início dos plantios em grande parte do cerrado e algumas regiões do sul, devido a inconstância da frequência das chuvas, acaba por alavancar boa parte do ciclo da soja para uma situação de grande quantidade de doenças neste final e início de ano.
Com o atraso nas semeaduras nestas regiões, o plantio acabou sendo muito concentrado em um curto espaço de tempo, dando a dimensão que a maioria das lavouras vão se desenvolver em estádios fenológicos muito próximos. O entrave, neste ponto, será a dificuldade de logística para que as aplicações preventivas sejam realizadas no momento correto em todas as áreas, e ao mesmo tempo. Além disso, após o regime de chuvas normalizar e o volume acumulado começar a ser compensado, os momentos de entradas na área para aplicação será outro detalhe a considerar.
Com todas estas observações neste inicio de safra, temos ainda regiões com grande expectativa de cultivo de soja safrinha, como MS, PR, SC e RS, figurando entre as maiores pressões de inóculo, com ciclos do patógeno em torno de 6 a 7 dias e densa esporulação. Sob este cenário, o controle químico passa a ser mais um efeito paliativo sobre a acelerada taxa de progresso e poder desfolhador desta doença, necessitando aplicações mais cedo e sob intervalos menores.
Portanto, a consideração deste aglomerado de fatores é peculiar à esta safra que irá se desenrolar. Assim, conseguimos indicar que não há espaço para amadorismo e/ou tentativas frustradas já conhecidas pelos manejos de risco para esta doença. Ainda neste ponto, o que esta em jogo não é a lavoura individual do produtor, técnico ou agrônomo, e sim a sustentabilidade da agricultura. É fundamental mantermos a longevidade das ferramentas de controle químico para protegermos a área foliar da soja e atingirmos os almejados patamares produtivos.
Marcelo Gripa Madalosso – Engenheiro agrônomo com doutorado em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria, pesquisador da área de fitopatologia e Gerente de Pesquisa e Ensino do Instituto Phytus.
[email protected]
 

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